Paul Craig Roberts [*]
Em 2004 a Hungria
aderiu à UE, na expectativa de ruas cobertas de ouro. Ao invés disso, quatro
anos depois, em 2008, o país ficou endividado ao FMI. O vídeo do grupo de rock
húngaro Mouksa Underground resume o que é a Hungria de hoje, depois de cair nas
garras da UE e do FMI. Ver www.youtube.com/watch?v=Jg8h526sB7w&feature=youtu.be
A canção é acerca dos resultados desanimadores do abandono do socialismo em
favor do capitalismo – e na Hungria os resultados certamente não são
encorajadores. O título é "Desalento com a mudança de sistema". Aqui
está a letra:
Os que têm agora
mais de vinte anos
Estiveram à espera de vida boa
Para o cidadão médio
Ao invés de riqueza temos pobreza
Exploração irrestrita
Assim, esta é a grande mudança de sistema
Assim, é isto que espera por si
Nada de habitação Nada de alimentação Nada de trabalho
Mas isto foi garantido que não aconteceria
Aqueles no topo
Devoraram-nos
O pobre sofre todos os dias
Assim, isto é a grande mudança de sistema
Assim, isto é o que espera por si
(Repete)
Quando ocorrerá mudança real?
Quando haverá uma mundo vivível
A solução definitiva aparecerá
Quando este sistema económico for abandonado para sempre
Assim, esta é a grande mudança de sistema
Assim, isto é o que espera por si
(Repete)
Não há solução fora
da revolução
Se os estudantes de Kiev houvessem escutado o grupo de rock húngaro ao invés
das ONGs de Washington, ele entenderiam o que significa ser saqueado pelo
Ocidente e a Ucrânia não estaria na tormenta e rumo à destruição.
Como a secretária de Estado Assistente Victoria Nuland deixou claro no seu
discurso de Dezembro último e na fuga da gravação da sua conversação telefónica
com o embaixador dos EUA em Kiev, Washington gastou US$5 mil milhões do
contribuinte estado-unidense para engendrar um golpe na Ucrânia que derrubou o
governo democrático eleito.
Que aquilo foi um golpe é também sublinhado pelas óbvias mentiras públicas de
Obama acerca da situação, culpando, naturalmente, o governo derrubado, e pela
total deturpação dos acontecimentos ucranianos pelos media presstitutos dos EUA
e Europa. A única razão para deturpar os acontecimentos é apoiar o golpe e
encobrir a mão de Washington.
Não há dúvida de que o golpe é um movimento estratégico de Washington para
enfraquecer a Rússia. Washington tentou capturar a Ucrânia em 2004 com a
"Revolução Laranja" por ela financiada, mas fracassou. A Ucrânia fez
parte da Rússia durante 200 anos antes de lhe ser dada independência na década
de 1990. As províncias do Leste e do Sul da Ucrânia são áreas russas que foram
acrescentadas à Ucrânia na década de 1950 pela liderança soviética para diluir
a influência dos elementos nazis na Ucrânia ocidental que haviam combatido por
Adolf Hitler contra a União Soviética durante a II Guerra Mundial.
A perda da Ucrânia para os EUA e a NATO significaria a perda da base naval da
Rússia no Mar Negro e a perda de muitas indústrias militares. Se a Rússia aceitasse
tal derrota estratégica, isso significaria que se havia submetido à hegemonia
de Washington.
Seja qual for o rumo que tome o governo russo, a população russa do Leste e do
Sul da Ucrânia não aceitará a opressão de ultra-nacionalistas e neo-nazis ucranianos.
A hostilidade já
mostrada em relação à população russa pode ser vista na destruição pelos
ucranianos do monumento às tropas russas que expulsaram divisões de Hitler
durante a II Guerra Mundial, bem como na destruição do monumento ao general
russo Kutuzov, cujas tácticas destruíram o Grande Exército de Napoleão e
provocaram a sua queda.
A questão do momento é se Washington calculou mal e perdeu o controle do golpe
para os elementos neo-nazis que parecem prevalecer em Kiev sobre os moderados
pagos por Washington, ou se os neocons de Washington estiveram a trabalhar com
os neo-nazis durante anos. Max Blumenthal diz que é isso:www.informationclearinghouse.info/article37752.htm
Os moderados certamente perderam o controle. Eles não podem proteger monumentos
públicos e são forçados a tentar antecipar-se aos neo-nazis legislando o
programa neo-nazi. O parlamento cativo ucraniano apresentou medidas para
proibir qualquer responsável de utilizar a língua russa. Isto, naturalmente, é
inaceitável para as províncias russas.
Como observei em artigo anterior, o próprio parlamento ucraniano é responsável
pela destruição da democracia na Ucrânia. Suas acções inconstitucionais e
anti-democráticas abriram o caminho para os neo-nazis os quais agora têm o
precedente para tratar os moderados do mesmo modo que os moderados trataram o
governo eleito e encobriram sua ilegalidade com acusações de crimes e ordens de
prisão. Hoje o ilegalmente deposto presidente Yanukovych está em fuga. Será que
amanhã o actual presidente, Oleksander Turchinov, posto no gabinete pelos
moderados, não pelo povo, estará em fuga? Se uma eleição democrática não
concede legitimidade ao presidente Yanukovych, como é que a selecção feita pelo
rebotalho de um parlamento concede legitimidade a Turchinov?
O que é que Turchinov responde se os neo-nazi lhe fizerem a pergunta de Lenine
a Kerensky: "Quem o escolheu?"
Se Washignton perdeu o controle do golpe e é incapaz de devolvê-lo aos
moderados que se alinharam com a UE e a NATO, a guerra aparentemente seria
inevitável. Não há dúvida de que as províncias russas procurariam e obteriam
protecção da Rússia. Desconhece-se se a Rússia avançariam ainda mais e varreria
os neo-nazis da Ucrânia ocidental. Se Washington, que parece ter posicionado
forças militares na região, proporcionaria o poder aos moderados para derrotar
os neo-nazis é também uma questão aberta, tal como é a resposta da Rússia.
Num artigo anterior descrevi a situação como "Sonambulismo outra
vez", uma analogia dos maus cálculos que resultaram na I Guerra Mundial.
O mundo inteiro deveria estar alarmado com a temerária e irresponsável
interferência de Washington na Ucrânia. Ao executar uma ameaça estratégica
directa à Rússia, o ensandecido poder hegemónico de Washington engendrou uma
confrontação com uma Grande Potência e criou o risco de destruição mundial.
25/Fevereiro/2014
Ver também:
The U.S. has Installed a Neo-Nazi Government in Ukraine ,
Michel Chossudovsky
Ukraine and the “Politics of Anti-Semitism”: The West Upholds
Neo-Nazi Repression of Ukraine’s Jewish Community , Michel
Chossudovsky
Democracy Murdered By Protest: Ukraine Falls To Intrigue and
Violence , Paul Craig Roberts
The Road to Moscow Goes Through Kiev: A Coup d’Etat That
Threatens Russia , Mahdi Darius Nazemroaya
Ukraine: Secretive Neo-Nazi Military Organization Involved in
Euromaidan Snyper Shootings , F. William Engdahl
Ukraine: Russia’s Response to a US-EU Sponsored Coup d’Etat. Violation
of International Law? , Colin Todhunter
Ukraine, Intervention, and America’s Doublethink , Eric
Draitser
The Dark Side of the Ukraine Revolt , Conn Hallinan
Obama’s Dumbest Plan Yet , Mike Whitney
O original encontra-se em www.globalresearch.ca/...
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
Leia mais no PG em EUROPA DE LESTE
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