Rodrigo
Janot diz que advogado de Youssef "operava para o PSDB" e vazou
informações “seletivamente” durante a eleição. Vazamento não provado atingiu
Lula e Dilma
O
procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou que o advogado do doleiro
Alberto Youssef, um dos delatores da Operação Lava Jato, era ligado ao PSDB e
vazou informações seletivamente para influenciar as eleições realizadas em
outubro.
“Estava
visível que queriam interferir no processo eleitoral”, disse Janot em
entrevista publicada pelo jornal Folha de S.Paulo nesta segunda-feira
17. “O advogado do Alberto Youssef operava para o PSDB do Paraná, foi indicado
pelo Beto Richa para a coisa de saneamento, tinha vinculação com partido”,
afirmou o PGR. O advogado citado por Janot é Antonio Augusto Figueiredo Basto,
coordenador da defesa de Youssef. Por um ano entre 2011 e 2012, durante o
governo de Beto Richa (PSDB) no Paraná, Basto teve um cargo de conselheiro do
Conselho de Administração da Sanepar, a Companhia de Saneamento do Paraná.
De
acordo com Janot, Basto “começou a vazar coisa seletivamente” e foi avisado
pela procuradoria a respeito do risco que a estratégia envolvia. “Eu alertei
que isso deveria parar, porque a cláusula contratual diz que nem o Youssef nem
o advogado podem falar”, afirmou Janot. “Se isso seguisse, eu não teria
compromisso de homologar a delação”, disse. Pelo acordo feito entre a PGR e os
delatores, o conteúdo da delação premiada deve ser mantido em sigilo, sob pena
de o acusado perder os benefícios negociados com os procuradores.
A
tese do procurador-geral da República vai ao encontro da suspeita de investigadores
da Polícia Federal. Conforme revelou o jornal O Globo em 29 de
outubro, a PF suspeita de armação no depoimento em que Youssef afirmou
que tanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva quanto a então candidata à
reeleição Dilma Rousseff, ambos do PT, sabiam do esquema de corrupção na
Petrobras.
A
reportagem do jornal carioca indicava que a PF suspeita da ação da defesa do
doleiro. De acordo com O Globo, Youssef prestou depoimento em 21 de
outubro, como vinha fazendo normalmente, e não citou Lula ou Dilma. Em 22 de
outubro, diz o jornal, um dos advogados de Youssef pediu para “fazer uma
retificação no depoimento anterior”. No interrogatório, afirma O Globo, o
advogado “perguntou quem mais, além das pessoas já citadas pelo doleiro, sabia
da fraude na Petrobras”. Youssef disse, prossegue o jornal, “acreditar que,
pela dimensão do caso, não teria como Lula e Dilma não saberem”.
A
denúncia foi publicada na noite de quinta-feira 23 pela revistaVeja, que
naquela semana antecipou sua circulação semanal em um dia. No fim daquela
semana, Aécio Neves (PSDB) e Dilma se enfrentariam no segundo turno das
eleições presidenciais. No domingo 26, a capa da revista circulou em forma de
panfletos por algumas das maiores cidades do País e um boato a respeito do
suposto assassinato de Youssef circulou pelas redes sociais.
A suspeita
da PF levantou uma questão temporal curiosa. Enquanto a retificação do
depoimento de Youssef teria ocorrido na quarta-feira 22, segundo O Globo, Veja afirmou
em nota que sua apuração "começou na própria terça-feira [21], mas só
atingiu o grau de certeza e a clareza necessária para publicação na tarde de
quinta-feira [23]".
Em
30 de outubro, Basto negou a existência da retificação e também a
suposta ligação com o PSDB. "Nesse dia [22] não houve depoimento no âmbito
da delação. Isso é mentira. Desafio qualquer um a provar que houve oitiva da delação
premiada na quarta-feira", afirmou Basto ao jornal Valor Econômico.
"Eu não tenho nenhuma relação com o PSDB. Me desliguei em 2002 do conselho
da Sanepar. Não tenho vínculo partidário e nem pretendo ter. Nem com PSDB, nem
com PT, nem com partido algum", disse.
Carta
Capital – foto Antonio Cruz / Agência Brasil
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