José
Ribeiro – Jornal de Angola, em artigos, opinião
O
deputado Raul Danda apresentou no Parlamento um contrato de trabalho celebrado
entre um técnico e a Empresa Edições Novembro, durante o debate sobre o papel
da comunicação social pública e o regime democrático. Esse gesto tem pelo menos
três pontos que preciso de esclarecer publicamente.
O
primeiro ponto, e mais grave: o deputado da UNITA serviu-se desse contrato para
fazer ataques xenófobos contra os técnicos estrangeiros que trabalham para a
empresa da qual sou presidente do Conselho de Administração. Trabalham connosco
espanhóis, congoleses, são-tomenses, cabo-verdianos e portugueses. Aproveito
para agradecer a todos, publicamente, o contributo que têm dado para o
desempenho da empresa na comunicação social angolana.
O segundo ponto é muito grave e indigno de um deputado da Nação. O contrato exibido foi roubado das instalações da empresa. A UNITA não tem emenda. Antes de 2002 raptava mulheres, crianças, professores, bispos, padres ou médicos. Hoje legitima o roubo de contratos livremente celebrados entre um técnico e a empresa da qual sou o primeiro responsável. A situação é gravíssima porque demonstra que ao deputado Raul Danda falta estatuto moral e ético para desempenhar as funções para as quais foi eleito.
Se o deputado Raul Danda ou qualquer outro deputado da Nação me pedisse os contratos celebrados com técnicos estrangeiros, eu imediatamente os facultava. Se os senhores deputados quiserem consultar as folhas salariais, elas estão à sua disposição, e vai ver que há um equilíbrio nos salários. Roubá-las é que não. Nesta empresa nada há a esconder. Aproveito para dizer ao senhor deputado Raul Danda que continuo à procura de jornalistas que tenham experiência e perfil para integrar o nosso Gabinete de Formação Permanente. Se ele estiver interessado ou conhecer alguém com essas competências, a contratação é imediata.
O contrato que Raul Danda apresentou e foi roubado da empresa foi celebrado com um técnico que já deu milhares de horas de formação e esse jornalista angolano é conhecido como um dos melhores repórteres do mundo. Graças ao seu contributo, dezenas de jornalistas da empresa melhoraram os seus conhecimentos e desempenho profissional. Se o senhor deputado Raul Danda tiver dúvidas, eu envio-lhe a lista dos jornalistas que frequentaram a formação com esse técnico. Pode depois perguntar-lhes o que quiser sobre a formação que frequentaram e os resultados obtidos.
O terceiro ponto, gravíssimo e intolerável, tem a ver com as reiteradas ameaças e atitudes racistas e xenófobas do senhor Raul Danda. No debate parlamentar ele fez ameaças aos jornalistas que não podemos tolerar. Os serviços da Assembleia Nacional deviam mandar a intervenção do deputado da UNITA para o Conselho Nacional de Comunicação Social, para todas as Embaixadas e instituições internacionais de defesa da liberdade de imprensa. Assim ficava tudo mais claro. E de uma vez por todas, era melhor compreendida a atitude que a ONU tomou ao impor sanções à UNITA e aos seus dirigentes mais radicais, entre os quais sou forçado a incluir Raul Danda, que acoberta o roubo de contratos, o racismo e a xenofobia.
Ingenuamente, pensei que o debate parlamentar pedido pela UNITA ia servir para este partido político refutar a série de reportagens que fizemos sobre o Triângulo do Tumpo e a derrota das forças do apartheid, onde a organização de Jonas Savimbi se incluía. Ou que iam ser apresentadas provas que desmentiam as reportagens e entrevistas onde revelámos ao mundo que a Jamba foi o centro de uma máfia internacional que se dedicava ao tráfico de diamantes, marfim e droga. Nada. Nenhum facto foi apresentado que desmentisse ou pusesse em causa a credibilidade do nosso trabalho.
Raul Danda, em nome da UNITA, apenas insultou e injuriou. Continua a fazer ataques racistas e xenófobos. Ameaçou e ofendeu os jornalistas. Exibiu um contrato de trabalho que foi roubado da nossa empresa, para fazer demagogia e manipular a opinião pública. Deturpou o que escrevemos, fez-nos acusações gratuitas, pôs em causa a nossa capacidade profissional. Um deputado com este comportamento não tem estatuto para nos intimidar e muito menos para falar de democracia. O povo angolano tem memória e ela não se apaga, e sabe enfrentar os adversários da paz, da reconciliação nacional e da democracia sem vacilações.
Para além de tudo, a atitude de Raul Danda é um acto que revela total falta de civismo. O relacionamento entre organismos e instituições nacionais obedece a regras e os deputados devem estar na primeira linha no exemplo de decoro e civismo. O povo angolano tem dado muitas e boas provas de civismo. Não custa nada aprender com ele.
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