Ana
Sá Lopes - jornal i, opinião
A
autofagia só será útil se produzir uma verdadeira catarse no partido
Lê-se
20 vezes e não se acredita. A direcção do PS decidiu não condenar expressamente
o já famoso mail divulgado pelo "Correio da Manhã" e pelo
"Jornal de Notícias" em que uma dirigente socialista, membro da
Comissão Nacional, apela à inscrição em massa nas primárias de alegados
simpatizantes de António José Seguro, quer sejam quer não sejam simpatizantes
do PS - "nas legislativas votam onde entenderem, no dia 28 de Setembro
temos de votar Seguro". A ausência de uma condenação firme por parte de Seguro
(Miguel Laranjeiro referiu-se-lhe apenas como "iniciativa
individual") lança obviamente uma suspeita sobre todo o processo de
primárias proposto pelo secretário-geral e a dúvida sobre se "iniciativas
individuais" deste género não estarão a ser multiplicadas por esse país
fora.
O
caso em si é gravíssimo, mas ainda se torna mais grave quando as declarações de
dirigentes nacionais como António Galamba e Miguel Laranjeiro não o condenam
objectivamente. E é evidente que a partir daqui qualquer pessoa se pode
perguntar se a direcção de Seguro não estará a pactuar com o processo de
arrebanhar militantes, sejam simpatizantes do PSD, do PCP ou do CDS, desde que
tudo sirva para correr com "a tralha socrática" que está colada à
candidatura de António Costa. O mail - e a complacência da direcção com essa
peça política - é um exemplo acabado da existência de uma "tralha
segurista" que não vai olhar a meios para atingir (se conseguir) os fins.
Seguro respondeu ao desafio de Costa - e ao seu resultado de 31% nas eleições
europeias - com o facto de se estar perante uma crise do regime (o que é
absolutamente verdade) de que a mistura entre política e negócios é das mais
graves manifestações (o que é totalmente verdade e no que os socialistas estão
carregados de culpas). Infelizmente, ontem Seguro foi incapaz de condenar uma
manifestação dessa crise de um dos seus defensores dentro do partido.
A
autofagia que varre o PS e que vai continuar até 28 de Setembro só terá uma
vantagem se produzir uma verdadeira catarse sobre o partido, os seus métodos, a
sua história enquanto foi governo, os fenómenos de enriquecimento de alguns dos
seus dirigentes e ex-dirigentes mais destacados, a promiscuidade entre partido,
Estado e interesses económicos. Só dessa discussão pode sair alguma luz. O PS
está cheio de tralha por todos os lados, e isso aplica-se ao passado e ao
presente.
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