A Carta Maior
conversou com o chefe de investigação do Conselho Europeu de Relações
Exteriores, Hans Kundnani, sobre o modelo alemão.
Marcelo Justo –
Carta Maior
Londres - É a
quarta economia mundial, a segundo maior exportadora do planeta, locomotiva da
União Europeia. Em meio a um ambiente de desemprego generalizado, tem uma taxa
de desocupação de 6,9%. Com algumas poucas exceções, quase ninguém fala do
outro lado da moeda. Segundo cifras oficiais, mais de 16% da população se
encontra em situação de “risco de pobreza”. Os bancos de alimentos triplicaram
de 2002 até hoje.
É a quarta economia mundial, a segundo maior exportadora do planeta, locomotiva da União Europeia e modelo a imitar no mundo desenvolvido. Em meio à larga crise da zona do euro, a Alemanha seguiu crescendo. Em meio a um ambiente de desemprego generalizado, tem uma taxa de desocupação de 6,9%. O presidente do governo da Espanha, Mariano Rajoy, que costuma espernear por baixo da mesa contra a chanceler Angela Merkel, é o primeiro a querer repetir a reforma laboral alemã. Com algumas poucas exceções, quase ninguém fala do outro lado da moeda.
Cerca de 7,4 milhões de trabalhadores alemães sobrevivem como mini-empregos que oferecem um máximo de 15 horas semanais e remunerações que não passa dos 450 euros mensais. Segundo cifras oficiais, mais de 16% da população se encontra em situação de “risco de pobreza”. Os bancos de alimentos triplicaram de 2002 até aqui: hoje há mais de 900 em todo o país. Até do ponto de vista do Produto Interno Bruto, o milagre deixa a desejar: entre 2002 e 2012, a economia alemã cresceu uma média de 1,2%.
É a quarta economia mundial, a segundo maior exportadora do planeta, locomotiva da União Europeia e modelo a imitar no mundo desenvolvido. Em meio à larga crise da zona do euro, a Alemanha seguiu crescendo. Em meio a um ambiente de desemprego generalizado, tem uma taxa de desocupação de 6,9%. O presidente do governo da Espanha, Mariano Rajoy, que costuma espernear por baixo da mesa contra a chanceler Angela Merkel, é o primeiro a querer repetir a reforma laboral alemã. Com algumas poucas exceções, quase ninguém fala do outro lado da moeda.
Cerca de 7,4 milhões de trabalhadores alemães sobrevivem como mini-empregos que oferecem um máximo de 15 horas semanais e remunerações que não passa dos 450 euros mensais. Segundo cifras oficiais, mais de 16% da população se encontra em situação de “risco de pobreza”. Os bancos de alimentos triplicaram de 2002 até aqui: hoje há mais de 900 em todo o país. Até do ponto de vista do Produto Interno Bruto, o milagre deixa a desejar: entre 2002 e 2012, a economia alemã cresceu uma média de 1,2%.
A Carta Maior conversou com o chefe de investigação do Conselho Europeu de Relações Exteriores, Hans Kundnani, sobre o modelo alemão.
Os dados sociais da Alemanha registram um claro retrocesso. Soa escandaloso que os bancos de alimentos tenham triplicado na Alemanha.
Isso tem a ver com a transformação econômica que a Alemanha experimentou a partir da chamada Agenda 2010, uma reforma impulsionada pelo social democrata Gerar Schroeder. Naquele momento, a Alemanha era considerada a enferma da economia europeia com crescente desemprego e crescimento nulo. Schroeder introduziu uma série de reformas no Estado de Bem-Estar que reduziu os benefícios sociais e flexibilizou o mercado de trabalho. O desafio de fundo era a globalização e a competição da China e dos tigres asiáticos. As reformas de Schroeder ajudaram os empresários a ser mais competitivos, mas o impacto foi aumentar a quantidade de alemães pobres, sobretudo na região da antiga Alemanha Oriental. Até esse mesmo a Alemanha se percebia a si mesma como uma sociedade sem classes onde as disparidades eram mínimas. Hoje esta imagem não existe mais.
O modelo alemão do pós-guerra se baseou em acordos entre empresários e sindicatos apoiados pelo governo. Parece que os empresários forçaram a mão dos sindicatos.
Os empresários alemães começaram a transferir sua produção para Hungria e Eslováquia para baratear custos. Isso forçou os sindicatos a aceitar uma moderação salarial para não perder mais empregos. O resultado é que sequer os que mantiveram o trabalho se beneficiaram do chamado “segundo milagre” alemão. De modo que os que não trabalhava, sofreram uma queda de seu nível de vida por conta da reforma da Seguridade Social. Os que mantiveram o trabalho tiveram que moderar suas aspirações salariais e um terceiro setor, os flexibilizados, melhoraram as cifras de emprego, mas criaram uma nova franja de pobreza. Isso explica em parte a reação negativa que a população alemã teve quanto aos resgates de outros países europeus.
Supõe-se que, apesar dos cortes fiscais, a Seguridade Social alemã segue servendo para evitar níveis escandalosos de pobreza.
O sistema de seguridade era muito generoso, mas uma houve uma forte reforma. Ainda assim o sistema mais generoso que no sul da Europa, mas os cortes ocorreram. Outra coisa que é preciso levar em conta é que o custo de vida na Alemanha é muito mais alto que em outras partes. De maneira que, se em termos absolutos, pode parecer que o Sistema de Seguridade os alemães não estão tão mal, em termos concretos o impacto é claro no nível de vida das pessoas, no aumento da desigualdade e na aparição de grupos de excluídos sociais. Os jovens estão sendo particularmente afetados por essa situação.
Este barateamento do custo laboral alemão teve também um forte impacto na zona do euro...
É verdade. Gerou-se uma crescente brecha entre o custo laboral da Alemanha e o de outros países. Na Alemanha, havia uma moderação salarial que não havia em outros países, seja Itália ou França. Mas, além disso, os empresários alemães foram favorecidos pela introdução do euro porque o marco alemão era muito mais forte. O euro funcionou como uma desvalorização que tornou as empresas alemãs automaticamente mais competitivas que as de outros países europeus.
Muitas vezes estas mudanças são apresentadas como um resultado da globalização, ou seja, como algo em relação ao qual não há alternativa, uma espécie de “adaptar-se ou morrer”. Ao mesmo tempo, mesmo supondo que esta seja uma realidade incontestável, o certo é que a vida piorou para muita gente.
As economias em desenvolvimento são o grande desafio, em especial a China e os chamados tigres asiáticos, todos países que podem competir pelo lado dos preços. Como a Alemanha segue sendo uma economia manufatureira e exportadora, esta competição é vital para ela. Mas a Alemanha se concentrou em competir demasiadamente pelo lado dos preços, o que exige baratear custos, do que pelo lado da inovação. Este é um dilema enfrentado por todas as economias desenvolvidas na medida em que os países em desenvolvimento começam a competir em nível internacional pelos mesmos mercados. Ou seja, poderia ter se usado a inovação para gerar valor agregado em termos de educação, inovação, etc. Isso não ocorreu. O investimento é relativamente baixo na Alemanha. Isso pode ser visto quando se analisa a produtividade dos países. O aumento da produtividade na França é muito maior que na Alemanha.
O que ocorre com esta população crescentemente marginalizada? Estamos diante de um problema social ou de algo que pode se converter em um tema político?
Não creio que haja um risco imediato de rebelião social na Alemanha, mas está claro que estamos frente a uma sociedade muito mais desigual.
Com o novo governo e a inclusão dos social democratas na coalizão com os democratas cristãos de Angela Merkel, está se impulsionando um salário mínimo e certas reformas sociais. Você acredita que isso pode ajudar a reverter essa situação?
Com estas medidas, pela primeira vez, os trabalhadores vão desfrutar do êxito dos empresários. Como consequência, poderão aumentar seu consumo, algo que beneficiaria o resto da União Europeia, desde que seja o resultado desta melhoria salarial porque há uma forte tendência à poupança na Alemanha e, além disso, não se pode garantir que os consumidores escolham produtos europeus. Certamente, pelo lado da direita, criticou-se estas mudanças dizendo que, com o salário mínimo, a indústria alemã fica menos competitiva e terminará diminuindo postos de trabalho.
Tradução: Marco
Aurélio Weissheimer
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