Mário Soares – Diário
de Notícias, opinião
O 25 de Abril de
1974 é uma data preciosa, de decisiva importância, que deve ser festejada, com
cravos na lapela, como sempre foi, todos os anos, à exceção dos dois últimos.
Foram os militares
- e mais ninguém -, embora com o apoio imediato dos populares, que apoiaram e
seguiram Salgueiro Maia, herói já falecido (que devia estar no Panteão), que
com o seu tanque esteve em frente ao quartel da Guarda Nacional Republicana,
onde o ditador Marcelo Caetano estava escondido, desde madrugada, quando soube
que havia tropas na rua contra a ditadura.
Os militares
perceberam então que as guerras coloniais estavam perdidas e que a ONU exigia a
autodeterminação dos países colonizados, estando por isso Portugal
completamente isolado.
É, portanto, aos
militares de Abril - e a mais ninguém - que devemos tudo: a liberdade, a
eliminação da censura, da PIDE, de tão má memória, a abertura aos partidos e
tudo o que veio depois do 1.º de Maio de 1974.
Os militares de
Abril não quiseram o poder, o que mostra o seu idealismo desinteressado. Por
isso, quanto mais não seja, devem ser respeitados, no dia do seu aniversário.
Mas não têm sido. Há dois anos que não estão presentes no Parlamento, porque
são maltratados. E eu, permitam-me que o diga, também não tenho ido porque sou
solidário com eles.
O Presidente Cavaco
Silva nunca usou o cravo. E agora se percebe porquê. Porque antes do 25 de
Abril foi salazarista. Embora tanto deva ao regime que resultou da Revolução
dos Cravos. Mas só agora se compreende e a dois anos do fim do seu mandato e
protetor de um Governo, que em boa parte pensa como ele, a verdade vem ao de
cima. Como sempre.
Orgulho-me da
fundação a que presido já ter uma exposição interessante sobre o 25 de Abril,
aberta ao público que a quiser ver, e também na Casa Museu João Soares, nas
Cortes. Além disso, os Amigos da Casa Museu organizaram um jantar/conferência,
como tem sido hábito, onde o próprio Presidente Cavaco Silva já participou como
orador. Desta vez, na última sexta-feira, esteve António Costa, presidente da
Câmara de Lisboa, que fez uma conferência, "Portugal: 40 anos depois do 25
de Abril. E agora?", seguida de debate com imensos participantes e com
muito êxito.
AS DESGRAÇAS DO
GOVERNO
Imagine-se que
entre outras desgraças das muitas que o atual Governo tem inventado para dar
mais dinheiro à troika ou aos seus apaniguados teve agora a peregrina ideia de
fazer desaparecer o Instituto de Odivelas, por onde passaram tantas filhas de
militares, que depois foram ilustres, para poder vir a construir muitos
complexos imobiliários. Mas não só.
Também resolveram
destruir o Colégio Militar, com tanta história, e aproveitar o imenso espaço
que tem, com árvores e campos de jogos, por onde passaram filhos de militares
superiores, muitos deles hoje já brigadeiros e generais, igualmente para
vender, naturalmente, a quem mais pagar. De resto, a história e os protestos de
generais e almirantes ao Governo parecem não interessar nada.
Quer dizer, o
Instituto de Odivelas e o Colégio Militar vão desaparecer. E os jovens alunos,
raparigas e rapazes que lá estudam, bem como, porventura, alguns dos respetivos
professores, esses vão todos, ao que parece, para o Instituto dos Pupilos do
Exército, criado pela República para os filhos de militares menos graduados e
aí vão tentar englobar tudo: as alunas de Odivelas e os rapazes do Colégio
Militar, além dos que são alunos dos Pupilos do Exército. A situação está,
seguramente, a criar uma grande indignação entre as Forças Armadas. Mas isso
não conta, em especial para o ministro da Defesa, que parece gostar de
prejudicar as Forças Armadas que dele dependem. Porque o Governo atual só pensa
no dinheiro e as pessoas não contam, como já tenho dito várias vezes.
É óbvio que a
indignação é grande nas Forças Armadas, que têm sido humilhadas, várias vezes,
pelo ministro da Defesa. E, no caso em questão, devem reagir, como alguns
generais já fizeram, porque num Estado com tanta história, como o nosso, em que
as Forças Armadas sempre constituíram um orgulho para Portugal e também no
estrangeiro, onde são respeitadas, o que nos dá tanta honra, não podem
deixar-se humilhar no seu país, pelo qual sempre se bateram, na terra e no mar.
É verdade que
quanto ao Colégio Militar alguns militares eminentes foram à televisão chamar a
atenção para o erro imenso que constituiria levar os alunos e talvez alguns
professores para o Instituto dos Pupilos do Exército, que é aliás muito digno -
o meu Pai foi professor dos Pupilos do Exército e sempre prezou muito essa
instituição -, mas é diferente com o instituto de Odivelas. Não podemos
esquecer a história e o garbo (lembremo-nos das paradas em que desfilaram os
meninos da Luz) das duas instituições. Juntar tudo é um erro inaceitável. É um
crime que as Forças Armadas dificilmente podem tolerar. Já não falo do povo e
da própria classe média porque o que deles resta, por enquanto, é o desespero,
a pobreza e o desejo de emigrar.
Quanto a Odivelas
permito-me referir ainda uma carta de protesto que a professora doutora Maria
João Marcelo Curto, antiga aluna de Odivelas, dirigiu ao primeiro-ministro,
sobre a "estupefação com que tomou conhecimento da ideia do ministro da
Defesa de extinguir, sem mais nem menos, o Instituto de Odivelas". E eu
pergunto: por quem se toma esse senhor ministro que só tem feito disparates
desde que foi empossado. Quanto tempo mais o vão tolerar as Forças Armadas, as
quais só têm sido por ele humilhadas?
Nota PG
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