segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Espanha: Rajoy afirma que enquanto mandar não haverá independência da Catalunha



Diogo Vaz Pinto – jornal i

Mas diz que quer negociar de novo o referendo com Rajoy mas primeiro ministro garante que enquanto mandar não haverá independência

Depois de três magistrados de Barcelona, Badalona e Tarragona terem recusado medidas cautelares para impedir a consulta alternativa sobre a independência na Catalunha, o voto realizou-se frente à perspectiva de não representar mais do que outra reclamação nacionalista, com as autoridades da região a presidirem à festa.

Ao longo da manhã de ontem foram recebidas seis denúncias, três das quais no tribunal de Barcelona: a do UPyD (Unión, Progreso y Democracia), uma da xenófoba Plataforma pela Catalunha e uma de um particular. O juiz em funções na capital regional, Gonzalo de Dios Hoyo, defendeu que dar ordem para que fossem retiradas as urnas, como pedia o UPyD, era uma opção que não atendia ao princípio da proporcionalidade, critério partilhado pelos magistrados de serviço nas duas outras cidades catalãs que receberam queixas contra a consulta.

Por sua vez, o governo de Madrid considerou "inútil" o "exercício anti-democrático" em que, até há uma da tarde, mais de 1 milhão de catalães tinha já participado. No boletim havia duas perguntas: "Quer que a Catalunha seja um Estado?" e, nesse caso, "Quer que a Catalunha seja um Estado independente". A taxa de participação registava um número próximo do que se verificou nas eleições europeias de Maio. Para Madrid, a atitude durante o processo do presidente do governo regional da Catalunha, Artur Mas, "dificulta muito o futuro". Fontes do governo nacional insistiram que a consulta que estava a desenrolar-se não tinha quaisquer efeitos jurídicos e não vai traduzir-se em qualquer vantagem política para o presidente da Generalitat.

Mariano Rajoy, chefe do governo, disse no sábado que ao processo de ontem na Catalunha "podiam chamar-lhe o que quisessem, mas não se trata nem de um referendo nem de uma consulta, nem se trata de nada de parecido", sublinhando que "não produzirá efeito nenhum". Rajoy foi mais longe e garantiu que enquanto ele for chefe do governo a soberania nacional estará a salvo, e aconselhou o líder catalão a recuperar "a sanidade" a partir de hoje.

Depois de ter votado ao final da manhã na escola de Pia Balmes, em Barcelona, Mas disse que não estava "de todo" preocupado com as denúncias que o UPyD apresentou contra ele e outros responsáveis da Generalitat por desobediência e transgressão, depois de o Tribunal Constitucional ter suspendido a consulta que mesmo assim se celebrou. O líder catalão assegurou que o seu desejo agora passa por iniciar esta semana a negociação de "um referendo real" com Rajoy. "Depois de tudo o que fizemos, ganhámos o direitos a um referendo definitivo; se for possível, com o acordo do governo" central.

Entretanto, e do lado dos muitos catalães que resistem ao "discurso hegemónico" dos independentistas, Juan Arza, porta-voz da associação Societat Civil Catalana, explicou em entrevista ao "Público" como o aparelho liderado por Mas conseguiu calar uma série de manifestações contra a sua gestão e "unir muita gente em torno desta ideia do 'direito a decidir' e tiveram um êxito enorme (...) Viram que tinham uma janela de oportunidade histórica e estão a fazer tudo para a aproveitar. Transformaram o tema numa questão de 'sim' ou 'não', quando a maioria dos catalães o que deseja são reformas, não apoiam o status quo das autonomias mas também não querem a independência."

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