Os venezuelanos
estão denunciando, há meses, a existência de um plano de desestabilização do
país. Nos últimos dias, diante do acirramento das ações da oposição, tanto o
governo, quanto apoiadores da Revolução Bolivariana em toda a América Latina,
apontam a deflagração de um Golpe de Estado Suave, que consiste em deslegitimar
o governo para forçar a sua renúncia.
Vanessa Martina
Silva, para o Portal Vermelho – em Pátria Latina
A técnica para
derrubar governos de forma “suave” foi idealizada pelo cientista político e
fundador da Instituição Albert Einstein, Gene Sharp. Baseados na não violência
como ação política, a prática é utilizada há cerca de quinze anos pela CIA para
derrubar governos considerados indesejáveis pelos Estados Unidos sem provocar
indignação internacional. A práxis já foi empregada na Venezuela, em Honduras,
no Paraguai e pode ser também observada nas “revoluções coloridas” no Oriente
Médio.
O jornalista e
ativista político francês, Thierry Meyssan, em artigo publicado pela Rede
Voltaire, aponta que “quando o golpe fomentado pela CIA na Venezuela falhou em
abril de 2002, o Departamento de Estado também recorreu à Instituição Albert
Einstein. Esta aconselhou os empresários durante a organização do referendo
revogatório contra o presidente Hugo Chávez. Gene Sharp e sua equipe guiaram os
líderes da Súmate durante manifestações de agosto de 2004. Seguindo a técnica
que já se tornou clássica, estes últimos lançaram acusações de fraude eleitoral
e exigiram a saída do presidente. Eles conseguiram levar para as ruas a
burguesia de Caracas, mas o apoio popular ao governo Chávez foi demasiado forte
para permitir que ele fosse derrubado. Assim, os observadores internacionais não
puderam deixar de reconhecer a legalidade da vitória de Hugo Chávez” [1].
A ideia central de
Sharp se baseia no princípio de que todo governo se deve à obediência das
pessoas e se estas não acatarem as ordens, os líderes não terão poder. A não
violência que defende é de uma “guerra investida em outros meios” já que para
ele, “a natureza da guerra mudou no século 21. (…) Nós combatemos com armas
psicológicas, sociais, econômicas e políticas”. Em seus livros “Da ditadura à
democracia” e “A política da ação não violenta” estão descritos 198 métodos
para derrubar governos por meio de golpes suaves. Para ele a guerra “corpo a
corpo” não é eficaz porque implica enormes gastos econômicos.
Na Venezuela o
processo se dá de acordo com as seguintes etapas:
1ª etapa:
abrandamento
Desenvolvimento de
matrizes de opinião centradas em déficits reais ou potenciais; promoção de
fatores de mal estar, como desabastecimento, criminalidade, manipulação do
dólar, etc.; Denúncias de corrupção, promoção de intrigas e fratura da unidade.
Apesar dos esforços
do governo para conter a criminalidade, combater a corrupção, e ajustar a
economia — temas em que os governos chavistas não tiveram tanto êxito — e
apesar de Maduro ter convocado a oposição para o diálogo, a imprensa nacional e
internacional veicula somente informações negativas sobre a gestão Maduro.
Empresários e especuladores nacionais e internacionais seguem manipulando o
dólar e denúncias — não comprovadas — envolvendo a alta cúpula chavista foram
disseminadas, o sistema elétrico do país apresentou graves falhas que levou a
diversos apagões - o governo não descarta a ação de sabotadores -. Além disso,
há uma campanha patrocinada diretamente pelo governo dos Estados Unidos que tem
ajudado os opositores violentos com dinheiro e apoio político desde o começo,
como denunciou a jornalista e advogada venezuelano-americana, Eva Golinger. Ela
também denunciou o chamado “Plano Estratégico Venezuelano”, formulado pelos EUA
em conjunto com o ex-presidente colombiano, Álvaro Uribe, com o objetivo de
debilitar o governo nas eleições de 8 de dezembro.
2ª etapa:
deslegitimação
Manipulação do
anticomunismo; Campanhas publicitárias em defesa da liberdade de imprensa,
direitos humanos e liberdades públicas; Acusações de totalitarismo e pensamento
único.
A Sociedade
Interamericana de Imprensa (SIP) — entidade de donos de meios de comunicação —
lançou diversos comunicados dizendo que na Venezuela há censura da imprensa e
que falta segurança para o livre exercício do jornalismo, conteúdo amplamente
veiculados na imprensa internacional. Apesar de ter incorporado os programas do
chavismo a seu “plano de governo”, Henrique Capriles em seus discursos
eleitorais enfatizava o fim da ajuda da Venezuela a Cuba, à Bolívia. Em seu
discurso durante a campanha de 2012, foi enfático: “o que o socialismo do
século 21 fez por Caracas? A única coisa que o governo fez pela população foi a
construção de casas”.
3ª etapa:
esquentamento da rua
Montagem nos
conflitos e fomento da mobilização nas ruas. Elaboração de uma plataforma de
luta que globalize as demandas políticas e sociais. Geração de todo tipo de
protestos, expondo falhas e erros governamentais. Organização de manifestações,
fechamento e tomada de instituições públicas que radicalizam a confrontação.
Este é o atual
momento em que vive a Venezuela. A manipulação das informações do que ocorre no
país chegou ao Twitter. Imagens manipuladas, descontextualizadas e falsas estão
circulando por todo o mundo com supostos atos violentos da polícia bolivariana.
O líder opositor Leopoldo López convocou as pessoas a irem às ruas com a
campanha “la saída” pedindo textualmente a derrubada de Maduro por meio de um
golpe. Apesar de estar nas ruas, a oposição não tem uma plataforma clara de
reivindicações que não a queda do regime constitucionalmente eleito. Desde o
dia 12 de fevereiro, quatro pessoas já morreram vítimas de violência durante as
manifestações. O governo pediu que os casos sejam investigados e não descarta a
ação de franco-atiradores, também cogita a possibilidade de que a vida dos
opositores corre risco e que algum deles pode sofrer algum atentado para
comover a opinião pública internacional.
4ª etapa:
combinação de diversas formas de luta
Organização de
marchas e tomada de instituições emblemáticas, com o objeto de cooptá-las e
convertê-las em plataforma publicitária. Desenvolvimento de operações de guerra
psicológica e ações armadas para justificar medidas repressivas e criar um
clima de ingovernabilidade. Impulsionamento de campanha de rumores entre forças
militares e tratar de desmoralizar os organismos de segurança.
5ª etapa: fratura
institucional
Sobre a base das
ações de rua, tomada de instituições e pronunciamentos militares, obrigando a
renúncia do presidente.[2]
Este é o mesmo
processo pelo qual passaram a Geórgia, Sérvia, Líbia, Paraguai e Honduras e
pelo qual estão passando Tailândia e Síria.
Longe do que podem
imaginar alguns setores da sociedade brasileira, incentivados por analistas da
imprensa tradicional, o interesse dos Estados Unidos pela América Latina é
crescente e não descendente. A Venezuela possui uma das maiores reservas de
ouro negro do mundo e tem nos Estados Unidos, ainda, seu principal comprador.
Além disso, o auxílio que o país bolivariano dá a outras nações do Caribe e da
América Andina por meio da Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América
(Alba), tem um caráter emancipatório que não interessa aos interesses
imperialistas do gigante do norte.
A guerra midiática
continua. Como armas, os chavistas tem os dados econômicos dos últimos quinze
anos, os benefícios sociais e o empoderamento da população que está organizada
e informada em defesa da Revolução Bolivariana. Como cantavam os ativistas
brasileiros que nesta quarta-feira (19) se reuniram diante do consulado
venezuelano em São Paulo, “Recua, golpista, recua. O poder popular tá na rua”.
Na foto: Imagem
difundida pela TeleSUR
Notas:
[1] La Albert
Einstein Institution: no violencia según la CIA em http://www.voltairenet.org/article123805.html
[2] Manual de
autoajuda para golpes de Estado “brandos” em http://desacato.info/2012/07/manual-de-autoajuda-para-golpes-de-estado-brandos/
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