O conselheiro de
Estado Manuel Alegre manifestou-se neste domingo "estupefacto" com as
posições do ministro Rui Machete sobre a Guiné Equatorial, advertindo que a
diplomacia portuguesa não pode degenerar na promoção de interesses económicos.
Em declarações à
agência Lusa, Manuel Alegre criticou duramente o teor das posições assumidas
pelo ministro dos Negócios Estrangeiros sobre a Guiné Equatorial em entrevista
ao PÚBLICO, na qual disse não ter razões para duvidar da palavra do regime
liderado por Teodoro Obiang no que respeita ao processo de adesão à Comunidade
de Países de Língua Portuguesa (CPLP).
"Encaro com
estupefacção essas palavras do ministro Rui Machete. Um ministro dos Negócios
Estrangeiros de um país democrático não pode confiar na palavra de uma ditadura
e de um ditador que passa a vida a fazer promessas, mas a deixar tudo na
mesma", contrapôs Manuel Alegre.
Neste contexto, o
ex-candidato presidencial deixou um aviso directo ao Governo PSD/CDS-PP
liderado por Pedro Passos Coelho: "A diplomacia portuguesa não pode
degenerar na gestão e promoção de interesses económicos".
Para Manuel Alegre,
no que se refere ao processo de adesão da Guiné Equatorial à CPLP, colocam-se
várias questões de "princípio".
"A CPLP
destina-se aos países que têm o português como língua oficial. Na Guiné
Equatorial o português é a terceira ou a segunda língua - dizem eles, nós não
sabemos", apontou o membro do Conselho de Estado e histórico dirigente socialista.
Ainda na
perspectiva de Manuel Alegre, na adesão de um país à CPLP, deve também
colocar-se o critério relativo à existência ou não de um regime democrático,
que respeite os direitos humanos.
"Devem fazer
parte da CPLP países que cumprem formalmente a democracia, o que não é o caso
da Guiné Equatorial. Deve haver por isso outras razões para este entusiasmo em
relação à adesão da Guiné Equatorial. A democracia não é, a língua também não
é, talvez os negócios", referiu.
Manuel Alegre
advertiu, depois, que o critério "dos negócios é um mau caminho para o
projecto da CPLP".
"Portugal não
é dono da CPLP, mas também não somos súbditos da Guiné Equatorial. É muito
triste que isto esteja a acontecer no 40º aniversário do 25 de Abril de 1974",
acrescentou.
Lusa, em Público –
foto Raquel Esperança
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