João Lemos Esteves –
Expresso, opinião
Escrevo hoje aqui
no POLITICOESFERA em jeito de homenagem a António Capucho. Parece que o órgão
de "justiça" do PSD, presidido pelo Professor Calvão da Silva,
decidiu expulsar o militante António Capucho, devido à sua candidatura
independente à Assembleia Municipal de Sintra contra a candidatura oficial do
partido, liderada por Pedro Pinto. Foi esta uma boa decisão? Do ponto de vista
técnico-jurídico, parece que sim: Calvão da Silva é um jurista qualificado e encontrou
um critério certo e seguro - a apresentação da certidão de candidatura
apresentada pelo s tribunais. Portanto, António Capucho, com comprovação
judicial, candidatou-se contra o candidato do PSD - logo, é expulso do partido.
Contudo, esta simplicidade de critério decisório jurídico esconde a profunda
injustiça política.
António Capucho é
muito mais do que o candidato que se recusou a apoiar Pedro Pinto em Sintra -
posição, aliás, que os eleitores sintrenses secundaram ao rejeitar liminarmente
a candidatura (muito estranha, refira-se) do PSD. Capucho é fundador do
Partido, tendo estado ao lado de Francisco Sá Carneiro, tem uma vasta
experiência política, incluindo ao nível governamental, e deixou um magnífico
legado à frente da gestão autárquica de Cascais. Por conseguinte, António
Capucho merecia, no mínimo, um pouco de respeito por parte de Passos Coelho.
Mas não: como os portugueses estão fartos de saber, a palavra
"respeito" não consta do léxico do Primeiro-Ministro. Por outro lado,
Passos Coelho revela uma ignorância profunda pela História de Portugal e até
pela história do PSD. Mais: Passos Coelho despreza a história do PSD. Porque,
no fundo, Passos Coelho é um daqueles militantes que está no PSD, como poderia
estar no PS, desde que fosse mais fácil ingressar e ascender neste partido. Daí
que Passos Coelho nada saiba sobre Francisco Sá Carneiro; ignore Mota Pinto;
odeie Marcelo Rebelo de Sousa e insulta, em privado, Manuela Ferreira Leite.
António Capucho já fez tanto, tanto pelo PSD, que não pode deixar de chocar
todos os militantes do partido a sua expulsão!
Em rigor, aliás,
quem deveria ser expulso não era António Capucho: era Pedro Passos Coelho quem
deveria ser responsabilizado. Porquê? Atente-se no último processo eleitoral
autárquico. Houve uma série de candidaturas da área política do PSD que Passos
Coelho recusou - e que teriam vencido sem dificuldades o PS. Por exemplo, o
caso de Marco Almeida, em Sintra. O caso da Covilhã, em que o PSD perdeu a
Câmara depois de uma gestão autárquica brilhante porque Passos Coelho quis
apoiar um amigo seu, que acabou por perder pornograficamente! O caso do Porto,
em que Passos Coelho retribuiu favores políticos a Menezes, o que se saldou na
derrota estrondosa do PSD. E muitos mais casos se poderiam enunciar...ora, quem
é que prejudicou gravemente o PSD? Foi António Capucho? Ou Passos Coelho? Não
me parece que tenha sido António Capucho. A derrota do PSD nas autárquicas tem
um rosto claro: Pedro Passos Coelho. Se António Capucho é expulso, não há
nenhuma sanção para a irresponsabilidade, para a péssima gestão política de
Passos Coelho? Que sacrificou o interesse das populações locais e do PSD em
prol do "amiguismo" e dos favores políticos?
Uma última nota para
os militantes expulsos: compreendo a vossa decisão de se candidatarem noutras
listas que não as do PSD de Passos Coelho. O nosso partido foi sequestrado por
um grupo muito, enfim,...peculiar. Assim que recuperarmos o nosso partido de
volta, o nosso PSD, então, terão evidentemente a porta aberta! Porque o PSD
precisa de militantes que não se verguem, que nunca se vergaram, à tragédia que
é a liderança de Passos Coelho!
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