O Departamento de
Estado divulgou um relatório onde afirma que os órgãos de comunicação social em
Angola são controlados pelo Estado. Estas coisas ditas ao balcão de um bar,
numa amena conversa em estúdios de televisão ou ao estilo de anedota, não
merece qualquer reparo.
Mas dada a sua
origem, obriga pelo menos a uma reflexão séria para que os argumentos invocados
sejam bem clarificados, analisados com seriedade e contraditados.A CNN está em
Angola. Com esta estação dos EUA estão mais largas dezenas de canais instalados
na ZAP, TV Cabo ou DSTV, de todas as nacionalidades. O Estado nada tem a ver
com isso e nunca interferiu nos conteúdos. Em democracia até a propaganda
hostil apresentada como informação, tem pernas para andar. Cabe aos
consumidores avaliarem as diferenças. O problema é que o bombardeamento
informativo a que estão sujeitos impede uma leitura clara do que é informação e
o que é puro ruído, a forma mais eficaz de censura. Para destrinçar entre a
informação e a propaganda da CNN, da BBC, RFI, RTP ou outro qualquer canal das
grandes democracias ocidentais, é preciso tirar um curso superior. E mesmo
assim, as probabilidades de errar são enormes.
Muitas vezes (demasiadas) figuras públicas da política, da ciência, das artes,
da economia e das finanças chancelam campanhas de propaganda agressivas, que
desvirtuam a verdade dos factos, apresentando as suas simples opiniões como
verdades absolutas. Detectar estes movimentos perifrásticos de propaganda
encomendada, é muito difícil e está absolutamente fora das capacidades do
consumidor comum.
A Rádio em Angola tem uma história rica. A sua marca de qualidade atravessou
décadas. E foi sempre independente. Dizer que é um meio controlado pelo governo
angolano é mascarar a realidade. A RNA tem autonomia financeira e editorial. Emite
conteúdos próprios, produzidos pelos seus profissionais. Está no ar, a par da
Voz da América, da BBC, da Despertar, da Rádio Ecclesia, da Rádio Mais ou mesmo
da estação da Igreja Metodista (Kairos). Só por má-fé ou ignorância se pode
afirmar que a Voz da América ou a BBC são controladas pelo governo angolano.
A imprensa angolana tem um passado riquíssimo e nasceu sob o signo da
liberdade, em meados do século XIX. Todos os títulos que nasciam para fazer
frente ao “Boletim Oficial” davam a si próprios a designação de “imprensa
livre”. Hoje, o sector empresarial do Estado tem apenas os títulos da Edições
Novembro, uma empresa autónoma sob o ponto de vista financeiro e editorial.
Dizer que os inúmeros jornais publicados em Angola são “controlados” pelo Estado
é no mínimo falta de rigor e ofensivo para os jornalistas.
É verdade que nas páginas dos jornais que pertencem a uma empresa angolana do
sector público não há insultos gratuitos, ninguém publica a imagem do
Presidente Obama vestido de presidiário, não é possível tratar como ladrões e
corruptos aos titulares de órgãos de soberania de outros países. Isso não é
“controlo” do Estado. Estão enganados. É apenas respeito pela profissão de
jornalista e pelos preceitos éticos e deontológicos.
Depois temos as redes sociais, onde vale tudo menos tirar olhos aos governantes
de países que não respondam aos interesses dos “donos” das plataformas. A falta
de regras é absoluta. O Estado angolano não tem a mínima intervenção e a
liberdade absoluta está garantida. Mas todos os dias há crimes de difamação e
injúria nas redes sociais. O direito à honra e ao bom-nome são os chamados
“direitos fundamentalíssimos”. A sua violação constitui grave atentado aos
direitos humanos. Os denodados defensores da liberdade de expressão, as juradas
organizações protectoras dos direitos humanos fecham os olhos e pautam-se por
um silêncio ensurdecedor quando se trata das violações que acontecem
diariamente nas redes sociais. O relatório do Departamento de Estado ignora
tanto a liberdade que em Angola se exerce nas redes sociais, como o terrorismo
contra a cidadania.
Nunca defenderemos que ponham fim às redes sociais ou que seja limitado o
direito de estabelecimento. Mas condenamos os que se servem destes valores para
tornarem inócuos os crimes contra os direitos humanos e defendemos uma maior
presença daqueles que se orientam por ideais nobres. As redes sociais são
importantes e reforçam a democracia. Mas se não existe qualquer regulação, se
são cometidas violações aos direitos humanos a torto e a direito e se as redes
sociais são usaada para o crime, os indivíduos e as sociedades democráticas
ficam expostos ao arbítrio.
A imprensa em Angola está em grande expansão. Escrever no relatório de um
organismo tão escutado como é o Departamento de Estado dos EUA que os
jornalistas e órgãos de informação angolanos são controlados, é colocar uma
etiqueta de menoridade a todos os profissionais que em Angola trabalham na
comunicação social e exercer sobre eles uma pressão ilegítima. Um erro tremendo.
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