A propósito dos 40
anos do 25 de Abril, que se celebram dentro de dois meses, Sampaio da Nóvoa
recordou o jovem que era então, a viver essa “situação única, irrepetível”, que
fazia crer que “o futuro de todos estava no mais pequeno gesto de cada um”
O ex-reitor
da Universidade de Lisboa António Sampaio da Nóvoa alertou hoje para o
“instrumento de dominação” em que se transformou a crise, usada para “legitimar
ideias que, de outra forma, nenhum de nós, estaria disposto a aceitar”.
“Serve para impor
soluções ditas inevitáveis que corrompem a nossa capacidade de decisão e a
nossa liberdade”, criticou Sampaio da Nóvoa, na cerimónia de abertura do ano
académico 2013-2014 da Universidade de Lisboa (UL), que hoje decorreu na Aula
Magna da Reitoria da instituição.
Durante a
cerimónia, o antigo reitor recebeu das mãos do seu sucessor, António Cruz
Serra, as insígnias de reitor honorário, título com o qual foi hoje agraciado.
Perante a
assistência de dois ex-presidentes da República – Ramalho Eanes e Jorge Sampaio
–, da procuradora-geral da República, Joana Marques Vidal, do presidente do
Tribunal de Contas, Guilherme d’Oliveira Martins, de figuras partidárias da
política nacional, como os socialistas Ferro Rodrigues e João Cravinho, e do
ministro da Educação e Ciência, Nuno Crato, o ex-reitor Sampaio da Nóvoa
referiu “a guerra” – “sim, a guerra”, sublinhou – contra as artes, humanidades
e ciências sociais, que, disse, “não é de agora”.
“Volta e torna a
voltar, sobretudo nos tempos de crise, nos tempos em que justamente mais
precisamos das humanidades”, declarou, arrancando aplausos do auditório, antes
de continuar, questionando-se se “nada interessa a não ser o que tem uma
utilidade imediata”.
“Utilidade
imediata? Mas para quê? E para quem? Repita-se: a poesia é a única prova
concreta da existência do homem. Ninguém decretou a existência da literatura,
das artes e da criação. Ninguém decretará a sua extinção, o seu
desaparecimento, a sua inutilidade. Temos um dever de resistência perante esta
visão empobrecida do mundo, do conhecimento e da ciência. Não há culturas
dispensáveis”, defendeu.
A propósito dos 40
anos do 25 de Abril, que se celebram dentro de dois meses, Sampaio da Nóvoa
recordou o jovem que era então, a viver essa “situação única, irrepetível”, que
fazia crer que “o futuro de todos estava no mais pequeno gesto de cada um”.
“Hoje parece que
vivemos a sensação oposta. Sentimos que, façamos o que fizermos, nada muda. Que
tudo se decide num lugar longe de nós, num lugar distante da nossa vontade.
Precisamos de recuperar essa energia de Abril. Porque somos responsáveis pelo
que fazemos, mas também somos responsáveis pelo que deixamos de fazer. Somos
responsáveis pelas lutas que travamos, mas também por aquelas a que renunciamos”,
reiterou.
O antigo reitor da
Universidade de Lisboa afirmou ainda a necessidade de a universidade “se
libertar das amarras”, de “estar presente em todos os debates da sociedade” e
mais ligada à economia e às empresas, defendendo mais autonomia e uma “conceção
radicalmente diferente da relação do Estado com a universidade”.
“Assim como está é
que não, definitivamente não”, disse, antes de terminar colocando “ao serviço
de uma universidade seriamente comprometida com o país” a distinção que hoje
recebeu.
Também homenageado
na cerimónia, o neurocirurgião João Lobo Antunes, que se declarou “um homem da
universidade com a profissão de médico”, recebeu o prémio Universidade de
Lisboa e disse não entender a distinção como uma “obrigação de fim de
carreira”.
Os 25 mil euros que
valem o prémio serão entregues, anunciou Lobo Antunes, ao novo centro de
investigação de tumores cerebrais do Instituto de Medicina Molecular da UL: “É
um projeto que muito me entusiasma.”
O prémio
Universidade de Lisboa distingue anualmente uma individualidade portuguesa ou
estrangeira cujos trabalhos tenham contribuído o progresso da ciência ou da
cultura e para a projeção internacional do país.
Lusa, em Jornal i
Sem comentários:
Enviar um comentário