Martinho
Júnior, Luanda (continuação - ler textos anteriores)
12
– A Acta Secreta do regime racista sul africano, produzida a 28 de Agosto de
1988, foi o corolário da derrota militar em Cuito Cuanavale ,
mas também o resultado de transformações internas na África do Sul e do
incremento das pressões internacionais, grande parte delas extra
governamentais:
Por
dentro do Partido Nacional ganhava expressão uma corrente que visava declarar
independente a Namíbia e conduzir a África do Sul à democratização; essa
corrente, verificou-se mais tarde, era liderada por Frederick de Klerk;
No
ambiente sócio-político sul africano, à medida que aumentavam as baixas em
combate, aumentava o número daqueles que pretendiam encontrar uma saída para o
impasse da guerra;
O
poderoso “lobby dos minerais” e sobretudo o “cartel dos
diamantes”, sentiam que a exploração de mão-de-obra super barata propiciada
pelo “apartheid”, era um processo que se tornava já insustentável e a
força dos Sindicatos como o COSATU, fazia-se cada vez mais sentir, apesar da
repressão;
A
nível internacional o clamor contra o “apartheid” crescia a olhos
vistos, desde os organismos internacionais, até às contínuas manifestações nas
mais importantes capitais europeias: a“bantustanização” não foi aceite ou
reconhecida em parte alguma, nem pelos regimes retrógrados de África apesar de
suas hesitações, nem sequer pelos aliados sionistas de Israel!
13
– Em Angola um dos primeiros indícios de que por dentro do Partido Nacional se
estabelecera uma corrente de mudança, foi dado pelo capitão Wynand du Toit, ao
seu interrogador “Carlos”(citado por ele no seu livro “The Wynand du
Toit story”).
Disse
ele em 1985 que haviam membros do Partido Nacional que estavam dispostos a
encontrar uma saída para o impasse da guerra e naquela altura já se faziam
sentir dentro do Partido.
O
poder da ala ultra conservadora e dos falcões da inteligência e militares era
contudo ainda avassalador e a mudança estava em embrião, com uma luz ao fundo
do túnel.
Isso
evidencia o significado da derrota do Cuito Cuanavale, pois essa ala e os seus
falcões já não tinham mais argumentos internos e foram submersos pela corrente
de mudança.
A
própria troca de prisioneiros (o capitão Wynand Johannes Petrus du Toit foi
trocado por 133 de angolanos FAPLA e namibianos do PLAN, a 7 de Setembro de
1987), indiciaria a possibilidade de cedências que poderiam levar à mudança.
O
documentário “Plot for Peace”, sobre o papel de intermediário do agente de
inteligência francesa Jean-Yves Olivier, ilustra bem o início da transição.
14 -
Se o apoio socialista a Angola foi importante, tendo em conta sobretudo o
fornecimento de equipamento militar e pelo empenho dos assessores de
inteligência e militares, o Não Alinhamento activo de angolanos e cubanos foi
decisivo.
De
facto essa linha foi enfraquecendo o relacionamento das administrações norte
americanas com o “apartheid”, tornando esses relacionamentos cada vez mais
velados, escondidos, embaraçados, ineptos ou mesmo profundamente
contraditórios.
O “lobby
republicano do petróleo” terá progredido no sentido de acabar com o “apartheid”rapidamente,
mas o “lobby dos minerais”, quando se tornou impossível a exploração de
mão-de-obra super barata nas minas da África do Sul, acabaria por se lhe juntar
e contribuir para as cedências finais(foi Bill Clinton, um “rodhes
schollarship”, que reconheceu Angola)
Nelson
Mandela nunca seria solto e projectado como foi, se na origem Angola não
tivesse sido, como dizia persistentemente em muitas das suas intervenções
Agostinho Neto, “trincheira firme da revolução em África” e “na
Namíbia, no Zimbabwe e na África do Sul” não estivesse “a continuação
da nossa luta”!
Efectivamente
a revolução cubana e o movimento de libertação em África, à custa de imensos
esforços e sacrifícios, sob o risco da ameaça nuclear do “apartheid” (o
regime chegou a produzir 6 engenhos, que viriam mais tarde a ser desmantelados,
com o encerramento dos programas nucleares militares), conseguiram também
vencer o impasse característico da Guerra Fria!
O
caminho para a paz era longo, mas irreversível!
Foto:
O Presidente José Eduardo dos Santos, Comandante-em-Chefe das gloriosas FAPLA.
(Continua)
Sem comentários:
Enviar um comentário