terça-feira, 21 de outubro de 2014

OS MILIONÁRIOS LUCROS DAS IGREJAS



Roger Godwin – Jornal de Angola, opinião - 20 de Outubro, 2014

O recente desmoronamento de um gigantesco edifício na cidade nigeriana de Lagos virou os holofotes da imprensa internacional para aquilo que são os milionários lucros que as igrejas pentecostais ostentam naquela que é considerada a maior economia do fluorescente continente africano.

Na realidade, esse edifício mais não era que uma gigantesca sinagoga que albergava fiéis  de vários países e proveniências e foi totalmente construído por seguidores dessas igrejas com fundos a elas pertencentes.

Entre os admiradores e habituais frequentadores dessa sinagoga construída no sistema vertical contava-se o antigo e já falecido presidente do Ghana, John Atta Mills, Winnie Mandela, ex-esposa de Nelson Mandela, Julius Malema, um político sul-africano dissidente do ANC e Morgan Tsvangirai, líder da oposição zimbabweana a Robert Mugabe.

Quando a 12 de Setembro último o edifício caiu, entre as centenas de mortos então registados estavam 80 sul-africanos e três zimbabweanos.

As câmaras de segurança de edifícios vizinhos captaram imagens onde se via o prédio a cair como se fosse um simples baralho de cartas, mas isso não impediu que um dos mais famosos líderes religiosos nigerianos e apontado como mentor ideológico e funcional desse local, dissesse que a queda se ficou a dever ao ataque de uma misteriosa aeronave que mais ninguém conseguiu ver.

Mas a polémica não acabou com essa informação pois ainda na semana passada um contabilista britânico e habitual frequentador dessa sinagoga, Nick Holmes, disse que a explosão de uma bomba havia sido o motivo real para a queda do prédio, atribuindo essa acção a um grupo de pessoas, que não identificou, e que estaria descontente com a forma como estavam a ser geridos os lucros provenientes dos fundos e contribuições feitas periodicamente por milhares de fiéis. É aqui, na questão da gestão dos fundos financeiros, que entra novamente em cena o conhecido pastor a que chamam “profeta T.B. Joshua”, um endinheirado homem de negócios que usa um lucrativo canal privado de televisão por cabo para as suas orações que são seguidas em todo o mundo por milhões de pessoas que nele confiam cegamente e, por isso mesmo, pagam religiosamente para lhe terem acesso. De seu nome próprio Temitope Balogun Joshua, este religioso de oratória fina e acutilante, catapultadora de entusiasmos e geradora de gigantescas aglutinações de seguidores, possui o canal “Emmanuel TV” através do qual baixa orientações e não se coíbe de atacar outros pastores que não concordam com a sua forma de pregar a fé e que, também, não se revêem no modo como era gerida a sinagoga onde se registou a tragédia e que ele parecia comandar à distância.

Atraídos pela oratória de “T.B” Joshua ricos homens de negócios da Nigéria eram os principais financiadores da desmoronada sinagoga, onde alguns dos seus frequentadores dizem terem-se registado “bastantes milagres”.

Mas, segundo a revista Forbes, o senhor Joshua é apenas o terceiro pastor mais rico da Nigéria, numa lista que é liderada por David Oyedepo, com uma fortuna arrecadada nas orações e que ronda os 150 milhões de dólares.

Em segundo lugar surge Ayo Oritsejafor, líder da Associação Cristã da Nigéria e apontado como um firme aliado do presidente Goodluck Jonathan, também ele cristão, e que se viu recentemente envolvido num escândalo ao ser indiciado na África do Sul como sendo o remetente de 9.3 milhões de dólares, em dinheiro vivo, para a compra de armas destinadas a um grupo de para militares que funciona como uma espécie de “segunda linha” do exercito governamental e que, por força desse “estatuto”, não beneficia do dinheiro legalmente inscrito no Orçamento destinado às forças armadas.

Independentemente dos méritos e do modo como estes três homens enriqueceram a verdade é que, entre si, eles continuam a manter um relacionamento distante e mesmo marcado por alguma rivalidade trocando, habitualmente, entre si alguns “mimos” menos adequados e que serviram, também, para alimentar alguma disputa entre os respectivos seguidores.

Embora a polícia nigeriana ainda não tenha sido conclusiva em relação as razões que estiveram na origem de desabamento do prédio – e duvida-se que alguma vez se chegue a uma conclusão rigorosa, tendo em conta o que se passou com outros casos – a verdade é que não cessam as acusações mútuas entre as diferentes congregações.

O pastor Joshua, que vive na África do Sul, já anunciou que tenciona visitar em breve a Nigéria para “confortar” os familiares das vítimas e levar-lhes uma “palavra de fé e do consolação espiritual”. Porém essa sua intenção tem sido adiada pelo facto de alguns dos seguidores do pastor Oyedepo o apontarem como sendo um “charlatão” e repetidamente dizerem que ele “não será bem vindo a um local que deixou entregue ao demónio”.

Quem segue o assunto de perto, e nada tem a ver com deuses e demónios, acredita estar-se perante uma acesa disputa pela hegemonia no seio da igreja pentecostal da Nigéria. Sobretudo pela supremacia no uso dos muitos milhões que ela anualmente arrecada dos seus fiéis e que utiliza sem prestar contas a ninguém.

Embora com as cautelas que o assunto aconselha, sobretudo por envolver a morte de centenas de pessoas, há quem veja no desabamento do edifício de Lagos onde funcionava uma grande e importante sinagoga um sinal de que o período doirado do pastor Joshua tenha chegada ao fim, pelo menos na Nigéria.


Não se sabendo se essa análise é consequência de uma qualquer premonição resta-nos esperar para ver como vai terminar essa disputa e qual o papel que está reservado aos fiéis que, não querendo saber de negócios – claros ou escuros – apenas buscam o conforto da palavra do senhor.

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