O
líder da Unita Isaías Samakuva “terá sido infeliz” em declarações que fez
recentemente em Portugal advogando uma “segunda independência” para Angola,
disse o embaixador angolano em Lisboa José Marcos Barrica.
Voz
da América, em Angola Fala Só
O
diplomata respondia a um pergunta de um ouvinte do Namibe no
programa “Angola Fala Só”,da VOA, esta sexta-feira, 7, e considerou
ainda de “extravagante” o facto dessa declaração ter sido feita em
Portugal, "o país colonizador de Angola" e por Samakuva ser o
“primeiro líder da oposição” angolana, com esse estatuto saído de eleições.
“Alguma
emoção terá invadido o Dr. Samakuva porque não é fácil falar em público”, disse
o embaixador angolano que afirmou não fazer sentido “ao fim de 39 anos de
independência pedir ao colonizador” uma segunda independência.
No
seu diálogo com os ouvintes, o embaixador Marcos Barrica disse que as
relações com Portugal têm atravessado momentos bons e momentos maus.
"As
relações entre Angola e Portugal sempre conheceram ao longo do seu percurso momentos altos e momentos menos bons, frutos de todo um passado e há
ressentimentos que vão condicionando essas relações", explicou afirmando
ainda que Angola quer ter boas relações com todos os países e povos "em
especial com Portugal".
"Creio
que há também vontade das instituições políticas e governamentais de Portugal
para que estas relações sejam boas", afirmou
O
diplomata disse, no entanto, que “há círculos em Angola e Portugal” que não
estão interessados na evolução das relações, "criando artificialmente
factos para condicionar essas relações".
Mas
acrescentou: “há um empenho muito grande (de ambas as partes) para que os
factores que tendem a desestabilizar essas relações sejam negligenciados e se
aproveite aquilo que é de positivo e bom, que reina entre os nossos países,
Estados e sobretudo entre os nossos povos".
Actualmente,
as relações entre Angola e Portugal "situam-se num plano razoável",
disse o diplomata.
"Há
um ano estivemos a caminhar para a excelência de relações que iria culminar com
a formalização dessa excelência através da realização de uma cimeira
bilateral, mas que ficou interrompida por causa de situações
´supervenientes´", acrescentou afirmando que que "está a ser
feito um esforço pelos dois Governos para se afastar os factores de crispação e
que criam problemas para caminharmos naquilo que é desejável, nomeadamente a excelência das relações".
Barrica
chamou a atenção para o facto de não haver ódio de angolanos para com Portugal
ou de Portugal para com os angolanos, mas esclareceu que uma cimeira de
chefes de Estado dos dois países “não está para breve” embora pessoalmente “eu
desejo que assim seja”.
Marcos
Barrica elogiou também o papel diplomático de Portugal na recente eleição de
Angola para membro não permanente do Conselho de Segurança das Nações
Unidas. “Portugal foi um arauto junto dos países europeus da candidatura
de Angola”, garantiu o embaixador.
Marcos
Barrica falou também sobre as relações económicas entre Angola e Portugal
e fez notar as áreas de investimentos angolanos em Portugal. Ele
considerou, entretanto, que há ainda muito mais investimentos portugueses em
Angola do que vice-versa: “Gostaria que houvesse mais investimentos angolanos
em Portugal.”
Um
ouvinte colocou ao embaixador a questão da liberdade política em Angola,
afirmando que as manifestações são reprimidas e que há ainda “matanças” de
dirigentes políticos da oposição em Angola".
O
embaixador disse poder haver casos “isolados” que “estão a ser investigados”
mencionando os assassinatos dos activistas Alves Kamulingue e Isaías Cassule.
“Está
fora de questão a perseguição política pelo MPLA”, reiterou o embaixador que
admitiu poder haver “casos de pessoas que fazem uso de forças politicas para
agirem fora da lei”.
José
Marcos Barrica classificou de “extravagantes e falsas" as acusações de que
a Embaixada angolana em Lisboa só ajuda o regresso a Angola de cidadãos que
tenham cartão do partido no poder.
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