Alberto Nogueira
Pinto – Público, opinião
As Escrituras
narram o episódio dos vendilhões do Templo. Cristo, que era pacifista,
expulsou-os à força do chicote. Escorraçou os hereges sem moral e sem ética.
A democracia
prescinde de instrumentos tão violentos e agressivos como os usados por Cristo.
Vive o processo histórico. A interregnos e sobressaltos, com dor, sofrimento e
angústias, tomada por vendilhões sem valores e sem princípios. O seu “chicote”
são as ideias, os valores e a força do voto. Os vendilhões não o conseguirão
vender ou vencer, embora o desrespeitem. Dissimulam respeitá-lo. No íntimo,
odeiam-no. Questiona, periodicamente, o que anseiam e só isso: o poder.
Mercadejam a Pátria e o Estado a estrangeiros e amigos.
Aguardamos, com sofrimento e espanto, o que da Pátria e de nós ainda resta. Não
calamos. Temos a força da revolta na palavra.
Transaccionam tudo na bolsa e em concurso público. Mais por ajuste directo.
Cozinhado às ocultas.
Estará sempre presente a nossa História. Dialogaremos com ela a ler Os
Lusíadas. Na Torre de Belém, na Torre dos Clérigos, nos Jerónimos.
Não são permeáveis às negociatas da bolsa e mercados.
Olharemos em todo o futuro a corrida do Tejo, do Mondego e do Douro para o
Atlântico, onde mergulham. Desesperados, não podem vender a Serra da Estrela,
as areias finas do Algarve. A natureza não é vendável.
Desgraça e tristeza nossa, passaremos a ver e sentir águas das monções
orientais ou de outro mercado, nas torneiras e duches das habitações. Como a
energia que ilumina e aquece as nossas casas, de preço sempre a subir, dizem
eles, até 2020.
As cartas de amor, a enviar e receber, estão agora sujeitas à volúpia e
espionagem de serviços secretos. Os CTT mudaram de mãos e pés. Num “sucesso”
bolsista.
As estrelas e o céu azul de Lisboa brilharão com ou sem eles. A natureza supera
a ganância de mercados e governos. Rejeita tributações, beatíficos mercados.
Lá vem a dor da alma, o sofrimento, a depressão. Que vão eles fazer aos nossos
aviões com décadas e décadas de existência? Vender. Vendem tudo. Viajaremos
numa airline qualquer. Um símbolo de Portugal. Uma companhia aérea
que dá rendimento. A TAP, diz Fernando Pinto, o administrador, “está cada vez
melhor…”. Vão vendê-la! A “investidores institucionais”, claro. O Governo
vai vender a TAP. Comprou-a nas eleições. Fica com uns niquinhos do seu
capital. A ver os outros voarem.
Sem as vendas, a Nação já era pobre. Com elas, ficou mais pobre.
Isto encaixa na novel teoria jurídico-constitucional do Estado: “a vida das
pessoas não está melhor, mas a do País está muito melhor…”, ditou Luís
Montenegro, génio de Direito Constitucional. O País, o Estado existe por si,
para si, não para as pessoas. Governam para o Estado!
O País não tem nada a ver com pessoas! É uma entidade mítica. Concretiza-se nas
assembleias ruidosas e obedientes do Coliseu dos Recreios. Onde se aplaude o
chefe, fonte de todo poder, do lugar e das benesses.
A Comunidade, as pessoas não são nada. Que fiquem sempre pior.
Procurador-Geral Adjunto
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