Tiago Mota Saraiva – jornal i, opinião
No
momento em que sobram notícias de apelos à unidade do PS e com o PS, do Livre
ao CDS-PP, importa recordar que a política não é apenas feita de mediação,
inclusão e consenso. Em democracia, afirmar a divergência é fundamental para
que os eleitores possam escolher entre o que é diferente.
Nesse
sentido, é de vital utilidade para a democracia o projecto de resolução que o
PCP apresentou na terça-feira no parlamento. Este documento defende três
decisões políticas estruturantes contrárias às do actual governo: renegociação
da dívida, preparação da saída do euro, nacionalização da banca privada. Não é
difícil perceber que não há renegociação da dívida em condições favoráveis para
o país sem sair da alçada da zona euro - onde se encontra uma parte
significativa dos interessados na nossa dívida soberana - e sem que o Estado
assuma o controlo do sistema financeiro. Na verdade, não há António que não
escolhendo uma destas três iniciativas - podendo a escolha de uma obrigar às
outras duas - possa verdadeiramente propor políticas muito diferentes das de
Pedro.
A
proposta do PCP é corajosa, assume a divergência e propõe um caminho
alternativo.
Se
é certo que a decisão tem custos e incertezas, recupera para as instituições
nacionais as decisões estruturantes da política do país e assume uma ruptura
com as políticas centrais da União Europeia. Desvalorizá-la ou descrevê-la como
o cabo das Tormentas é uma forma obscurantista de a combater mas não pode
esconder que prosseguir no caminho da UE e do Tratado Orçamental significa
abdicar de mais instrumentos democráticos e consagrar definitivamente o poder
da UE em detrimento da soberania popular e do país. O Tratado Orçamental e as
regras do euro foram pensados para que, independentemente do resultado das
eleições, a política se mantenha, e a democracia é exactamente o contrário
disso.
Escreve
ao sábado
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