Um
dia depois de ter sido restituido à liberdade, o porta-voz do líder da Renamo,
António Muchanga, o apresentou a sua guia de soltura à Presidência da República
na esperança de ver reposta a imunidade que lhe foi retirada aquando da sua
detenção. Ele foi solto na passada terça-feira (19), na sequência da entrada em
vigor da Lei de Amnistia, no entanto, até esta quarta-feira (20), nem todos os
abrangidos por esta legislação haviam tido a mesma sorte.
Muchanga,
solto na tarde da passada terça-feira, 19, Agosto, foi-lhe retirado a imunudade
numa reunião do Conselho de Estado que supostamente havia sido convocada para
se discutir a tensão política do país. Foi depois dessa medida que o mesmo foi
detido, ainda no recinto da Presidência da República, no dia 7 de Julho, e
conduzido à esquadra localizada no porto de Maputo, acusado de incitação à
violência por proferir publicamente “discursos incendiaries”.
Ao
apresentar a guia de soltura, o quadro senior da Renamo e candidato a deputado
na próxima legislatura pretende que o Chefe do Estado, António Muchanga,
convoque um encontro dos seus conselheiros de modo a se repor a sua imunidade
quebrada, uma vez que o processo que fez que o tivesse retirado já encontra-se
extinto.
Muchanga
disse também que é necessário que haja um Conselho de Estado de sábios e não de
ímpios, à semelhança do que aconteceu no dia 07 de Julho.
42
dias de reclusão
Desde
a detinção até à soltura de Muchanga passaram 42 dias. No seu primeiro contacto
com a imprensa depois de sair da Cadeia de Máxima Segurança, o porta-voz do
líder da Renamo, ligeiramente abatido disse que não estava arrependido do que
falou pois com suas palavras pretendia alertar o povo para se precaver.
Durante
o tempo em que esteve preso, ele disse ter tido dois tipos de tratamento, o
primeiro foi um “mau tratamento” protagonizado pela polícia que o deteve no
espaço da Presidência da República.
“Lamentavelmente
o porta-voz do Governo mentiu para o povo moçambicano ao dizer que eu fui preso
no Xenon. Depois da minha prisão não passei do Xénon. Fui pela avenida Marginal”,
explicou.
Já
o segundo tratamento foi na cadeia. “Na esquadra, tive o tratamento de qualquer
réu que entra na esquadra: fiquei proibido de ver televisão, notícias e tudo,
mas quando passei para a cadeia a situação mudou. Estive na sela do Carlitos
Rachide, pavilhão 6 lateral 2, onde também esteve o meu colega Jerónimo
Malagueta”, disse para depois acrescentar que “suportei as consequências de uma
prisão, fiquei 30 dias fechado e com direito de banho solar durante 1 hora por
dia, alegadamente porque o regulamento que anda na BO é esse”.
À
imprensa Muchanga disse estar preparado para assumir nas consequências de tudo,
desde que isso seja em nome do povo moçambicano. “As comunicações que eu fiz
aqui, no dia 02 de Maio e dois de Junho, visavam fundamentalmente alertar o
povo para se precaver”, recordou.
“Aqueles
que queriam ver o presidente Dhlakama isolado, segundo o que andavam a gritar,
criaram condições para eu ficar preso, mas continuo o mesmo António Muchanga, e
preferi fazer esta conferência de imprensa para dizer que continuo o porta-voz
do presidente da Renamo e, sempre que houver necessidade de me comunicar com o
povo poderei me comunicar”, frisou.
Regulamento
da BO é desumano
Num
outro plano, Muchanga disse almejar ser deputado para alterar o regulamento
vigente na Cadeia de Máxima Segurança, porque o actual é desumano. “Espero ser
eleito deputado para em colaboração com os meus colegas revermos o regulamento
que anda na BO, porque é desumano”, disse.
Muchanga
disse haver muita gente presa e sem culpa, dando exemplos do “Danger Man” que
ficou 7 anos sem culpa e mais tarde solto sem culpa.
“Já
imaginou um homem ficar trinta dias sem ver o sol para depois dizerem ‘você não
tem culpa, depois o Estado não paga nada por isso. Vamos trabalhar muito porque
há pessoas que não deviam estar na prisão”, sublinhou Muchanga dizendo que
também fez comícios, amigos e também foi saudado por alguns polícias.
António
Muchanga sublinhou que o seu líder, Afonso Dhlakama, “não pode sair das matas
porque ainda não há cessar-fogo, e pode ser morto e o Presidente da República
vai lavar as mãos de um pecado que é seu, como fez no meu caso”.
A
Renamo sempre o contestou a detenção do seu quadro considerando que a mesma era
ilegal, supostamente, ter ocorrido sem um mandado judicial, tal como prevê a
lei. No entanto, dois dias depois de ter sido recolhido ao calabouços, a
detenção foi legalizada num acto considerado anormal, em que o despacho foi
lido pelo escrivão. A suposta violação da lei deu azo a ideia de que a prisão
tinha motivações políticas. À saída dos calabouços, Muchanga que estava na
companhia da sua advogada, Alice Mabota, não teceu declarações à imprensa.
Ainda
não foram todos amnistiados
António
Muchanga foi solto na sequência da entrada em vigor da lei de amnistia. No
entanto, até esta quarta-feira (20) ainda não haviam sido soltos outros
cidadãos abrangidos por esta legislação. Os 21 membros
da Renamo presos nas celas do Comando Provincial da Polícia da República de
Moçambique (PRM) em Nampula, indiciados de promoverem desmandos na
localidade de Napome, distrito de Nampula-Rapale. Dentre os detidos, figuram
José Cadeira, delegado político da Renamo, em Namaita, e um antigo comandante
daquele movimento político, radicado em Mutivaze.
A Lei
de Amnistia foi aprovada pela Assembleia da República, no dia 12 do mês,
como resultado dos consenso alcançados na mesa de diálogo político entre o
Governo e a Renamo. A mesma concede perdão aos cidadãos que tenham cometido
crimes contra pessoas, propriedade ou contra a segurança do Estado durante a
recente Guerra em Moçambique e que estejam previstos e punidos pela lei.
A
lei abrange o período que vai desde Março de 2012 até à data da promulgação. A
Lei de Amnistia aplica-se também autores de crimes previsto nesta lei ocorridos
no distrito de Dondo, posto administrativo de Savane, em 2002, no distrito de
Cheringoma em 2004 e no distrito de Marínguè em 2011. Esta lei foi promulgada
na semana passada e publicada esta segunda-feira no Boletim da República.
Verdade
(mz)
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