Tomás
Vasques – jornal i, opinião
O
que testemunha a hecatombe da estratégia deste governo é o paradoxo de se
vangloriar da ligeira melhoria de indicadores económicos que resultam dos
chumbos do TC
Dizem
que a verdade é como o azeite: vem sempre ao de cima. Não estou certo que isso
aconteça sempre, como diz o ditado popular. Contudo, passados três anos, o
rotundo fracasso das políticas do actual governo está a vir ao de cima, com
clareza, neste último ano do seu mandato.
Está
à vista que o "novo modelo de crescimento", tão solenemente prometido
por este governo, como uma "nova era económica", assente no
crescimento das exportações, o que permitiria o equilíbrio da balança
comercial, era uma falácia. Mais do que falácia, era um logro destinado a
justificar a estratégia de empobrecimento generalizado e de destruição de parte
da economia destinada a satisfazer necessidades de consumo interno consideradas
"supérfluas". É hoje evidente que a saída da recessão, mesmo com um
crescimento anémico, e um ténue aumento do emprego, resulta sobretudo do aumento
do consumo interno e não das exportações. Neste fracasso do governo, até a
balança comercial se inclina para o desequilíbrio estrutural do passado, o que
é natural na ausência de qualquer política consistente de desenvolvimento
industrial.
Como
em vão foram os biliões de euros sacados em impostos, salários e pensões de
reforma, atirados para a fogueira do controlo do défice orçamental. Passados
três anos, a grande bandeira deste governo - o controlo das contas públicas -
está totalmente esfarrapada. Arriscamo-nos a ter, este ano, um défice
orçamental próximo dos 8% - uma autêntica queda no abismo. E se a senhora
ministra das Finanças chora as decisões do Tribunal Constitucional que,
pasme-se, "obrigou a repor salários e impediu a tributação dos subsídios
de doença, de desemprego e os cortes das pensões de viuvez", quanto a
outras despesas do Estado, que não resultam de decisões judiciais, o governo
abriu os cordões à bolsa.
Como
resultado de todos estes fracassos do governo - do empobrecimento, da destruição
de parte do tecido económico, da recessão, da total incapacidade para controlar
o défice - resulta um significativo aumento da dívida externa, não só em valor
absoluto, mas em percentagem do PIB. Isto significa que, se não houver uma
reestruturação da dívida, sobretudo quanto a prazos e juros, ficamos
condenados, por décadas, a uma pobreza franciscana.
O
que testemunha ainda mais a hecatombe da estratégia deste governo é o paradoxo
de se vangloriar da ligeira melhoria de indicadores económicos que resultam,
exactamente, de situações a que se opõe ferozmente, umas, que condena por
razões ideológicas, outras; ou, ainda, que lhe são completamente estranhas. No
primeiro caso, estão as decisões do Tribunal Constitucional que, ao impedir
cortes de salários, de pensões de reformas e de viuvez, de subsídios de
desemprego e de doença, permitiu que as famílias fossem menos espoliadas, facilitando
o consumo interno que nos retirou da recessão. No segundo caso, está o emprego
privado subsidiado, através de estágios, que tem produzido resultados
positivos. Segundo o semanário "Expresso", 60% dos novos empregos são
subsidiados pelo Estado. Isto deve arrepiar os mentores neoliberais do governo,
mas no meio do naufrágio, em desespero, e com eleições à vista, até a medidas
"socializantes" se agarram. No terceiro caso, estão as situações em
que o governo é completamente alheio, como por exemplo, os excelentes
resultados obtidos pelo turismo, os quais resultam em parte da insegurança
provocada por conflitos, alguns de grande violência, em destinos habituais de
europeus no Norte de África e Médio Oriente.
O
facto de o governo se vangloriar de resultados a que se opôs, que não deseja ou
que lhe são estranhos só aumenta a dimensão do descalabro das suas políticas.
Jurista
- Escreve à segunda-feira
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