segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Brasil - Operação Lava Jato: “Queriam interferir no processo eleitoral”, diz procurador-geral




Rodrigo Janot diz que advogado de Youssef "operava para o PSDB" e vazou informações “seletivamente” durante a eleição. Vazamento não provado atingiu Lula e Dilma

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou que o advogado do doleiro Alberto Youssef, um dos delatores da Operação Lava Jato, era ligado ao PSDB e vazou informações seletivamente para influenciar as eleições realizadas em outubro.

“Estava visível que queriam interferir no processo eleitoral”, disse Janot em entrevista publicada pelo jornal Folha de S.Paulo nesta segunda-feira 17. “O advogado do Alberto Youssef operava para o PSDB do Paraná, foi indicado pelo Beto Richa para a coisa de saneamento, tinha vinculação com partido”, afirmou o PGR. O advogado citado por Janot é Antonio Augusto Figueiredo Basto, coordenador da defesa de Youssef. Por um ano entre 2011 e 2012, durante o governo de Beto Richa (PSDB) no Paraná, Basto teve um cargo de conselheiro do Conselho de Administração da Sanepar, a Companhia de Saneamento do Paraná.

De acordo com Janot, Basto “começou a vazar coisa seletivamente” e foi avisado pela procuradoria a respeito do risco que a estratégia envolvia. “Eu alertei que isso deveria parar, porque a cláusula contratual diz que nem o Youssef nem o advogado podem falar”, afirmou Janot. “Se isso seguisse, eu não teria compromisso de homologar a delação”, disse. Pelo acordo feito entre a PGR e os delatores, o conteúdo da delação premiada deve ser mantido em sigilo, sob pena de o acusado perder os benefícios negociados com os procuradores.

A tese do procurador-geral da República vai ao encontro da suspeita de investigadores da Polícia Federal. Conforme revelou o jornal O Globo em 29 de outubro, a PF suspeita de armação no depoimento em que Youssef afirmou que tanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva quanto a então candidata à reeleição Dilma Rousseff, ambos do PT, sabiam do esquema de corrupção na Petrobras.

A reportagem do jornal carioca indicava que a PF suspeita da ação da defesa do doleiro. De acordo com O Globo, Youssef prestou depoimento em 21 de outubro, como vinha fazendo normalmente, e não citou Lula ou Dilma. Em 22 de outubro, diz o jornal, um dos advogados de Youssef pediu para “fazer uma retificação no depoimento anterior”. No interrogatório, afirma O Globo, o advogado “perguntou quem mais, além das pessoas já citadas pelo doleiro, sabia da fraude na Petrobras”. Youssef disse, prossegue o jornal, “acreditar que, pela dimensão do caso, não teria como Lula e Dilma não saberem”.

A denúncia foi publicada na noite de quinta-feira 23 pela revistaVeja, que naquela semana antecipou sua circulação semanal em um dia. No fim daquela semana, Aécio Neves (PSDB) e Dilma se enfrentariam no segundo turno das eleições presidenciais. No domingo 26, a capa da revista circulou em forma de panfletos por algumas das maiores cidades do País e um boato a respeito do suposto assassinato de Youssef circulou pelas redes sociais.

A suspeita da PF levantou uma questão temporal curiosa. Enquanto a retificação do depoimento de Youssef teria ocorrido na quarta-feira 22, segundo O Globo, Veja afirmou em nota que sua apuração "começou na própria terça-feira [21], mas só atingiu o grau de certeza e a clareza necessária para publicação na tarde de quinta-feira [23]".

Em 30 de outubro, Basto negou a existência da retificação e também a suposta ligação com o PSDB. "Nesse dia [22] não houve depoimento no âmbito da delação. Isso é mentira. Desafio qualquer um a provar que houve oitiva da delação premiada na quarta-feira", afirmou Basto ao jornal Valor Econômico. "Eu não tenho nenhuma relação com o PSDB. Me desliguei em 2002 do conselho da Sanepar. Não tenho vínculo partidário e nem pretendo ter. Nem com PSDB, nem com PT, nem com partido algum", disse.

Carta Capital – foto Antonio Cruz / Agência Brasil

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