terça-feira, 4 de março de 2014

Angola: “A ESTABILIDADE ESTÁ GARANTIDA”




O antigo vice-ministro das Finanças de Angola, Fernando Heitor, afirmou em Lisboa, perante empresários portugueses, que o Presidente da República, José Eduardo dos Santos, “está a fazer o trabalho para passar a Presidência a Manuel Vicente” e sublinhou que prevê uma transição pacífica porque a estabilidade está garantida.

“As coisas funcionam, impávidas e serenas. O Presidente José Eduardo dos Santos está a fazer o trabalho para passar a Presidência para o Manuel Vicente e vocês não se apercebem disso”, disse o deputado da Assembleia Nacional e dirigente da UNITA para uma plateia de empresários portugueses que o ouviam durante uma palestra na sociedade de advogados BPO, em Lisboa, sobre investimentos em Angola. 

“A estrutura militar está completamente consolidada. Só os militares é que podem fazer golpes de Estado, mas os generais estão todos ricos, não há problemas... Deu a cada um, uma mina de diamantes, ou coisa assim. Estão todos bem, não passa pela cabeça a ninguém fazer um golpe de Estado. Por isso, quando um dirigente da oposição diz que está tudo tranquilo, é porque em Angola não há mesmo problemas, apesar de a Constituição ser exageradamente presidencialista”, disse o dirigente da UNITA e antigo vice-ministro das Finanças, na altura responsável pelo pelouro dos impostos e património do Estado. 

Na sua intervenção, Fernando Heitor elencou também as grandes oportunidades de negócios em Angola, sublinhando que o melhor para os empresários é apostarem no interior, fora de Luanda, que tem conhecido um grande desenvolvimento nos últimos anos. 

“O grande desafio de Angola é a diversificação da economia, ainda dependemos muito do petróleo e temos um grande potencial para explorar. As grandes oportunidades estão no interior, nos minérios, na agricultura, na prestação de serviços e na formação de quadros” para as pequenas e médias empresas que querem investir menos de um milhão de dólares.
 
Sobre a exploração de minérios, Fernando Heitor gracejou: “Angola parece uma criança mimada com um brinquedo: tem muitos, mas quer sempre brincar com o mesmo”, referindo-se ao petróleo, mas sublinhou que o país tem plutónio, tem fosfatos a céu aberto, “aos pontapés”, granitos, mármores, diamantes, “até já há diamantes no Bié. Se calhar no meu quintal também há, se eu resolver ir para lá escavar. Ou seja, temos um imenso potencial no domínio dos minérios, e estamos só no petróleo”, lamentou.
 
Para além do enorme potencial de crescimento e de uma forte defesa da nova pauta aduaneira, que entrou em vigor no passado dia 1 de Março, Fernando Heitor reconheceu também alguns dos problemas do país, destacando a economia informal, que representa 45 por cento do comércio, mas “que tem os anos contados”, a morosidade na Administração Pública apesar dos programas em curso, como o Serviço Integrado de Atendimento ao Cidadão (SIAC), e a “corrupção pequena, que incomoda, e é uma coisa chata, aquilo a que se chama a ‘gasosa’, mas que agora evoluímos para ‘o saldo da Unitel’”. 

Onde Angola está bem, garante o deputado e economista que é também consultor de empresas e professor universitário, citado pela Lusa, é na segurança: “em quase tudo apanhamos porrada nas comparações internacionais, mas na segurança de pessoas e bens somos os melhores da região. Estamos ao nível do Botswana e mais ou menos da Namíbia, o que quer dizer que é seguro para os expatriados fazerem o seu ‘jogging’ em qualquer parte, sem ninguém ao lado, completamente à vontade”. 

Em declarações à agência Lusa, o dirigente da UNITA desafiou os empresários portugueses a não se assustarem com a nova pauta aduaneira, sublinhando que as taxas de importação só aumentam em alguns produtos.

“A minha mensagem para os empresários portugueses que exportam para Angola é para não se assustarem com a nova pauta aduaneira, que aumenta as taxas em alguns produtos, nomeadamente de luxo, produtos produzidos em Angola com grande potencial de crescimento, e bebidas alcoólicas e alguns sumos”, disse Fernando Heitor, em entrevista à Lusa, durante a passagem por Lisboa para promover o investimento estrangeiro em Angola.

Questionado sobre a previsível quebra nas exportações portuguesas para Angola e consequente diminuição do consumo, o dirigente da UNITA declarou que “não vai haver quebra nenhuma”.

Jornal de Angola - Foto: Paulo Mulaza

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