Pedro
Tadeu – Diário de Notícias, opinião
Há
um mês, Vítor Bento, o putativo próximo líder do Banco Espírito Santo e, se
assim acontecer, 15% meu patrão, disse-me: "Uma coisa que se viu ao longo
do último boom económico é que o gestor que transgride tem mais sucesso do que
o gestor que não transgride, porque tem melhor resultado. E como tem melhor
resultado, é recompensado pelo seu resultado".
Nessa
entrevista para o Q. perguntei: "Portanto, aquele que foge aos impostos,
aquele que engana o cliente, é o gestor que sai beneficiado?".
Ele:
"Certo. Há uma centrifugação dos gestores que possam ter mais preocupações
éticas porque, por terem essas preocupações, têm um resultado material pior.
Como a sociedade não os valoriza por essa atitude, eles acabam por ser
centrifugados e é criada uma seleção em que os melhores gestores são aqueles
que têm os valores morais mais frágeis".
Vítor
Bento chega ao BES com a reputação de um moralista. É um moralista que critica
a sociedade por, na sua volátil diversidade moral, só partilhar um único valor:
a riqueza e a posse de bens materiais.
Quem
foge aos impostos não é visto como um criminoso mas como um esperto. Quem
consegue ser um malabarista em contabilidade criativa arrisca-se a ser
candidato a prémio Nobel. Quem domina um programa informático capaz de fazer
milhões de transações em bolsa num único segundo, uma verdadeira batota tecnológica
que qualquer casino proibiria, é declarado génio da finança. Quem tem lucros
significativos mas despede magotes de trabalhadores em nome de uma desumana
eficiência económica é medalhado como empresário exemplar. A ganância, o antigo
pecado mortal, passou a ser dom de predestinados visionários.
Com
os sustos que apanhámos nos últimos anos algumas coisas estão a mudar. A
ganância está a ser moderada... mas só um bocadinho. Empurrado pela União
Europeia (indiferente a dependências e conivências da paróquia portuguesa) o
nosso sistema bancário está a fazer uma limpeza. Eu, que ao contrário de Vítor
Bento, não acredito na bondade regenerativa do sistema que nos governa, acho
que depois desta limpeza circunstancial o pó voltará a assentar e a sujidade
que corrompeu os de antes irá corromper os de agora.
Vítor
Bento, o moralista Vítor Bento, o homem que não é religioso mas que gostaria
que a religião dominasse a moral do planeta será então, inevitavelmente,
sujeito a tentação. Terá duas vias: pregar como Frei Tomás para nós fazermos o
que ele diz mas não o que ele faz ou, placidamente, apresentar-se como um
gestor candidato a ser centrifugado... Se escapar à sucção, será milagre. Boa
sorte.
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