Sergio
Domingues – Diário Liberdade, opinião
Pior
que a epidemia do Ebola é a onda de preconceitos e racismo que a acompanha.
Mesmo onde ela está longe de chegar, já se cobram medidas que miram menos a
doença que os possíveis doentes. Principalmente, os negros.
As
condições que fizeram surgir o Ebola na África nada têm a ver com "atrasos
tribais" ou "costumes primitivos". É a ação da
"civilização" branca que destrói habitats e trouxe para perto dos
seres humanos doenças que estavam isoladas.
Mas
a secular ideologia racista é imune a argumentações racionais. O pânico cria o
preconceito. E este é alimentado pela grande mídia e pelos governos para
justificar mais controle e repressão sobre as populações pobres.
Barack
Obama acaba de declarar o Ebola "um grave perigo para os Estados
Unidos". Pretende enviar tropas americanas à África com o pretexto de
apoiar o trabalho dos agentes de saúde internacionais. Ao mesmo tempo, aprovou
no Conselho de Segurança da ONU uma resolução que considera a epidemia uma
"ameaça à paz e à segurança internacionais".
No
caso do HIV, os homossexuais não eram as únicas vítimas do vírus, mas
tornaram-se o principal alvo dos preconceitos. A intolerância que os isolou
também impediu a prevenção e a pesquisa de medicamentos por muitos anos.
Com
o Ebola, o racismo se volta contra as populações africanas. Os membros da
cúpula da ONU dizem que é preciso impedir que a doença se espalhe. Na verdade,
pretendem isolar a epidemia na África. Nem que isso custe a vida de milhões de
africanos. Pela ação do vírus, mas também pela força das armas.
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