Martinho Júnior,
Luanda
A 17 DE ABRIL DE
2004 O Nº 392 DO “ACTUAL”, SEMANÁRIO DE LUANDA JÁ EXTINTO PUBLICAVA, FAZ EM
BREVE DEZ ANOS, A 3ª PARTE DA CRONOLOGIA SOBRE O RUANDA E OS GRANDES LAGOS,
ENTRE OUTROS ARTIGOS QUE EVOCAVAM A SITUAÇÃO NAQUELA REGIÃO FULCRAL DE ÁFRICA.
OS DADOS FORAM
RECOLHIDOS E COMPENDIADOS POR MIM E POR LEOPOLDO BAIO, DIRECTOR DO “ACTUAL”.
TORNAVA-SE VISÍVEL
O PAPEL DA FRANÇA E DOS ESTADOS UNIDOS, COM IMPLICAÇÕES DIRECTAS NOS
ACONTECIMENTOS E COM DISTINTAS VISÕES GEO-ESTRATÉGICAS E GEO-POLÍTICAS.
UM NEO-COLONIALISMO
DE “NOVA GERAÇÃO” INSTALAVA-SE EM ÁFRICA, SOB OS AUSPÍCIOS DO IMPÉRIO E TIRANDO
PARTIDO DE SUAS CAPACIDADES DE GLOBALIZAÇÃO CAPITALISTA E NEO LIBERAL, CHOCANDO
NA ALTURA COM O “PRÉ CARRÉ” FRANCÊS!
A FRANÇA
REPRESENTAVA O PASSADO COLONIAL E OS ESTADOS UNIDOS A ALTERNATIVA NEO-COLONIAL.
ESTES
ACONTECIMENTOS ESTIVERAM NA FORJA DO AFRICOM E CONTRIBUÍRAM MAIS TARDE PARA A
DECISÃO DE SUA IMPULSÃO.
VOLTAR A FAZER UMA
AVALIAÇÃO, DESDE AS CAUSAS PROFUNDAS DAS TRANSFORMAÇÕES SANGRENTAS E DRÁSTICAS
QUE OCORRERAM, É IMPRESCINDÍVEL PARA AQUELES QUE ASSUMEM A OUSADIA DE LANÇAREM
A PAZ PAN-AFRICANA, COMO O PRESIDENTE JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS E O PRESIDENTE
JACOB ZUMA!
- A 7 de Abril de
1994, as “FAR” (“Forças Armadas do Ruanda”), efectivos da Guarda Presidencial,
da Polícia e as milícias “Interahamwe” iniciaram uma busca, casa a casa,
massacrando a população tutsi e todos os hutus considerados “moderados”.
Logo nos primeiros
dias morreram milhares de pessoas, sem que as forças da ONU interviessem (eles
haviam sido proibidos de intervir, ao contrário das pretensões do seu
comandante, o General Canadiano Romeo Dalaire).
O Secretário Geral
da ONU preferiu as interpretações do seu Enviado Booh Booh, à linguagem rude
mas realista do General Romeo Dalaire. No espaço de três meses haveriam de
morrer cerca de um milhão de pessoas.
- Perante os
massacres o “FPR” iniciou uma grande ofensiva com o alegado fito de parar com o
genocídio e resgatar os 600 homens seus que se encontravam estacionados em
Kigali, sob o Comando do Tenente Coronel Charles Kayonga, com base no Acordo de
Arusha e resguardados pelos efectivos da ONU que compunham a MINUAR.
A nível
internacional, Paul Kagame advertiu as potências com interesses geo-políticos
na Região, a França, a Bélgica e os Estados Unidos, para se absterem de
realizar operações humanitárias que pudessem contribuir para fortalecer as
políticas genocidas em marcha; na verdade ele procurava garantir o caminho
livre para as suas forças.
As operações do “FPR”
em Kigali foram sincronizadas com a perpetração do assassinato dos dois Presidentes
pois a essa data elevavam-se a 4.000 os efectivos seus, à civil, que se
encontravam na capital ruandesa, para além dos 600 homens que se encontravam na
capital em função do Acordo de Arusha.
- Um Relatório da
CIA advertindo em tempo oportuno para a possibilidade dum genocídio da ordem
das 500.000 pessoas não foi levado a sério pela administração democrata de Bill
Clinton, que só começou a reagir tarde demais e em estrito reforço das medidas
do “FPR”, contribuindo para instalar no poder a “minoria tutsi” e instaurar uma
política de terror que acabou por impor o regime de Paul Kagame.
- A 8 de Abril de
1994 o Coronel belga Luc Marchal, da MINUAR, confirma a chegada de armamento a
Kigali , entregue às “FAR” nesse mesmo dia, com a utilização dum avião que no
regresso levou repatriados de países ocidentais.
- A 9 de Abril
assumiu a Presidência do Governo Interino (“GIR”) do Ruanda, o Presidente do
Parlamento, Théodore Sindikubwabo, do “MRND”, tendo como Chefe do Governo
Provisório Jean Kambanda, do partido hutu “MDR”.
Nesse mesmo dia é
repatriada para Paris a viúva do Presidente assassinado, Agathe Habyarimana,
conhecida por ser uma das pessoas inspiradoras das “Redes Zero” e cuja família
se encontrava no “coração dos genocidários”.
Nesse mesmo dia o
embaixador francês em Kigali, Jean Michel Marlaud, mandou destruir todos os
arquivos da Embaixada.
- A 10 de Abril um
comando militar francês foi enviado ao local da queda do avião Presidencial
abatido.
- A 12 de Abril o “FPR”
conseguiu chegar a Kigali a fim de , com essa manobra ofensiva, “resgatar o seu
efectivo de 600 homens”, acabando por provocar a fuga precipitada do Governo em
direcção a Gitarama e tornando mais caótica a ponte aérea de evacuação de
cidadãos ocidentais do país.
As Embaixadas da
Bélgica e da França encerraram e o seu pessoal foi precipitadamente evacuado.
- A 21 de Abril de
1994 as forças da ONU passaram a um efectivo de 250 homens, depois de 10
soldados belgas da guarda pessoal do então Primeiro Ministro hutu, Agathe
Uwiliyingimana, terem sido assassinados conjuntamente com ele, no seguimento de
ordens do seu Comandante, no sentido de não se opor resistência (em função do
convencionado papel da ONU no Ruanda).
A Resolução 2.700
do Conselho de Segurança reduzia o pessoal da ONU a 450 homens, entre capacetes
azuis e observadores, por voto da França.
- A 30 de Abril de
1994 perante uma situação explosiva no Ruanda, o Conselho de Segurança teve uma
prolongada reunião de oito horas que condenou os assassinatos (sem mesmo assim
pronunciar a palavra genocídio) e conferindo finalmente a ordem de prevenir e
punir aqueles que estavam implicados nas matanças.
A França opôs-se à
qualificação de genocídio.
Entretanto dezenas
de milhar de refugiados abandonam precipitadamente o país com destino à
Tanzânia, ao Burundi e ao Zaire, entre os quais cerca de 250.000 hutus que
fugiam ao progressivo avanço do “FPR”.
- De 9 a 13 de Maio
visita a Missão de Cooperação Militar comandada há mais de um ano pelo General
Jean Pierre Huchon, o Chefe do Estado Maior Adjunto das “FAR”, Edfrem
Rwabalinda.
Era na altura Chefe
do Estado Maior das “FAR” o General Augustin Bizimungu.
- A 17 de Maio de
1994 as Nações Unidas acorda enviar 6.800 homens, entre militares e polícias,
para o Ruanda, com instruções para defender os civis.
Uma Resolução do
Conselho de Segurança pela primeira vez confirma a existência de “actos de
genocídio”.
O deslocamento de
forças foi no entanto retardado pois não se sabia quem havia de pagar a essas
tropas e quem haveria de fornecer os equipamentos apropriados.
As sanções no
sentido de não haver fornecimentos de armas aos contendores, não foram
adoptadas por impedimento da França.
- A 22 de Maio de
1994 as “FAR” perdem o controlo do Aeroporto de Kigali a favor do “FPR”.
- A 25 de Maio de
1994 é enviada uma mensagem da Embaixada do Ruanda no Cairo, anunciando um
fornecimento de 35 toneladas de armas por um valor de 765.000 USD; o documento
menciona que a transacção foi feita em Paris.
Nessa data aterrava
em Goma, no Zaire, por diversas ocasiões, um Boeing 707 que transportava armas
para as “FAR”.
- A 13 de Junho o “FPR”
tomou Gitarama e o Governo instalou-se em Kibuye.
A derrocada total
das “FAR” tornava-se eminente.
- Pela primeira
vez, a 16 de Junho de 1994, o Ministro dos Negócios Estrangeiros Francês Alain
Juppé aceita usar o termo “genocídio” , em relação ao assassinato massivo de
tutsis e de hutus ditos “moderados” no Ruanda.
- A 22 de Junho de
1994, ainda sem enviarem forças, a ONU autoriza a deslocação de tropas
francesas para o sudoeste do Ruanda, localidades de Cyangugu e Kikongoro (cerca
de 2.500 homens), que deram início à “Opération Turquoise”.
Elas criaram uma “área
de abrigo” no território controlado pelo Governo, onde o assassinato de tutsis,
segundo algumas fontes, continuou mesmo assim.
Pela primeira vez o
governo dos Estados Unidos pronunciou a palavra “genocídio”, ao qualificar o
desenrolar dos acontecimentos.
- A 4 de Julho de
1994 o “FPR” captura finalmente Kigali e Butare, obrigando o governo hutu a
refugiar-se no Zaire, seguido por uma avalanche de refugiados.
A missão francesa
foi substituída pelos etíopes às ordens das Nações Unidas.
O “FPR” instalou um
Governo Interino de Unidade Nacional em Kigali e elementos tutsis afectos
iniciaram uma retaliação ao genocídio.
Vários milhares de
civis foram executados, entre eles o Arcebispo Católico de Kigali.
A cólera tomou
conta dos campos de refugiados no Zaíre, matando vários milhares.
Um torrente massiva
de refugiados entrou no Zaire durante este período.
- A 19 de Julho de
1994 é formado um Governo de Unidade Nacional, tendo à frente o hutu do “MDR” Faustin
Twagiramungu, decisão tomada a partir do Acordo de Arusha e tendo como
Vice-Presidente, Paul Kagame, ao mesmo tempo Ministro da Defesa.
Integraram esse
governo alguns partidos hutu, nomeadamente o “PSD” (“Partido Social Democrata”),
o “PL” (“Partido Liberal”) e o “PDC” (“Partido Democrata Cristão”),
excluindo-se o “MRND” por sua participação nos massacres.
Para a Presidência
é escolhido o hutu Pasteur Bizimungu, um tecnocrata que era colocado nesse
posto na tentativa de apaziguar o antagonismo entre hutus e tutsis.
- No Zaire,
nomeadamente na região de Goma, estimava-se em 1.200.000 o número de refugiados
ruandeses fugidos da tomada do poder pela “FPR” e das retaliações levadas a
cabo pelas novas autoridades.
Durante a “Operation
Turquoise” é permitido que os genocidas em fuga dêem entrada no Zaire e o
General Augustin Bizimungu, Chefe do Estado Maior das “FAR”, é visto em Goma a
bordo dum veículo militar francês.
Os franceses, em
sequência dessa Operação, implementaram o treino das “Forças Armadas Zairenses”
e das “FAR” no Leste do Congo.
- Com a tomada do
poder é suspensa a Constituição de 1991 e declarada a Lei Marcial.
Na prática é o “FPR”
o único Partido que pôde difundir as suas actividades.
- Em Agosto de
1994, perante o conhecimento da dimensão do genocídio, o novo governo do Ruanda
aceita a instauração dum Tribunal Penal Internacional estabelecido pelo
Conselho de Segurança da ONU a fim de julgar os genocidas.
O referido Tribunal
instala-se em Novembro desse ano na cidade tanzaniana de Arusha.
- A 8 de Novembro
de 1994 reúne-se de novo a Cimeira Franco Africana em Biarritz, mas o novo
governo ruandês não é convidado.
- A 25 de Novembro
de 1994 a França cede às pressões da União Europeia e, finalmente, após um
bloqueio de vários meses, é concedido um primeiro auxílio ao novo governo do
Ruanda por parte da União Europeia, no valor de 67 milhões de Euros.
- A 12 de Dezembro
de 1994 é constituída uma Assembleia Nacional de Transição com 70 membros,
integrando representantes de vários Partidos não implicados no genocídio.
- De 5 a 10 de
Janeiro de 1995 a ONU começa um processo para fazer regressar ao Ruanda cerca
de 1.500.000 refugiados que se encontravam nos países vizinhos, nos cinco meses
seguintes, não aceitando contudo o envio duma força policial a fim de garantir
a segurança nos campos de refugiados.
- A 19 de Fevereiro
de 1995 os países ocidentais, incluindo os Estados Unidos, forneceram um apoio
no valor de 600 milhões de USD para as operações de carácter humanitário que
eram muito urgentes.
- A 27 de Fevereiro
de 1995 o Conselho de Segurança das Nações Unidas pediu a todos os estados para
prenderem pessoas suspeitas de envolvimento no genocídio do Ruanda.
- Numa tentativa de
fechar o campo de refugiados de Kibeho, no sudoeste do Ruanda, as forças
governamentais abriram fogo matando 330 civis, de acordo com as suas próprias
estimativas, tornadas públicas; de acordo com a ONU, teriam havido 2.000
mortos; de acordo com as ONGs, 8.000.
- A 5 de Maio de
1995 a Assembleia Nacional de Transição aprovou uma Lei Fundamental de carácter
Constitucional , com base em alguns artigos da Carta Magna de 1991 , alguns
termos do Acordo de Arusha de 1993, a declaração de vitória da “FPR” , de Julho
de 1994 e um Protocolo de Entendimento multi-partidário, elaborado em Novembro
de 1994.
- Em Maio de 1995
aumentaram as tensões entre as Nações Unidas e o novo governo do Ruanda por
causa da falta de ajuda financeira internacional para fazer face à situação dos
refugiados.
No seguimento
dessas tensões o governo do Ruanda solicitou a retirada dos capacetes azuis do
Ruanda, pelo que o Conselho de Segurança decidiu por unanimidade reduzir a
metade o efectivo da ONU.
- Numa avaliação
aos estragos económicos provocados pelo holocausto do genocídio confirmou-se
que o ano de 1994 registara uma baixa no Produto Interno Bruto da ordem dos
50%, pelo que o país, a fim de se começar a reabilitar de acordo com as
decisões do seu governo, declarou uma economia liberal , solicitando a imediata
ajuda do FMI.
- Em Julho de 1995
mais de 720.000 refugiados Ruandeses que estavam estacionados na região de Goma
recusam-se a regressar ao Ruanda.
O país registava
3.500.000 deslocados (cerca de metade da sua população total), dos quais
2.500.000 estavam refugiados em países vizinhos (1.500.000 no Zaire, 500.000 na
Tanzânia, 400.000 no Burundi) e 1.000.000 na “área de abrigo” propiciada pela “Operação
Turquoise”.
- A 23 de Julho de
1995 os Estados Unidos iniciaram a ponte aérea de apoio humanitário, “Support
Hope”, conseguindo suster a epidemia da cólera.
- Em Agosto de 1995
o Conselho de Segurança da ONU estende as sanções relativas ao embargo de armas
até à data de 1 de Setembro de 1996.
- A 28 de Agosto de
1995 vários ministros hutus seguiram Twagiramungu numa demissão que pôs fim ao
primeiro Governo de Unidade Nacional após a tomada do poder pelo “FPR”.
- A 12 de Dezembro
de 1995 o Tribunal da ONU para o Ruanda , anuncia as primeiras acusações contra
oito suspeitos de genocídio e crimes contra a humanidade.
- A 13 de Dezembro
a ONU dilata o tempo de permanência da sua missão por mais três meses,
reduzindo ainda mais os seus efectivos.
- Em 1996,
Twagiramungu formou na Bélgica as “FRD” (“Forças Armadas de Resistência para a
Democracia”), conjuntamente com Seth Sandashonga, um hutu renegado do “FPR” que
fora Ministro do Interior entre Julho e Agosto de 1994.
- Em Outubro de
1996, forças “Banyamulengue” (tutsis que haviam migrado para o leste do Zaire),
iniciam a revolta contra o regime decrépito de Mobutu em apoio de Laurent
Kabila e da “AFDL – CZ” (“Aliança de Forças Democráticas para a Libertação do
Congo – Zaire”).
O recém formado “APR”
(“Exército Patriótico do Ruanda”) destacou algumas unidades para reforçar a
rebelião contra Mobutu em apoio de Laurent Kabila, sob o comando do então
Coronel James Kabarebe.
- A 30 de Outubro,
as “AFDL – CZ” tomaram Bukavu e a 1 de Novembro de 1996, Goma, dando início ao
movimento de tropas rebeldes em direcção a oeste com vista à tomada de
Kinshasa.
De acordo com o
jornalista investigador Wayne Madsen, em “Genocide and covert operations in
Africa – 1993 / 1999”, em função de acções planificadas pelo “Special
Operations Comand” e a “Defence Intelligence Agency” , muitos operativos de
inteligência convergiram para o leste do Zaire , a fim de orientar os
dispositivos da “AFDL –CZ”, de Laurent Kabila, apoiada pela “FPR”, que havia
tomado o poder em Kigali.
Os Estados Unidos,
através do empenho da Empresa “Brown & Root”, subsidiária da “Halliburton”,
construíram uma base militar em Cyangugu, junto da fronteira sudoeste do Ruanda
com o Congo, a fim de treinar tropas da “FPR” e organizar as operações de
logística dentro da RDC.
- Em Novembro de
1996 inicia-se o regresso massivo de refugiados por causa da entrada do “APR” (“Exército
Patriótico do Ruanda”) no Zaire e o Governo do Ruanda ordena uma moratória para
a detenção dos suspeitos responsáveis pelos genocídios.
- Neste mesmo mês,
satélites norte americanos e aviões espiões P-3 Orion, estiveram de plantão
sobre o leste do Congo, na tentativa de detectar concentrações de refugiados
hutus; as informações coligidas eram encaminhadas para a coligação “AFDL-CZ” /
“APR”, a fim de operar os referidos “alvos”.
Os aviões P-3
estavam estacionados no aeroporto militar de Entebbe, no Uganda, junto ao Lago
Vitória.
- Num relatório de
Nicholas Stockton, Director das Emergências da ONG “Oxfam UK & Ireland”,
era confirmado que em data posterior, que a 20 de Novembro de 1996, os norte
americanos haviam disseminado (e ele teve acesso), fotografias de satélite
sobre o leste do Congo, identificando três aglomerações de refugiados hutus com
mais de 500.000 pessoas, uma parte das quais foram alvo das operações dos
ruandeses das “APR” em aliança com a “AFDL-CZ”.
- Em meados de
Dezembro de 1996 a Tanzânia fecha os campos de refugiados e provoca o seu
regresso ao Ruanda.
Cerca de um milhão
de pessoas regressam às suas áreas de origem.
- Em Dezembro de
1996, na Região de Bukavu, foram detectadas forças militares norte americanas
por oficiais franceses na região leste do Congo, num total de 100 homens, com o
objectivo de orientar a coligação “AFDL – CZ” / “APR” no ataque a campos de
refugiados.
Entre os meios
detectados foi verificada a existência de helicópteros usados pelas Forças
Especiais norte americanas, com capacidade de combate nocturno.
Algumas matanças de
refugiados hutus ocorreram no rio Oso, perto de Goma e entre os supliciados,
contaram-se alguns padres Católicos de etnia hutu.
- Nessa data, a
revista francesa “Valleurs Actuelles” dava conta que um avião espião francês,
DC-8 “Sarigue”, com capacidade de inteligência electrónica (“ELLINT”), havia
circulado sobre o massacre do rio Oso e detectado a presença das forças
ruandesas através da emissão-rádio de postos colocados no terreno, facto que
teria sido confirmado por unidades especiais francesas colocadas no terreno
para observação e reconhecimento.
- A 4 de Dezembro
de 1996, Vincent Kern, Assistente Adjunto do Secretário da Defesa, perante um
Subcomité da Casa das Operações Internacionais e dos Direitos Humanos,
confirmou que o treino da “FPR” havia sido executado ao abrigo dum programa chamado
“Enhanced International Military Education and Training” (“E-IMET”).
- Desde 1996 que as
taxas de crescimento anual do Produto Interno Bruto do Ruanda se incrementaram
numa escala de 10%.
Apesar da
continuação das tensões e do conflito que se trasladou para o território do
leste do Congo, a economia ruandesa, com a ajuda internacional, iniciou uma
lenta recuperação.
- A 10 de Janeiro
de 1997, no Tribunal instalado na cidade Tanzaniana de Arusha, são julgados os
primeiros casos de genocídio e crimes contra a humanidade, nomeadamente Jean
Paul Akayesu e François Bizimutima, ambos condenados à morte.
- A 22 de Janeiro
cerca de 300 pessoas foram mortas pelas tropas governamentais ruandesas no
noroeste do Ruanda, quando a “FPR” tentava prender alguns dos implicados nos
genocídios que regressavam ao Ruanda misturados com os refugiados.
- A 2 de Fevereiro,
em Gokomgoro, é julgado pela primeira vez na sua própria localidade de origem,
um genocida, Venuste Niyonzima.
- A 4 de Fevereiro
de 1997, em Cyangugu, cinco observadores dos direitos humanos pertencentes à
ONU são mortos numa emboscada aparentemente perpetrada por terroristas hutus.
De imediato a ONU
retira os seus observadores dos direitos humanos de Cyangugu, Kibuye e Gisenyi,
concentrando-os em Kigali.
- A 14 de Fevereiro
de 1997 o Secretário Geral da ONU comunica aos cinco membros permanentes do
Conselho de Segurança que o governo zairense estava a fornecer armas aos
refugiados hutus instalados nos campos de refugiados no leste do então Zaire.
- Nessa mesma data
é sentenciado à morte Frodouald Karamina, um dos líderes e ideólogos do
movimento extremista hutu e mentor do “Hutu Power”.
De nascença ele era
um tutsi, tendo-se convertido num defensor da causa hutu ao longo da sua vida.
A sua execução
registou-se a 24 de Abril de 1994.
- A 17 de Maio de
1997 os rebeldes da “AFDL – CZ” entram em Kinshasa apoiados pelo “APR”,
derrubando o regime de Mobutu, proclamando-se Laurent Kabila, Presidente da
República Democrática do Congo.
A vitória de
Laurent Kabila resultou duma coligação envolvendo Yoweri Museveni, Paul Kagame
e o próprio Laurent Kabila, sob os auspícios dos Estados Unidos, ciosos de
reduzir a expressão do “pré carré” da França em África e explorando o êxito da
tomada do poder no Ruanda, por parte da “FPR”.
A geo estratégia da
administração democrata de Bill Clinton para a África Central saía vitoriosa,
mas tornava-se cada vez mais visível que os seus interesses essenciais recaíam
sobre as enormes riquezas naturais do país.
- Em Setembro de
1997 o “Jane’s Foreign Report”, citando fontes de inteligência alemãs, dava a
conhecer o treino apressado de soldados “kadogos” (com idade inferior a 18
anos), por parte dos norte americanos, a fim de reforçar os dispositivos do “AFDL-CZ”
que tinham como objectivo principal a tomada de Kinshasa e o derrube do regime
de Mobutu.
- Em Maio de 1998
Seth Sandashonga, do “FRD”, é morto num atentado em Nairobi por um comando do “APR”.
- Em Julho de 1998
, o Presidente Laurent Kabila rompe com os seus aliados tutsis e destitui o
Chefe de Estado Maior das “FAC”, (“Forças Armadas Congolesas”), o então Coronel
James Kabarehe (arquitecto da ofensiva vitoriosa da “AFDL – CZ” no derrube do
regime de Mobutu), pelo que a 2 de Agosto iniciou-se a revolta contra o seu
regime, desencadeada com a participação do “APR”.
A presença de
tropas ruandesas no Congo em reforço dos rebeldes que entretanto haviam criado
o “RCD”, (“Reagrupamento Congolês para a Democracia”), a 12 de Agosto de 1998,
em Kigali, só viria a ser reconhecida pelo Presidente Paul Kagame a 6 de
Novembro de 1998.
- A 15 de Julho de
1998, uma equipa de forças especiais norte americanas, ao abrigo do programa
J-CET, treinaram unidades ruandesas que foram colocadas em acção no teatro
operacional da RDC logo que começou a revolta contra o regime de Laurent
Kabila.
- A 6 de Agosto de
1998, 20 homens do “Rwanda Interagency Assessment Team” encontravam-se ao
serviço em Kigali a fim de assessorar a revolta contra o regime de Laurent
Kabila instalado em Kisnhasa; esse grupo havia sido deslocado para o Ruanda a
partir do Comando Europeu dos Estados Unidos, na Alemanha.
- Nesse mesmo mês,
padres da missão Católica de Ksika, no Kivu, deram a conhecer um massacre de
800 refugiados hutus naquela missão, incluindo alguns católicos ruandeses,
perpetrado pelo “APR”.
- Em Outubro de
1998 é criado na RDC , por antigos mobutistas, o “MLC”, colocado sob a Chefia
de Jean Pierre Bemba e com o suporte do Uganda e de antigos personagens ligadas
à inteligência francesa, entre eles Jean Yves Olivier.
Desenhava-se já
nessa altura o início das tensões, em território congolês, dos interesses dos
ugandeses para com os interesses ruandeses, que tiveram o seu principal cenário
a cidade de Kisangani.
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