Carlos
Diogo Santos – jornal i
Empresas
detidas por Helder Bataglia, presidente da Escom, compraram créditos da Escom e
das suas subsidiárias
O
passivo da Escom foi escondido dias antes da celebração do contrato promessa de
compra e venda à empresa estatal angolana Sonangol. Hélder Bataglia, presidente
da Escom, afirmou recentemente ao Expresso não conhecer detalhes deste negócio,
mas, ao que o i apurou, foi este gestor quem fez várias operações
financeiras que tinham como objectivo 'limpar' o passivo da empresa que era
detida em 66% pelo Grupo Espírito Santo (GES) e em 33% pelo próprio Bataglia
antes da venda à Sonangol.
De
acordo com o contrato-promessa assinado, a Escom seria vendida por cerca de 800
milhões de dólares, mas até agora apenas foi pago 15% desse valor a título de
sinal. Bataglia disse este mês ao "Expresso" desconhecer o porquê do
negócio não se ter ainda concretizado e garante desconhecer também se existem
razões para suspeitas do Ministério Público: "Não conheço o negócio. Nunca
estive nas negociações de venda", garantiu. As partes integrantes deste
contrato são o GES como vendedor, a Sonangol, como comprador, e a Newbrook,
detida por Álvaro Sobrinho, como intermediária.
De
acordo com informações a que o i teve acesso, foi montado um esquema
no fim de 2010 que tinha como objectivo vender cerca de 15 empresas off shore -
detidas pela Escom e por onde passavam muitos dos negócios dos diamantes - a
outra sociedade off shore: a Multiples. Com esta operação, o passivo da Escom
era transferido para a Multiples, ficando a empresa que seria comprada pela
Sonangol aparentemente livre de parte dessas responsabilidades financeiras. O
objectivo era claro: melhorar a saúde financeira da Escom e concentrar todo o
passivo numa espécie de bad bank chamado Multiples.
Hélder
Bataglia teve um duplo papel neste processo: agiu como presidente da empresa
que controlava as empresas que venderam os créditos, a Escom, e como chairman
da Multiples - a empresa que comprou os créditos. Esta ultima sociedade tinha
ainda como gestores Luís Horta e Costa e Pedro Ferreira Neto.
Existem
mesmo situações em que
Bataglia assina documentos oficiais ao longo deste processo
como responsável pela empresa que vendia, a Escom, e pela sociedade compradora
dos créditos, a Multiples.
Mas
estas não foram as únicas movimentações feitas imediatamente antes de ser
assinado o contrato de promessa de compra e venda - entre a Escom e a Sonangol
- a 28 de Dezembro de 2010. O i sabe que a Multiples acabou, também
ela, por ser vendida a uma off shore detida por Helder Bataglia, a Overview.
Esta operação foi realizada na véspera da assinatura do contrato entre a Escom
e a Sonangol e deixava por fim a empresa livre de passivos.
As
várias assinaturas de Helder Bataglia em documentos que visavam preparar a
Escom para a sua venda contrastam com algumas das suas declarações. Além disso,
estas operações foram acompanhadas por várias pessoas da sua confiança,
nomeadamente Nuno Pombo, assessor jurídico da Escom em Portugal. O i tentou
ontem, sem sucesso, entrar em contacto com Helder Bataglia.
ÚLTIMAS
DECLARAÇÕES
Na entrevista que deu ao Expresso no dia 9, Hélder Bataglia
confirmou que o negócio iniciado em 2010 ainda não chegara a bom porto.
"Quatro anos depois de ter pago o sinal de 80 milhões, tudo continua
igual", disse considerando que a situação "não é normal".
Bataglia
arrisca, no entanto, relacionar a perda de interesse dos angolanos com a crise
no BES Angola (BESA) "A partir do momento em que começaram a sentir que
havia problemas no banco em Angola as coisas começaram a não correr tão bem.
Para os angolanos e para todos nós, o Grupo Espírito Santo era fundamental. E
sentem uma certa confusão com tudo o que se passa", afirmou.
Sobre
a situação actual, o administrador da Escom garantiu que hoje a dívida é de 806
milhões de dólares, enquanto que há quatro anos era de 549 milhões. Ainda assim
diz que nada está perdido: "A Escom não se está a desmoronar, porque não
deixamos." Bataglia explicou mesmo que após uma directiva do Banco de
Portugal junto do BESA ter impedido o pagamento de salários ao pessoal que
ninguém ficou prejudicado. "Decidi pagar do meu bolso (a Escom tem dois
mil trabalhadores) porque acredito que a empresa ainda é viável, desde que
tenha capital."
INVESTIGAÇÃO
Como
o i revelou em Agosto de 2013, o Departamento Central de Investigação e Acção Penal
está a investigar os contornos do negócio relativo à venda da Escom entre o GES
e a Sonangol, que acabara por não ser concluído. As autoridades portuguesas
pediram inclusivamente ajuda ao Ministério Público de Lausanne, na Suíça, para
descobrir os beneficiários de algumas transferências que levantaram suspeitas.
O "Expresso" acabaria por adiantar outros movimentos financeiros: que
a Escom UK terá contraído, em 2004, um empréstimo junto do BES Cayman de 12,25
milhões de euros, tendo três milhões desse montante acabado em três contas de
membros do Conselho Superior do BES.
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