Bocas do Inferno
Mário Motta, Lisboa
Em Portugal quase tudo é possível: até ver porcos a andar de bicicleta ou voar. Queira-se ou não Portugal mais parece uma nau de loucos, começando pelo povo eleitor que nem por sombras se atreve a punir exemplarmente os chamados partidos do arco da governação (PS, PSD, CDS) que ao longo de quase quatro décadas têm sido os eleitos e intercaladamente governado o país. Mais correto seria dizer que se têm governado e desgovernado os mais de dez milhões que - como papalvos - admitem ser espezinhados até a exaustão. Fala-se num golpe de Estado. Tirem os cavalinhos da chuva.
Liberdade para Isaltino e mais
O ex-ministro e autarca do PSD envolvido em trapaças e finalmente arrecadado numa prisão após muitos anos de fintas a justiça foi libertado por decisão judicial que lhe deu condicionalmente a possibilidade de fazer a vidinha dele fora das grades. Muito bem. O que não está nada bem e o facto de muitos dos que fizeram tantas ou mais trapaças que ele nunca foram punidos, nem minimamente passaram com o traseiro pelo banco dos réus e hoje até ocupam altos cargos, gozando de uma impunidade a toda a prova. Sendo assim Isaltino nem devia ter sido preso, nem incomodado pela justiça. Liberdade para Isaltino, pois então. Esta na hora de ele visitar o seu amigo Cavaco em Belém. E de visitar outros compinchas. Por exemplo: Oliveira Costa (BPN-SLN) teve um cambalacho muito maior que Isaltino e anda a passear-se em liberdade há que tempos. Há um filme titulado “Os amigos de Alex”. Seria recomendável que o ICA (Instituto do Cinema e Audiovisual) comparticipasse na realização de um filme intitulado “Os amigos de Cavaco e dos outros da mesma laia”, sem ficção, para sabermos onde temos andado metidos.
Não conhecem Portugal mas governam-se alarvemente
Carlos Costa, governador do Banco de Portugal, disse hoje que se conhece menos o país do que aquilo que se pensa e comparou a realidade ao especialista de acupunctura que espeta a agulha sem conhecer os centros nervosos. Queria ele dizer que “não podemos intervir de forma consistente sobre a economia se não a conhecermos”. La Palisse não diria mais nem melhor. O que se pergunta e por que não explica a razão de andarmos a pagar estudos universitários a calaceiros que depois por simpatias, conluios e cunhas ascendem na política, em altos cargos governativos e nas suas ilhargas, constituindo uma máfia que ao longo dos anos cresce como bolo ultra fermentado, dedicando-se ao saque criminoso de milhões de portugueses em vez de conhecerem o pais e governarem pelos portugueses e para os portugueses
Transformar água em milhões
O negócio do bem comum, de utilidade e saúde publica tão importante quanto a água anda a ser vendido ao desbarato pelo governo de Passos/Portas/Cavaco. Desta feita foi dado a saber que os “Japoneses entram na gestão de águas em Portugal”. Adiantam a habitual conversa sobre os milhões: “A empresa AGS, que detém participações em 11 concessões de gestão de águas em Portugal, foi comprada na totalidade por duas empresas japonesas. Segundo a Bloomberg, que cita uma televisão japonesa, o negócio terá sido fechado por 72 milhões de euros.” Os portugueses devem ficar a saber que tudo vai desaguar em milhões e mais milhões desbaratados, porque o liquido essencial a vida não tem preço. Desaguara, igualmente, para os consumidores, no aumento do preço deste fornecimento de bem comum com vista ao lucro desmesurado. Já agora, desaguara também em alguns lugares de topo na empresa exploradora de ex-ministros, secretários de estado e afins, boys e girls PSD/CDS em barda. As negociatas destes salafrários vão sempre dar ao mesmo - enquanto os portugueses borregam e calam, ficando de olhos em bico.
Emprenhar pelos ouvidos
Parece que o capitão-mor da CIP sofre de uma gravidez auditiva mas que está incrédulo. Santa hipocrisia. Veja-se as declarações do sujeito ainda há poucas horas a propósito da ilegalidade cometida por empresas suas associadas que condicionam as suas empregadas a manterem os lugares de trabalho se não engravidarem. Diz hoje o Noticias ao Minuto (pode ler aqui no Página Global) sobre o sujeito António Saraiva, capitão-mor da Confederação Industrial Portuguesa: “O presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP) disse hoje desconhecer casos de empresas que obrigam trabalhadoras a assinar um compromisso de que não engravidarão nos próximos cinco anos, mas espera que se estes casos se existirem sejam "severamente punidos". Até parece que Saraiva não sabia nem sabe de nada. Mas como, se há imenso tempo que isto é voz corrente? Parece evidente que as elites que põem e dispõem neste pais sabiam e sabem muito bem o que acontece mas tem andado a assobiar para o ar, incluindo o Ministério Público, mas principalmente os deputados e os governos, para não falar da obrigatória denuncia dos sindicatos. A quem compete denunciar e corrigir o que de errado vitima os portugueses, de quem supostamente são representantes e lhes compete defender seus direitos, liberdades e garantias constitucionais.
Golpe de estado? Tirem os cavalinhos da chuva
Aqui e ali ouve-se falar em golpe de estado. Que sim. Que vai acontecer. Que os militares, a policia, a GNR, os professores, os funcionários públicos, os trabalhadores em geral, os portugueses, estão saturados por ser desgovernados por este regime de nepotismo, conluio e corrupção. Diz-se a toda a hora que já é demais e que a paciência tem limites. Ora, ora. Conversas da treta e bocas do inferno ou do desespero. Chegar a vias de facto todos sabem que só faz parte do imaginário lusitano. Pelo menos para já. O português espera sempre pelo milagre de Fátima antes de se decidir. Regra geral antes de dar esse passo espera décadas. Com o Estado Novo demorou quase 50 anos - e sempre foi uma ditadura. Atualmente, com esta elite mascarada de democrata e a viver nesta democracia de faz de conta, mesmo a passar por inúmeras e inadmissíveis carências, pelo desemprego, pela exploração selvagem e pela fome que nos rói até a alma, devera passar um século até que acorde, reaja e mande às malvas a Fátima, o milagre, os salafrários que se associaram criminosamente para roubar e explorar um povo inteiro, delapidando o pais. Golpe de Estado? Qual quê. Tirem os cavalinhos da chuva! Ai, aguentam, aguentam!
*Bocas do Inferno é uma nova rubrica ou tendência a constar no Página Global e a que
foi entregue essa denominação. Bocas sobre a realidade, a opinião, o que se
entende ou presume.
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