segunda-feira, 17 de março de 2014

ACORDAI



Mário Motta, Lisboa

Está a ocorrer por todo o mundo a guerra aberta pelo capitalismo global contra os povos. A linguagem é comum, useira e vezeira, para alguns até cansativa e sectária. "Linguagem comunista", dizem alguns, ou muitos, a par de padrecos que lá do alto do seu púlpito gritavam nas missas domingueiras que os comunistas comiam criancinhas ao pequeno-almoço. Abençoando o salazarismo fascista - no caso de Portugal - e até Hitler. Para não referir outros ditadores. A igreja romana sempre se acoitou nas vias fáceis do comodismo e da exploração que empobrece os trabalhadores, os povos. Sempre se aliou aos poderosos, às fortunas dos negreiros, aos opressores, aos hipócritas. E se não o faz às claras podemos tomar por certo que com os seus silêncios o que quer dizer é que "seja o que Deus quiser, porque é mais fácil os pobres irem para o céu do que os ricos passarem pelo buraco de uma agulha". Tretas. E isso é o que se vê em Portugal. O silêncio da igreja romana perante a miséria que tem vindo a ser causada pelo atual governo e atual presidente da república, Cavaco Silva.

Antes, o que é agora cardeal patriarca, Manuel Clemente, ainda dizia isto ou aquilo em assunção de críticas ao governo de Passos Coelho. Mas aconteceu antes de ser nomeado Cardeal Patriarca. Atualmente está calado que nem um rato apesar de os tempos e o quotidiano dos pobres e explorados ser muito mais difícil, de haver muito mais pobreza, muito mais fome, muitos mais sem-abrigo, muitas mais crianças subnutridas e até abandonadas. Ao inverso do papa Francisco, a igreja romana em Portugal, conluia-se com a exploração e dá largas à hipócrita caridadezinha que tão bem soube representar e assumir durante as décadas do salazarismo.

A par destes silêncios sepulcrais e de conluio, as vozes do grande empresariado nacional e internacional a operar em Portugal exigem cada vez mais lucros, cada vez mais motivos de enriquecimento baixando salários, exigindo mais tempo e intensidade de trabalho, em nome da "competitividade" - a exploração desenfreada. O principal mentor desta ideologia é o governo, com o amén do presidente da república e associados que têm lavrado e ditado a desgraça dos trabalhadores portugueses, dos jovens e velhos de Portugal.

Nessa exploração desenfreada os preços de tudo que é essencial à vida tem vindo a aumentar. Na alimentação, nos transportes, na água, no gás, na eletricidade, na saúde, na educação, etc. Tudo que é essencial à vida dos pobres de Portugal - e são milhões - tem sido aumentado. A qualidade de vida é cada vez mais uma miragem. Até muitos que eram da classe média já não sabem o que é isso de viverem com alguma qualidade de vida. O empobrecimento planeado e imposto por Passos Coelho, Paulo Portas, Cavaco Silva e os dos ditames europeus aliados a grupos capitalistas globais está a devastar a sociedade portuguesa. E também a de muitos outros países, não esqueçamos. A guerra é um facto e o capitalismo, segundo crêem alguns, tem a faca e o queijo na mão. Ou seja: faz o que que faz porque pode... E os pobres, os trabalhadores, a plebe, nada pode fazer em contrário. Voltando à igreja romana, essa mesma é quem diz que nos devemos consolar na pobreza e aceitar este destino porque Deus escreve direito por linhas tortas... E por isso e tudo o mais que é complemento, os portugueses estão a aquiescer, a borregar, a acarneirar, a aceitar o destino de Portugal ter de empobrecer, de haver mais exploração negreira, em nome da competitividade. E assim os ricos estão mais ricos, os pobres muito mais pobres.

A cobardia dos portugueses sobressai uma vez mais. A história repete-se. O dito "sózinho nada posso fazer contra" está em voga, aliado ao "salve-se quem puder". Isso mesmo vimos durante o salazarismo. Nem ele perduraria por quatro décadas se os portugueses não fossem tão cobardes. Valeram os antifascistas que sempre lutaram contra o salazarismo, contra o fascismo que agora está a regressar. E esses eram e são comunistas (entre outros antifascistas), não comiam nem comem criancinhas. Afinal, as criancinhas de hoje estão a ser devoradas pelos empresários negreiros, pelas grandes corporações nacionais e estrangeiras, pelos governantes e políticos vendidos aos atrás referidos, porque ao roubarem as condições e direitos justo de trabalho aos pais das criancinhas devoram os pais, os filhos, as famílias, os portugueses. 

Nem por isso a cobardia é cousa para sempre. Para alguns, bastantes - mas ainda não suficientes - até é uma desconhecida. Até aqueles que caem se erguem um dia. Nunca será o rochedo do capitalismo cego e desumano, que rola encosta abaixo e trucida os povos, que vencerá. Quanto maior for a miséria e a opressão impostas maior será revolta que fará em estilhaços o tal rochedo. Acordai. Ergue-te. Vozes ao alto. Unidos como os dedos da mão. Como é cantado nas heróicas de Fernando Lopes Graça. Ergue-te, português. Acordai. Ergam-se, homens e mulheres do mundo.

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