sábado, 30 de agosto de 2014

Portugal: CAVADELAS E MINHOCAS



Eduardo Oliveira Silva – jornal i, editorial

Do estranho caso dos aposentados proibidos de prestarem serviço ao Estado, até ao incómodo causado por um comentador, passando por estranhas coincidências noticiosas

A alteração discretamente introduzida que levou à proibição dos aposentados do Estado prestarem qualquer serviço a entidades públicas mesmo de borla está a fazer vítimas sucessivas. Bagão Félix demitiu-se da função que desempenhava pro bono junto da Universidade de Évora. Octávio Teixeira abandonou a sua notável participação na Antena 1. Agora é a vez de Simonetta Afonso não poder nem mesmo receber senhas de presença pela sua participação no Conselho Geral Independente (CGI) da RTP. Aqui menos mal porque o órgão é uma verdadeira aberração com competências que conseguem entrar abusivamente na esfera editorial das direcções e, ainda por cima, condicionar a gestão da administração. Mais um imbróglio saído da dupla Maduro/Lomba notabilizada por ter inventado os briefings políticos que tiveram três sessões e geraram outras tantas baixas no executivo. No CGI o arranque também não está a ser brilhante. O crítico João Lopes foi indicado e logo rejeitado pela ERC por não preencher as condições. Miguel Relvas, o antecessor de Maduro, está, portanto, totalmente perdoado.

As coincidências são coisas relativamente raras no mundo da política, da justiça, da economia e por tabela do jornalismo. É corrente verificar-se, nomeadamente no campo da investigação, que surgem a público informações que se destinam nitidamente a julgar por antecipação certas pessoas, mais a mais se elas exerceram funções políticas. Ver-se-á se Arlindo de Carvalho não tipifica a situação, visto que é sempre posto na berlinda de forma aparentemente persecutória por fontes nunca identificadas. Recentemente apareceram, entretanto, notícias à volta de dois nomes, as quais devem ser encaradas com reserva. Trata-se de Jaime Soares e Tomás Correia. O primeiro é presidente da Liga dos Bombeiros e vai a eleições dentro de dias para um cargo nevrálgico que interessa a muita gente. O segundo é o líder do Montepio Geral e haverá eleições para a gestão da instituição dentro de pouco mais de um ano.

O mundo jornalístico digere mal a presença de Luís Marques Mendes na SIC e o facto de também dar notícias em vez de se confinar à análise política. Até LMM chegar só o Prof. Marcelo entrava pontualmente no domínio noticioso, mas ficava-se em regra pelo comentário. E quando antecipava uma notícia, Marcelo rodeava a coisa para não perturbar certas sensibilidades. Já Marques Mendes oferece um serviço mais completo. Dá notícias, o que incomoda quem não as consegue encontrar, gerando teorias de toda a espécie que ora sustentam tratar-se de um batedor do governo, ora uma carta fora do baralho. Uma coisa é certa: Mendes traz novidades e acrescenta valor à informação nacional. Ainda por cima não hesitou em chegar-se à frente ao sábado, colmatando muitas vezes as falhas da imprensa de fim-de-semana e antecipando-se a Marcelo. Marques Mendes inventou uma dupla faceta, juntando comentário e notícia. Até porque na lógica do comentário puro e duro as televisões até estão muito bem servidas, começando na lucidez assertiva de Manuela Ferreira Leite, a imperdível Quadratura do Círculo de Carlos Andrade e companhia, o comentário imediato e fulgurante de Constança Cunha e Sá, a ironia maquiavélica de Augusto Santos Silva e a lucidez analítica de Morais Sarmento. Mau mesmo só José Sócrates que em vez de aproveitar positivamente o seu talento transformou o seu espaço numa espécie de Muro das Lamentações. Há, depois, claro, uns programas que têm mais a ver com entretenimento, mas que nem por isso deixam de ser interessantes.

Leia mais em jornal i

Sem comentários:

Mais lidas da semana