A Resistência
Nacional Moçambicana (Renamo) exige a integração dos seus membros em cargos
dirigentes das forças de defesa e segurança do país para se desmilitarizar,
condição que o Governo moçambicano considera "uma aberração", noticia
hoje a imprensa local.
A exigência da
Renamo foi anunciada, na segunda-feira, durante uma nova ronda negocial entre o
maior partido da oposição do país e o Governo moçambicano, tendo o encontro
terminado com discursos crispados, que denotam um retrocesso nas negociações
com vista ao fim da instabilidade político-militar que Moçambique vive há um
ano.
Saimone Macuiane,
chefe da delegação negocial da Renamo, anunciou que o partido pretende que
"os seus homens" ocupem cargos como o de "Chefe do Estado-Maior,
que há mais de 20 anos vêm das antigas Forças Populares de Libertação de
Moçambique (FPLM)", mas também estejam "no ramo da Marinha, da Força
Aérea e do Exército", assim como nos diversos departamentos da Polícia da
República de Moçambique (PRM).
"Se o da
Renamo for comandante, o das FPLM deverá ser adjunto, e assim vice-versa",
disse o deputado aos jornalistas, à saída do encontro.
No seguimento do
Acordo Geral de Paz (AGP) de 1992, Moçambique passou a contar com um exército
misto constituído por homens das antigas forças guerrilheiras da Renamo e das
FPLM, denominado de Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM).
Desde a formação
das FADM, em 1994, a Renamo tem vindo a contestar o processo de integração das
suas forças militares, considerando que os antigos membros das FPLM são
preteridos para cargos de comando.
"Os homens da
Renamo já estão no exército. Nós não queremos que eles fiquem como assessores e
cozinheiros dos outros. Queremos que fiquem como verdadeiros militares no
exército", afirmou Macuiane.
Comentando as novas
imposições negociais da Renamo, o representante governamental e ministro da
Agricultura, José Pacheco, classificou-as como "uma aberração".
"A
Constituição da República e demais legislações emanam que o Estado organiza-se
com regras não partidárias. A própria Renamo exige num dos pontos a
despartidarização da função pública. A Renamo foi ao ponto de dizer que Chefe
de Estado-Maior das Forças Armadas deve ser da Renamo. Isso é uma
aberração", afirmou.
Com o impasse nas
negociações entre as partes e a faltarem 15 dias para o fim do processo de
recenseamento eleitoral, que o líder e possível candidato presidencial da
Renamo ainda não realizou, em Moçambique, as atenções estão agora centradas na
possibilidade do adiamento das eleições gerais de outubro, temendo-se um
recrudescimento do conflito armado, caso Afonso Dhlakama não participe no
processo.
Lançando um
aparecente ultimato à Renamo, Damião José, porta-voz da Frente de Libertação de
Moçambique (Frelimo), partido no poder, veio, entretanto, afirmar que as eleições
vão-se "realizar com ou sem Dhlakama", que se mantém "em parte
incerta", desde há sete meses.
EMYP // PJA - Lusa
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