Rui Sá – Jornal de
Notícias, opinião
Foi recentemente
notícia um estudo feito por uma investigadora da Universidade de Aveiro,
Patrícia Silva, sobre a influência dos partidos políticos (leia-se PS/PSD/CDS)
nas nomeações para os cargos dirigentes da administração pública.Analisando
cerca de 11 mil nomeações ocorridas desde 1995, a investigadora conclui que
essas nomeações tinham, fundamentalmente, duas motivações: o "controlo de
políticas públicas" e/ou a "recompensa por serviços prestados
anteriormente ou em antecipação aos mesmos".
Qualquer uma destas
motivações é, a meu ver, errada. A administração pública tem muitos e bons
funcionários com sentido de Estado e empenhamento na causa pública que, com
profissionalismo, estão à altura de cumprir as orientações superiores em termos
de implementação de políticas. Eu próprio, quando assumi o pelouro do Ambiente
na Câmara Municipal do Porto, não tive qualquer problema (e até hoje não me
arrependi...) por ter mantido várias chefias que, sendo funcionários públicos
de carreira, tinham sido nomeadas pelo meu antecessor - que viria a ser,
durante o mandato, "apenas" o meu principal adversário. Por outro
lado, premiar os correligionários políticos com cargos na administração pública
é o recriar da célebre reivindicação de "jobs for the boys" que Narciso
Miranda, então líder da distrital do PS Porto, explanou em voz alta dando corpo
ao sentimento das hostes socialistas depois de 10 anos de cavaquismo.
Não deixa, aliás,
de ser curioso que os mesmos partidos que encheram a administração pública com
estes "boys" sejam aqueles que, agora, bradam aos quatro ventos a
necessidade de reduzir o número de funcionários públicos......
Atitudes destas
contribuem para a descredibilização do sistema político democrático e, em
particular, para a descredibilização dos partidos políticos. Sendo que,
erradamente, muitos, até para expiar as suas responsabilidades na eleição
sistemática dos mesmos, generalizam esta apreciação a "todos" os
partidos......
Razão pela qual
algumas candidaturas ditas "independentes" tiveram um relativo
sucesso nas últimas eleições autárquicas. Como foi o caso do Porto. No entanto,
os indícios que surgem nestes primeiros quatro meses de governação de Rui
Moreira mostram que, afinal, não parece haver alterações significativas nos
procedimentos.
De facto, se é
verdade que estes quatro meses, ainda por cima com as limitações legais e
orçamentais impostas, não permitiram nomear muitos "boys", salta à
vista a cumplicidade do presidente "independente" com os
"boys" e "girls" nomeados no consulado do seu apoiante Rio.
Que proclamou, ufano, que tinha reduzido em centenas o número de funcionários
municipais, esquecendo-se que no mesmo período meteu nos quadros da Câmara e
das empresas municipais dezenas de homens e mulheres cujo principal atributo
era o de serem seus apoiantes.
Opercurso foi
simples: entraram como assessores e adjuntos (cargos esses que, efetivamente,
deviam ser de confiança política, cessando com a mudança dos titulares
políticos) e, depois, passaram para a estrutura municipal, nomeadamente através
das empresas municipais, onde os concursos de recrutamento são mais liberais,
com salários, muitas vezes, principescos e sem qualquer relação com a atividade
desenvolvida.
Coloca-se então a
questão de saber se um presidente "independente", conhecedor desta
situação, deve fechar os olhos a esta situação ou se, constatando que,
efetivamente, o erário público está a ser delapidado para pagar favores
políticos, dá um "murro na mesa" e "limpa" a estrutura
municipal.
Bem sei que, por
força das circunstâncias, muitos dos "boys" e "girls"
nomeados por Rio foram apoiantes, e mesmo candidatos, de Rui Moreira. Mas este
é um desafio clarificador: ou Rui Moreira se comporta como o
"independente" que faz jus a esse título e abraça, custe o que
custar, as causas que diz defender, ou Rui Moreira comporta-se como um
"independente" manietado pelos interesses partidários que estiveram
na origem da sua candidatura......
A recente nomeação
de um dos braços-direitos de Rio para o júri dos concursos para os cargos
dirigentes da Câmara Municipal do Porto indicia que Rui Moreira se inclina para
a segunda opção! Mas ainda vai a tempo de mudar...
Sem comentários:
Enviar um comentário