Martinho Júnior,
Luanda
O CONFLITO NO RUANDA EXTRAVASOU PARA O CONGO E A SUA ONDA DE CHOQUE ESTENDEU-SE
EM DIRECÇÃO AO SUDÃO E A ANGOLA (Iª GUERRA MUNDIAL AFRICANA”).
POR ESSA RAZÃO O CONGO PASSOU A SER O PALCO PRINCIPAL DOS CONFLITOS, NO
RESCALDO DO COLAPSO DO REGIME DE MOBUTU.
MILHÕES DE MORTOS, FERIDOS E DESLOCADOS MULTIPLICARAM O GENOCÍDIO DO RUANDA.
ANGOLA TEVE OPORTUNIDADE ASSIM DE NEUTRALIZAR A RECTAGUARDA DE SAVIMBI, DE
FORMA A PROVOCAR O ACELERAR DO SEU COLAPSO, APESAR DO ASSASSINATO DO SEU ALIADO
LAURENT KABILA.
OS DADOS VICIADOS DA GEO-ESTRATÉGIA DO IMPÉRIO ESTENDIAM-SE: A Iª GUERRA
MUNDIAL AFRICANA ERA POR SI UMA GUERRA PELO DOMÍNIO DO CORAÇÃO DE ÁFRICA,
ANTECIPANDO A FORMAÇÃO DO AFRICOM E TIRANDO A BÉLGICA E A FRANÇA, ENQUANTO
CONCORRENTES, DO CAMINHO.
ERA SIMULTANEAMENTE UMA GUERRA NO ÂMBITO DOS ANSEIOS DO CAPITALISMO NEO LIBERAL
EM RELAÇÃO A ÁFRICA, OU SEJA, UMA GUERRA QUE PERMITIA SEQUELAS DE TODA A ORDEM,
DE DISPUTA EM DISPUTA PELO ACESSO ÀS IMENSAS RIQUEZAS NATURAIS DO CONTINENTE,
NA REGIÃO CENTRAL E FULCRAL DA ÁGUA INTERIOR.
HÁ DOZE ANOS QUE SE CALARAM AS ARMAS EM ANGOLA, MAS AS SEQUELAS PROLONGAM-SE
ATÉ AOS NOSSOS DIAS E A PAZ NOS GRANDES LAGOS CONTINUA A SER O PRINCIPAL
ASSUNTO EM DISCUSSÃO SOBRE A MESA!
ASSIM ÁFRICA CONTINUA A SENTIR O PESO DA HEGEMONIA UNIPOLAR DO IMPÉRIO, DE
ESCOMBRO EM ESCOMBRO E AGORA, MAIS QUE NUNCA, “ABERTA AOS INVESTIMENTOS”!
- A 10, 30 e 31 de Julho de 1999, é assinado em Lusaka um Acordo de cessar-fogo
entre todos os beligerantes na RDC, que não foi imediatamente cumprido, até por
que o regime ruandês dava sinais de que não estava preparado para o
implementar.
- Em Agosto de 1999 deu-se um primeiro choque entre o “UPDF” (“Forças de Defesa
Patriótica do Uganda”) e o “APR”, pela posse da cidade de Kisangani, provocando
entretanto cisões no “RCD”: a tendência ugandesa passou a ser chefiada por
Ernest Wamba dia Wamba e a pró ruandesa (que passaria a ter sede em Goma), por
Émile Ilunga.
- Em Dezembro de 1999, prosseguindo os julgamentos, o Tribunal de Arusha
condenou o comerciante Georges Rutaganda à prisão perpétua por genocídio e
crimes contra a humanidade.
- Nesse ano, a Federação Internacional dos Direitos Humanos publicou um
Relatório de 931 páginas, Edições Kartala, em Paris, fazendo um inventário
geral da evolução terrível da situação no Ruanda e apurando responsabilidades.
- Em 2000, com a radicalização do poder em torno dos tutsis, pedem a demissão
dos seus cargos o Presidente da Assembleia Nacional ruandesa, Joseph Kabuye
Sebarenzi (a 6 de Janeiro), o Primeiro Ministro sucessor de Twagiramungu,
Pierre Célestin Rwigema (a 28 de Fevereiro) e o Presidente Pasteur Bizimungu
(23 de Março).
- Paul Kagame, com a saída da Presidência de Pasteur Bizimungu, é investido
como Presidente até às eleições de 2003 pela Assembleia Nacional Transitória.
- Em Maio de 2000, uma segunda confrontação entre tropas ugandesas e ruandesas
pela posse de Kisangani acabou com a derrota dos ugandeses que se retiram
daquela cidade, entregue à influência ruandesa e à supremacia dos seus
interesses no oeste do Katanga e uma parte substancial do Kivu.
- Em Janeiro de 2001 o Presidente Laurent Kabila foi assassinado em Kinshasa,
praticamente na mesma altura em que o Candidato Republicano George W. Bush, que
havia ganho as eleições Presidenciais nos Estados Unidos, assume o poder em
substituição do Democrata Bill Clinton.
A mudança iria influenciar fortemente na evolução da situação, pois com o
“lobby” de suporte republicano, os Estados Unidos, enquanto potência
hegemónica, deram preferência à geo estratégia do petróleo no Golfo da Guiné,
em estreita sincronização com a geo estratégia relativa à bacia do grande
Congo, alterando a geo estratégia de sinal democrata cuja base de sustentação
era o “lobby” dos minerais, tendo o cartel dos diamantes, do ouro e do “coltan”
em posição preponderante.
- Em 2001 várias entidades a nível internacional, entre elas o Presidente da
Namíbia, Sam Nujoma, acusaram os regimes do Uganda e do Ruanda de perpetrarem
atrocidades no leste do Congo desde 1998, provocando mais de 2.000.000 de
vítimas.
- Em Maio de 2001 restos das ex-“FAR” e ex-milícias “Interahamwe” desencadearam
operações em toda a faixa oeste do território do Ruanda.
De acordo com os dados fornecidos pelo “APR” a resposta governamental ruandesa
teria causado a morte de pelo menos 700 guerrilheiros e a captura de cerca de
500.
- Em Junho de 2001, Pasteur Bizimungu sofreu prisão domiciliária no seguimento
da criação do seu próprio Partido e após a sua demissão de Presidente da
República do Ruanda.
- A 15 de Fevereiro de 2001, Paul Kagame esteve presente em Lusaka onde se
celebrou um Acordo sobre o Congo que veio a possibilitar a retirada paulatina
de cerca dos 20.000 efectivos do “APR” do Congo.
- De 25 de Fevereiro a 12 de Abril de 2002 realizou-se a Conferência-Diálogo
sobre a RDC, em Sun City, com a presença dos agrupamentos rebeldes apoiados
pelo Ruanda, que produziu um conjunto de Resoluções que serviram de apoio às
decisões posteriores, não só para a formação dum Governo de Transição na RDC,
mas sobretudo para a retirada das forças estrangeiras do solo congolês.
- A 30 de Julho de 2002 o Presidente congolês Joseph Kabila e o ruandês , Paul
Kagame assinaram em Pretória um Acordo de Paz na presença do Presidente sul
africano Thabo M’Beki e do Secretário Geral da ONU, Kofi Annan, prevendo a
retirada do contingente do “APR” do território congolês.
Em relação à instauração da paz na RDC, o Presidente Paul Kagame preferiu o
“eixo” Kigali – Kinshasa – Pretória, até por que a África do Sul havia
fornecido armamento à causa da “FPR” e do “APR”, depois daquele haver tomado o
poder no Ruanda, correspondendo ao peso do cartel dos diamantes na África do
Sul.
- Apesar do cepticismo que caracterizava os argumentos da maior parte dos
analistas sobre a evolução da situação na RDC, a 13 de Setembro de 2002, no
Conselho de Segurança da ONU em Nova York, o Presidente Paul Kagame confirmava
que as forças ruandesas, que haviam colocado 30.000 homens na RDC, iam iniciar
imediatamente a retirada de solo congolês, tomando aliás a dianteira no
processo de saída do Congo, em relação ao Uganda.
- No final do mês de Agosto de 2002 o Uganda retirou as suas tropas
estacionadas em Beni e Gbadolite.
- Só a 6 de Setembro de 2002 o Presidente Yoweri Museveni se engaja num
procedimento análogo ao do Ruanda, ao assinar em Luanda, na presença do
Presidente angolano José Eduardo dos Santos, com o Presidente Joseph Kabila, o
protocolo de retirada do “UPDF” de território congolês, ao mesmo tempo que a
garantia do Uganda não servir mais de retaguarda de apoio aos movimentos
rebeldes congoleses.
O Uganda, a fim de estimular o processo de paz, havia preferido o eixo Kampala
– Kinshasa – Luanda.
- A 13 de Setembro de 2002 o Zimbabwe anunciou a sua retirada da RDC começando
pela localidade diamantífera de Mbuji Mayi.
- As forças do “APR” retiradas da RDC foram concentradas na ilha de Idjwi, no
Lago Kivu, perto de Cyangugu, a fim de serem sujeitas a descanso, triagem e
receberem novas missões.
- Face a face ao Presidente George W. Bush, o Presidente Paul Kagame afirmou a
15 de Setembro de 2002, que apenas oito dias seriam suficientes para retirar da
RDC todos os efectivos do “APR” empenhados na força tarefa ruandesa em
território congolês.
Essa afirmação foi produzida durante uma Cimeira à margem da 57ª Sessão da
Assembleia Geral das Nações Unidas especialmente dedicada à crise no Congo que
teve a presença dos Presidentes George W. Bush, Thabo Mbeki, Joseph Kabila e o
próprio Paul Kagame.
- Em princípios de Outubro de 2002, 6.000 homens da Vª Brigada motorizada das
“ZDF”, (“Zimbabwe Defence Forces”), foram retiradas de Lubumbashi, de regresso
aos seus quartéis de origem no Zimbabwe.
- A 15 de Outubro de 2002 é apresentado através duma Carta endereçada ao
Presidente do Conselho de Segurança pelo Secretário Geral da ONU, o Relatório
de peritos sobre a pilhagem do Congo (Mahmoud Kassem, Mel Holt, Bruno
Schiemsky, Jim Freedman, Patrick Smith e Moustapha Tall).
- A 24 de Outubro de 2002, reuniram-se em Kinshasa os três Chefes de Estado dos
países que apoiaram a RDC, Angola, Namíbia e Zimbabwe, com vista a delinear a
estratégia de retirada das suas forças do Congo.
- No dia 1 de Novembro responsáveis governamentais congoleses confirmaram, sob
anonimato, que a RDC havia entregue 20 chefes militares hutus, seus antigos
aliados, ao regime de Paul Kagame, como um sinal de intenções de paz.
- A 22 de Novembro, em Kamina e com a presença de representantes da União
Europeia e da MONUC, foram desarmados 3.000 soldados ruandeses que participaram
nos combates ao lado das forças congolesas; esses soldados foram encaminhados
de regresso ao Ruanda.
- A 16 de Dezembro de 2002 foi assinado o Acordo Global e Inclusivo sobre a
Transição na RDC, tirando partido do aumento das condições de paz e
estabilidade na RDC, no seguimento da retirada dos Exércitos dos países
vizinhos implicados na guerra, entre eles o “APR” do Ruanda.
- A 11 de Janeiro de 2003, dois helicópteros, quatro embarcações de guerra e
16.000 homens, dos Exércitos do Ruanda e do Burundi, atacaram povoações
ribeirinhas do lado congolês do Lago Tanganika, nomeadamente Numbi, Katanga e
Kagoma, travando combate com forças Mai Mai, milícias locais dispostas a
“defender as terras dos ancestrais”.
- A 22 de Janeiro os Presidentes Paul Kagame do Ruanda e Thabo Mbeki da África
do Sul declararam que a edificação do Exército Republicano da RDC é a principal
prioridade no quadro dos Acordos de Paz sobre a RDC.
- A 31 de Janeiro de 2003 foi denunciado um movimento de tropas da RDC no Kivu
e na Província Oriental, com o apoio ruandês, quer pela ONU, quer pelo governo
congolês.
- A 1 de Abril de 2003 dava início às suas funções o Governo de Transição da
RDC saído dos Acordos que haviam sido antes assinados em Pretória.
Mesmo assim o risco da presença de tropas ruandesas no território da RDC ainda
se punha nessa altura.
- Nessa mesma data a “RCD – Goma”, apoiada pelo “APR”, ocupou sem combate a
cidade de Bunyatenge, no Kivu Norte, com 3.000 homens fortemente armados, pondo
em fuga o RCD – Kisangani , de Mbusa Nyamuise e as forças ugandesas.
Por essa altura o “RCD – Goma” nomeia para Governador do Kivu Norte um certo
Serifuli, procurado pelo Tribunal de Kinshasa que julgava o caso do assassinato
do Presidente Laurent Kabila e fazendo aumentar a tensão entre as partes que
assinaram os Acordos de Paz.
- A 23 de Maio de 2003 foi descoberta uma maquinação ruandesa na RDC, quando o
“RCD – Goma” procurava recrutar jovens, inclusive entre os Mai Mai e os restos
dos “Interahamwe” refugiados no leste da RDC, bem como antigos elementos das
“FAR”, a fim de infiltrar nas fileiras do Exército Republicano da RDC em
formação.
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