Os
dois repórteres do Folha 8 que hoje (sábado) acompanharam profissionalmente a
manifestação que, em Luanda, envolvia dez movimentos contestatários reunidos no
autodenominando Conselho Nacional dos Activistas de Angola, foram vítimas –
como muitos outros – da sanha persecutória do regime.
Para
além de ficarem sem o respectivo equipamento de trabalho, foram detidos pelas
forças de segurança e abandonados numa mata para lá do Cacuaco. Isto depois de
umas lições de reeducação patriótica, baseadas sobretudo na lei do cassetete –
para aprimorar fisicamente estes delinquentes do Folha 8 – e de violentos
vitupérios verbais, entendíveis à luz do manual de boas maneiras que vigora no
regime.
Só
ao fim de algumas horas foi possível localizar os nossos colegas que, ainda atordoados
com tão exaustivas lições de democracia, contaram que foi graças a um grupo de
populares que conseguiram saber em que mata estavam e qual o rumo que deveriam
tomar para regressar à civilização musculada de Luanda, mais uma vez a capital
do terror policial.
Foi,
para os jornalistas Kassinda Henda e Sílvio Van-Dúnem uma experiência única.
Felizmente que conseguiram sobreviver, defraudando as expectativas dos
carrascos para quem jornalista bom é jornalista morto. E se um qualquer
manifestante tinha uma dose já pré-estabelecida de violência física e verbal,
os jornalistas apanhados selectivamente lá pelo meio viram essa prescrição
triplicada.
Muita
porrada foi a receita mínima imposta pelas forças de segurança. Compreende-se.
Quando viram cidadãos, no caso jornalistas, munidos de enorme poder bélico
(canetas, gravadores e telemóveis), temeram que estivesse em marcha um golpe de
Estado. Vai daí, porrada como medida profiláctica.
Os
nossos companheiros bem tentaram explicar aos carrascos, típicos homens que são
sempre fortes com os fracos e fraquinhos com os fortes, que eram jornalistas e
que, para além disso, ou antes disso, eram cidadãos com direitos consagrados na
Constituição.
Nada
resultou. Não conheciam, nem sabiam, o que era essa coisa da Constituição. Para
eles apenas existe a lei do regime que, de forma clara e inequívoca, estabelece
que ”quem não é dos nossos é contra nós”. Ou seja, quem não estiver com o MPLA
é culpado até prova em
contrário. E não adiantou dizer que a equipa do Folha 8 só lá
estava para contar o que se passava.
E,
para que que os nossos companheiros não se sentissem sós, ou privilegiados,
foram muitos os concidadãos que tiveram o mesmo tratamento. É claro que nem
todos foram despejados no mesmo sítio.
E
assim se faz a história da democracia e do Estado de Direito que José Eduardo
dos Santos diz existir em Angola.
Folha
8 Diário
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