segunda-feira, 14 de abril de 2014

RUANDA CRONOLOGIA HISTÓRICA DE 6 DE ABRIL DE 1994 A FINAIS DE 1998



Martinho Júnior, Luanda

A 17 DE ABRIL DE 2004 O Nº 392 DO “ACTUAL”, SEMANÁRIO DE LUANDA JÁ EXTINTO PUBLICAVA, FAZ EM BREVE DEZ ANOS, A 3ª PARTE DA CRONOLOGIA SOBRE O RUANDA E OS GRANDES LAGOS, ENTRE OUTROS ARTIGOS QUE EVOCAVAM A SITUAÇÃO NAQUELA REGIÃO FULCRAL DE ÁFRICA.

OS DADOS FORAM RECOLHIDOS E COMPENDIADOS POR MIM E POR LEOPOLDO BAIO, DIRECTOR DO “ACTUAL”.

TORNAVA-SE VISÍVEL O PAPEL DA FRANÇA E DOS ESTADOS UNIDOS, COM IMPLICAÇÕES DIRECTAS NOS ACONTECIMENTOS E COM DISTINTAS VISÕES GEO-ESTRATÉGICAS E GEO-POLÍTICAS.

UM NEO-COLONIALISMO DE “NOVA GERAÇÃO” INSTALAVA-SE EM ÁFRICA, SOB OS AUSPÍCIOS DO IMPÉRIO E TIRANDO PARTIDO DE SUAS CAPACIDADES DE GLOBALIZAÇÃO CAPITALISTA E NEO LIBERAL, CHOCANDO NA ALTURA COM O “PRÉ CARRÉ” FRANCÊS!

A FRANÇA REPRESENTAVA O PASSADO COLONIAL E OS ESTADOS UNIDOS A ALTERNATIVA NEO-COLONIAL.

ESTES ACONTECIMENTOS ESTIVERAM NA FORJA DO AFRICOM E CONTRIBUÍRAM MAIS TARDE PARA A DECISÃO DE SUA IMPULSÃO.

VOLTAR A FAZER UMA AVALIAÇÃO, DESDE AS CAUSAS PROFUNDAS DAS TRANSFORMAÇÕES SANGRENTAS E DRÁSTICAS QUE OCORRERAM, É IMPRESCINDÍVEL PARA AQUELES QUE ASSUMEM A OUSADIA DE LANÇAREM A PAZ PAN-AFRICANA, COMO O PRESIDENTE JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS E O PRESIDENTE JACOB ZUMA!

- A 7 de Abril de 1994, as “FAR” (“Forças Armadas do Ruanda”), efectivos da Guarda Presidencial, da Polícia e as milícias “Interahamwe” iniciaram uma busca, casa a casa, massacrando a população tutsi e todos os hutus considerados “moderados”.

Logo nos primeiros dias morreram milhares de pessoas, sem que as forças da ONU interviessem (eles haviam sido proibidos de intervir, ao contrário das pretensões do seu comandante, o General Canadiano Romeo Dalaire).

O Secretário Geral da ONU preferiu as interpretações do seu Enviado Booh Booh, à linguagem rude mas realista do General Romeo Dalaire. No espaço de três meses haveriam de morrer cerca de um milhão de pessoas.

- Perante os massacres o “FPR” iniciou uma grande ofensiva com o alegado fito de parar com o genocídio e resgatar os 600 homens seus que se encontravam estacionados em Kigali, sob o Comando do Tenente Coronel Charles Kayonga, com base no Acordo de Arusha e resguardados pelos efectivos da ONU que compunham a MINUAR.

A nível internacional, Paul Kagame advertiu as potências com interesses geo-políticos na Região, a França, a Bélgica e os Estados Unidos, para se absterem de realizar operações humanitárias que pudessem contribuir para fortalecer as políticas genocidas em marcha; na verdade ele procurava garantir o caminho livre para as suas forças.

As operações do “FPR” em Kigali foram sincronizadas com a perpetração do assassinato dos dois Presidentes pois a essa data elevavam-se a 4.000 os efectivos seus, à civil, que se encontravam na capital ruandesa, para além dos 600 homens que se encontravam na capital em função do Acordo de Arusha.

- Um Relatório da CIA advertindo em tempo oportuno para a possibilidade dum genocídio da ordem das 500.000 pessoas não foi levado a sério pela administração democrata de Bill Clinton, que só começou a reagir tarde demais e em estrito reforço das medidas do “FPR”, contribuindo para instalar no poder a “minoria tutsi” e instaurar uma política de terror que acabou por impor o regime de Paul Kagame.

- A 8 de Abril de 1994 o Coronel belga Luc Marchal, da MINUAR, confirma a chegada de armamento a Kigali , entregue às “FAR” nesse mesmo dia, com a utilização dum avião que no regresso levou repatriados de países ocidentais.

- A 9 de Abril assumiu a Presidência do Governo Interino (“GIR”) do Ruanda, o Presidente do Parlamento, Théodore Sindikubwabo, do “MRND”, tendo como Chefe do Governo Provisório Jean Kambanda, do partido hutu “MDR”.

Nesse mesmo dia é repatriada para Paris a viúva do Presidente assassinado, Agathe Habyarimana, conhecida por ser uma das pessoas inspiradoras das “Redes Zero” e cuja família se encontrava no “coração dos genocidários”.

Nesse mesmo dia o embaixador francês em Kigali, Jean Michel Marlaud, mandou destruir todos os arquivos da Embaixada.

- A 10 de Abril um comando militar francês foi enviado ao local da queda do avião Presidencial abatido.

- A 12 de Abril o “FPR” conseguiu chegar a Kigali a fim de , com essa manobra ofensiva, “resgatar o seu efectivo de 600 homens”, acabando por provocar a fuga precipitada do Governo em direcção a Gitarama e tornando mais caótica a ponte aérea de evacuação de cidadãos ocidentais do país.

As Embaixadas da Bélgica e da França encerraram e o seu pessoal foi precipitadamente evacuado.

- A 21 de Abril de 1994 as forças da ONU passaram a um efectivo de 250 homens, depois de 10 soldados belgas da guarda pessoal do então Primeiro Ministro hutu, Agathe Uwiliyingimana, terem sido assassinados conjuntamente com ele, no seguimento de ordens do seu Comandante, no sentido de não se opor resistência (em função do convencionado papel da ONU no Ruanda).

A Resolução 2.700 do Conselho de Segurança reduzia o pessoal da ONU a 450 homens, entre capacetes azuis e observadores, por voto da França.

- A 30 de Abril de 1994 perante uma situação explosiva no Ruanda, o Conselho de Segurança teve uma prolongada reunião de oito horas que condenou os assassinatos (sem mesmo assim pronunciar a palavra genocídio) e conferindo finalmente a ordem de prevenir e punir aqueles que estavam implicados nas matanças.

A França opôs-se à qualificação de genocídio.

Entretanto dezenas de milhar de refugiados abandonam precipitadamente o país com destino à Tanzânia, ao Burundi e ao Zaire, entre os quais cerca de 250.000 hutus que fugiam ao progressivo avanço do “FPR”.

- De 9 a 13 de Maio visita a Missão de Cooperação Militar comandada há mais de um ano pelo General Jean Pierre Huchon, o Chefe do Estado Maior Adjunto das “FAR”, Edfrem Rwabalinda.

Era na altura Chefe do Estado Maior das “FAR” o General Augustin Bizimungu.

- A 17 de Maio de 1994 as Nações Unidas acorda enviar 6.800 homens, entre militares e polícias, para o Ruanda, com instruções para defender os civis.

Uma Resolução do Conselho de Segurança pela primeira vez confirma a existência de “actos de genocídio”.

O deslocamento de forças foi no entanto retardado pois não se sabia quem havia de pagar a essas tropas e quem haveria de fornecer os equipamentos apropriados.

As sanções no sentido de não haver fornecimentos de armas aos contendores, não foram adoptadas por impedimento da França.

- A 22 de Maio de 1994 as “FAR” perdem o controlo do Aeroporto de Kigali a favor do “FPR”.

- A 25 de Maio de 1994 é enviada uma mensagem da Embaixada do Ruanda no Cairo, anunciando um fornecimento de 35 toneladas de armas por um valor de 765.000 USD; o documento menciona que a transacção foi feita em Paris.

Nessa data aterrava em Goma, no Zaire, por diversas ocasiões, um Boeing 707 que transportava armas para as “FAR”.

- A 13 de Junho o “FPR” tomou Gitarama e o Governo instalou-se em Kibuye.

A derrocada total das “FAR” tornava-se eminente.

- Pela primeira vez, a 16 de Junho de 1994, o Ministro dos Negócios Estrangeiros Francês Alain Juppé aceita usar o termo “genocídio” , em relação ao assassinato massivo de tutsis e de hutus ditos “moderados” no Ruanda.

- A 22 de Junho de 1994, ainda sem enviarem forças, a ONU autoriza a deslocação de tropas francesas para o sudoeste do Ruanda, localidades de Cyangugu e Kikongoro (cerca de 2.500 homens), que deram início à “Opération Turquoise”.

Elas criaram uma “área de abrigo” no território controlado pelo Governo, onde o assassinato de tutsis, segundo algumas fontes, continuou mesmo assim.

Pela primeira vez o governo dos Estados Unidos pronunciou a palavra “genocídio”, ao qualificar o desenrolar dos acontecimentos.

- A 4 de Julho de 1994 o “FPR” captura finalmente Kigali e Butare, obrigando o governo hutu a refugiar-se no Zaire, seguido por uma avalanche de refugiados.

A missão francesa foi substituída pelos etíopes às ordens das Nações Unidas.

O “FPR” instalou um Governo Interino de Unidade Nacional em Kigali e elementos tutsis afectos iniciaram uma retaliação ao genocídio.

Vários milhares de civis foram executados, entre eles o Arcebispo Católico de Kigali.

A cólera tomou conta dos campos de refugiados no Zaíre, matando vários milhares.

Um torrente massiva de refugiados entrou no Zaire durante este período.

- A 19 de Julho de 1994 é formado um Governo de Unidade Nacional, tendo à frente o hutu do “MDR” Faustin Twagiramungu, decisão tomada a partir do Acordo de Arusha e tendo como Vice-Presidente, Paul Kagame, ao mesmo tempo Ministro da Defesa.

Integraram esse governo alguns partidos hutu, nomeadamente o “PSD” (“Partido Social Democrata”), o “PL” (“Partido Liberal”) e o “PDC” (“Partido Democrata Cristão”), excluindo-se o “MRND” por sua participação nos massacres.

Para a Presidência é escolhido o hutu Pasteur Bizimungu, um tecnocrata que era colocado nesse posto na tentativa de apaziguar o antagonismo entre hutus e tutsis.

- No Zaire, nomeadamente na região de Goma, estimava-se em 1.200.000 o número de refugiados ruandeses fugidos da tomada do poder pela “FPR” e das retaliações levadas a cabo pelas novas autoridades.

Durante a “Operation Turquoise” é permitido que os genocidas em fuga dêem entrada no Zaire e o General Augustin Bizimungu, Chefe do Estado Maior das “FAR”, é visto em Goma a bordo dum veículo militar francês.

Os franceses, em sequência dessa Operação, implementaram o treino das “Forças Armadas Zairenses” e das “FAR” no Leste do Congo.

- Com a tomada do poder é suspensa a Constituição de 1991 e declarada a Lei Marcial.

Na prática é o “FPR” o único Partido que pôde difundir as suas actividades.

- Em Agosto de 1994, perante o conhecimento da dimensão do genocídio, o novo governo do Ruanda aceita a instauração dum Tribunal Penal Internacional estabelecido pelo Conselho de Segurança da ONU a fim de julgar os genocidas.

O referido Tribunal instala-se em Novembro desse ano na cidade tanzaniana de Arusha.

- A 8 de Novembro de 1994 reúne-se de novo a Cimeira Franco Africana em Biarritz, mas o novo governo ruandês não é convidado.

- A 25 de Novembro de 1994 a França cede às pressões da União Europeia e, finalmente, após um bloqueio de vários meses, é concedido um primeiro auxílio ao novo governo do Ruanda por parte da União Europeia, no valor de 67 milhões de Euros.

- A 12 de Dezembro de 1994 é constituída uma Assembleia Nacional de Transição com 70 membros, integrando representantes de vários Partidos não implicados no genocídio.

- De 5 a 10 de Janeiro de 1995 a ONU começa um processo para fazer regressar ao Ruanda cerca de 1.500.000 refugiados que se encontravam nos países vizinhos, nos cinco meses seguintes, não aceitando contudo o envio duma força policial a fim de garantir a segurança nos campos de refugiados.

- A 19 de Fevereiro de 1995 os países ocidentais, incluindo os Estados Unidos, forneceram um apoio no valor de 600 milhões de USD para as operações de carácter humanitário que eram muito urgentes.

- A 27 de Fevereiro de 1995 o Conselho de Segurança das Nações Unidas pediu a todos os estados para prenderem pessoas suspeitas de envolvimento no genocídio do Ruanda.

- Numa tentativa de fechar o campo de refugiados de Kibeho, no sudoeste do Ruanda, as forças governamentais abriram fogo matando 330 civis, de acordo com as suas próprias estimativas, tornadas públicas; de acordo com a ONU, teriam havido 2.000 mortos; de acordo com as ONGs, 8.000.

- A 5 de Maio de 1995 a Assembleia Nacional de Transição aprovou uma Lei Fundamental de carácter Constitucional , com base em alguns artigos da Carta Magna de 1991 , alguns termos do Acordo de Arusha de 1993, a declaração de vitória da “FPR” , de Julho de 1994 e um Protocolo de Entendimento multi-partidário, elaborado em Novembro de 1994.

- Em Maio de 1995 aumentaram as tensões entre as Nações Unidas e o novo governo do Ruanda por causa da falta de ajuda financeira internacional para fazer face à situação dos refugiados.

No seguimento dessas tensões o governo do Ruanda solicitou a retirada dos capacetes azuis do Ruanda, pelo que o Conselho de Segurança decidiu por unanimidade reduzir a metade o efectivo da ONU.

- Numa avaliação aos estragos económicos provocados pelo holocausto do genocídio confirmou-se que o ano de 1994 registara uma baixa no Produto Interno Bruto da ordem dos 50%, pelo que o país, a fim de se começar a reabilitar de acordo com as decisões do seu governo, declarou uma economia liberal , solicitando a imediata ajuda do FMI.

- Em Julho de 1995 mais de 720.000 refugiados Ruandeses que estavam estacionados na região de Goma recusam-se a regressar ao Ruanda.

O país registava 3.500.000 deslocados (cerca de metade da sua população total), dos quais 2.500.000 estavam refugiados em países vizinhos (1.500.000 no Zaire, 500.000 na Tanzânia, 400.000 no Burundi) e 1.000.000 na “área de abrigo” propiciada pela “Operação Turquoise”.

- A 23 de Julho de 1995 os Estados Unidos iniciaram a ponte aérea de apoio humanitário, “Support Hope”, conseguindo suster a epidemia da cólera.

- Em Agosto de 1995 o Conselho de Segurança da ONU estende as sanções relativas ao embargo de armas até à data de 1 de Setembro de 1996.

- A 28 de Agosto de 1995 vários ministros hutus seguiram Twagiramungu numa demissão que pôs fim ao primeiro Governo de Unidade Nacional após a tomada do poder pelo “FPR”.

- A 12 de Dezembro de 1995 o Tribunal da ONU para o Ruanda , anuncia as primeiras acusações contra oito suspeitos de genocídio e crimes contra a humanidade.

- A 13 de Dezembro a ONU dilata o tempo de permanência da sua missão por mais três meses, reduzindo ainda mais os seus efectivos.

- Em 1996, Twagiramungu formou na Bélgica as “FRD” (“Forças Armadas de Resistência para a Democracia”), conjuntamente com Seth Sandashonga, um hutu renegado do “FPR” que fora Ministro do Interior entre Julho e Agosto de 1994.

- Em Outubro de 1996, forças “Banyamulengue” (tutsis que haviam migrado para o leste do Zaire), iniciam a revolta contra o regime decrépito de Mobutu em apoio de Laurent Kabila e da “AFDL – CZ” (“Aliança de Forças Democráticas para a Libertação do Congo – Zaire”).

O recém formado “APR” (“Exército Patriótico do Ruanda”) destacou algumas unidades para reforçar a rebelião contra Mobutu em apoio de Laurent Kabila, sob o comando do então Coronel James Kabarebe.

- A 30 de Outubro, as “AFDL – CZ” tomaram Bukavu e a 1 de Novembro de 1996, Goma, dando início ao movimento de tropas rebeldes em direcção a oeste com vista à tomada de Kinshasa.

De acordo com o jornalista investigador Wayne Madsen, em “Genocide and covert operations in Africa – 1993 / 1999”, em função de acções planificadas pelo “Special Operations Comand” e a “Defence Intelligence Agency” , muitos operativos de inteligência convergiram para o leste do Zaire , a fim de orientar os dispositivos da “AFDL –CZ”, de Laurent Kabila, apoiada pela “FPR”, que havia tomado o poder em Kigali.

Os Estados Unidos, através do empenho da Empresa “Brown & Root”, subsidiária da “Halliburton”, construíram uma base militar em Cyangugu, junto da fronteira sudoeste do Ruanda com o Congo, a fim de treinar tropas da “FPR” e organizar as operações de logística dentro da RDC.

- Em Novembro de 1996 inicia-se o regresso massivo de refugiados por causa da entrada do “APR” (“Exército Patriótico do Ruanda”) no Zaire e o Governo do Ruanda ordena uma moratória para a detenção dos suspeitos responsáveis pelos genocídios.

- Neste mesmo mês, satélites norte americanos e aviões espiões P-3 Orion, estiveram de plantão sobre o leste do Congo, na tentativa de detectar concentrações de refugiados hutus; as informações coligidas eram encaminhadas para a coligação “AFDL-CZ” / “APR”, a fim de operar os referidos “alvos”.

Os aviões P-3 estavam estacionados no aeroporto militar de Entebbe, no Uganda, junto ao Lago Vitória.

- Num relatório de Nicholas Stockton, Director das Emergências da ONG “Oxfam UK & Ireland”, era confirmado que em data posterior, que a 20 de Novembro de 1996, os norte americanos haviam disseminado (e ele teve acesso), fotografias de satélite sobre o leste do Congo, identificando três aglomerações de refugiados hutus com mais de 500.000 pessoas, uma parte das quais foram alvo das operações dos ruandeses das “APR” em aliança com a “AFDL-CZ”.

- Em meados de Dezembro de 1996 a Tanzânia fecha os campos de refugiados e provoca o seu regresso ao Ruanda.

Cerca de um milhão de pessoas regressam às suas áreas de origem.

- Em Dezembro de 1996, na Região de Bukavu, foram detectadas forças militares norte americanas por oficiais franceses na região leste do Congo, num total de 100 homens, com o objectivo de orientar a coligação “AFDL – CZ” / “APR” no ataque a campos de refugiados.

Entre os meios detectados foi verificada a existência de helicópteros usados pelas Forças Especiais norte americanas, com capacidade de combate nocturno.

Algumas matanças de refugiados hutus ocorreram no rio Oso, perto de Goma e entre os supliciados, contaram-se alguns padres Católicos de etnia hutu.

- Nessa data, a revista francesa “Valleurs Actuelles” dava conta que um avião espião francês, DC-8 “Sarigue”, com capacidade de inteligência electrónica (“ELLINT”), havia circulado sobre o massacre do rio Oso e detectado a presença das forças ruandesas através da emissão-rádio de postos colocados no terreno, facto que teria sido confirmado por unidades especiais francesas colocadas no terreno para observação e reconhecimento.

- A 4 de Dezembro de 1996, Vincent Kern, Assistente Adjunto do Secretário da Defesa, perante um Subcomité da Casa das Operações Internacionais e dos Direitos Humanos, confirmou que o treino da “FPR” havia sido executado ao abrigo dum programa chamado “Enhanced International Military Education and Training” (“E-IMET”).

- Desde 1996 que as taxas de crescimento anual do Produto Interno Bruto do Ruanda se incrementaram numa escala de 10%.

Apesar da continuação das tensões e do conflito que se trasladou para o território do leste do Congo, a economia ruandesa, com a ajuda internacional, iniciou uma lenta recuperação.

- A 10 de Janeiro de 1997, no Tribunal instalado na cidade Tanzaniana de Arusha, são julgados os primeiros casos de genocídio e crimes contra a humanidade, nomeadamente Jean Paul Akayesu e François Bizimutima, ambos condenados à morte.

- A 22 de Janeiro cerca de 300 pessoas foram mortas pelas tropas governamentais ruandesas no noroeste do Ruanda, quando a “FPR” tentava prender alguns dos implicados nos genocídios que regressavam ao Ruanda misturados com os refugiados.

- A 2 de Fevereiro, em Gokomgoro, é julgado pela primeira vez na sua própria localidade de origem, um genocida, Venuste Niyonzima.

- A 4 de Fevereiro de 1997, em Cyangugu, cinco observadores dos direitos humanos pertencentes à ONU são mortos numa emboscada aparentemente perpetrada por terroristas hutus.

De imediato a ONU retira os seus observadores dos direitos humanos de Cyangugu, Kibuye e Gisenyi, concentrando-os em Kigali.

- A 14 de Fevereiro de 1997 o Secretário Geral da ONU comunica aos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança que o governo zairense estava a fornecer armas aos refugiados hutus instalados nos campos de refugiados no leste do então Zaire.

- Nessa mesma data é sentenciado à morte Frodouald Karamina, um dos líderes e ideólogos do movimento extremista hutu e mentor do “Hutu Power”.
De nascença ele era um tutsi, tendo-se convertido num defensor da causa hutu ao longo da sua vida.

A sua execução registou-se a 24 de Abril de 1994.

- A 17 de Maio de 1997 os rebeldes da “AFDL – CZ” entram em Kinshasa apoiados pelo “APR”, derrubando o regime de Mobutu, proclamando-se Laurent Kabila, Presidente da República Democrática do Congo.

A vitória de Laurent Kabila resultou duma coligação envolvendo Yoweri Museveni, Paul Kagame e o próprio Laurent Kabila, sob os auspícios dos Estados Unidos, ciosos de reduzir a expressão do “pré carré” da França em África e explorando o êxito da tomada do poder no Ruanda, por parte da “FPR”.

A geo estratégia da administração democrata de Bill Clinton para a África Central saía vitoriosa, mas tornava-se cada vez mais visível que os seus interesses essenciais recaíam sobre as enormes riquezas naturais do país.

- Em Setembro de 1997 o “Jane’s Foreign Report”, citando fontes de inteligência alemãs, dava a conhecer o treino apressado de soldados “kadogos” (com idade inferior a 18 anos), por parte dos norte americanos, a fim de reforçar os dispositivos do “AFDL-CZ” que tinham como objectivo principal a tomada de Kinshasa e o derrube do regime de Mobutu.

- Em Maio de 1998 Seth Sandashonga, do “FRD”, é morto num atentado em Nairobi por um comando do “APR”.

- Em Julho de 1998 , o Presidente Laurent Kabila rompe com os seus aliados tutsis e destitui o Chefe de Estado Maior das “FAC”, (“Forças Armadas Congolesas”), o então Coronel James Kabarehe (arquitecto da ofensiva vitoriosa da “AFDL – CZ” no derrube do regime de Mobutu), pelo que a 2 de Agosto iniciou-se a revolta contra o seu regime, desencadeada com a participação do “APR”.

A presença de tropas ruandesas no Congo em reforço dos rebeldes que entretanto haviam criado o “RCD”, (“Reagrupamento Congolês para a Democracia”), a 12 de Agosto de 1998, em Kigali, só viria a ser reconhecida pelo Presidente Paul Kagame a 6 de Novembro de 1998.

- A 15 de Julho de 1998, uma equipa de forças especiais norte americanas, ao abrigo do programa J-CET, treinaram unidades ruandesas que foram colocadas em acção no teatro operacional da RDC logo que começou a revolta contra o regime de Laurent Kabila.

- A 6 de Agosto de 1998, 20 homens do “Rwanda Interagency Assessment Team” encontravam-se ao serviço em Kigali a fim de assessorar a revolta contra o regime de Laurent Kabila instalado em Kisnhasa; esse grupo havia sido deslocado para o Ruanda a partir do Comando Europeu dos Estados Unidos, na Alemanha.

- Nesse mesmo mês, padres da missão Católica de Ksika, no Kivu, deram a conhecer um massacre de 800 refugiados hutus naquela missão, incluindo alguns católicos ruandeses, perpetrado pelo “APR”.

- Em Outubro de 1998 é criado na RDC , por antigos mobutistas, o “MLC”, colocado sob a Chefia de Jean Pierre Bemba e com o suporte do Uganda e de antigos personagens ligadas à inteligência francesa, entre eles Jean Yves Olivier.

Desenhava-se já nessa altura o início das tensões, em território congolês, dos interesses dos ugandeses para com os interesses ruandeses, que tiveram o seu principal cenário a cidade de Kisangani.

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