Diogo
Vaz Pinto – jornal i
Mas
diz que quer negociar de novo o referendo com Rajoy mas primeiro ministro
garante que enquanto mandar não haverá independência
Depois
de três magistrados de Barcelona, Badalona e Tarragona terem recusado medidas
cautelares para impedir a consulta alternativa sobre a independência na
Catalunha, o voto realizou-se frente à perspectiva de não representar mais do
que outra reclamação nacionalista, com as autoridades da região a presidirem à
festa.
Ao
longo da manhã de ontem foram recebidas seis denúncias, três das quais no
tribunal de Barcelona: a do UPyD (Unión, Progreso y Democracia), uma da
xenófoba Plataforma pela Catalunha e uma de um particular. O juiz em funções na
capital regional, Gonzalo de Dios Hoyo, defendeu que dar ordem para que fossem
retiradas as urnas, como pedia o UPyD, era uma opção que não atendia ao
princípio da proporcionalidade, critério partilhado pelos magistrados de
serviço nas duas outras cidades catalãs que receberam queixas contra a
consulta.
Por
sua vez, o governo de Madrid considerou "inútil" o "exercício
anti-democrático" em que, até há uma da tarde, mais de 1 milhão de
catalães tinha já participado. No boletim havia duas perguntas: "Quer que
a Catalunha seja um Estado?" e, nesse caso, "Quer que a Catalunha
seja um Estado independente". A taxa de participação registava um número
próximo do que se verificou nas eleições europeias de Maio. Para Madrid, a
atitude durante o processo do presidente do governo regional da Catalunha,
Artur Mas, "dificulta muito o futuro". Fontes do governo nacional
insistiram que a consulta que estava a desenrolar-se não tinha quaisquer
efeitos jurídicos e não vai traduzir-se em qualquer vantagem política para o
presidente da Generalitat.
Mariano
Rajoy, chefe do governo, disse no sábado que ao processo de ontem na Catalunha
"podiam chamar-lhe o que quisessem, mas não se trata nem de um referendo
nem de uma consulta, nem se trata de nada de parecido", sublinhando que
"não produzirá efeito nenhum". Rajoy foi mais longe e garantiu que enquanto
ele for chefe do governo a soberania nacional estará a salvo, e aconselhou o
líder catalão a recuperar "a sanidade" a partir de hoje.
Depois
de ter votado ao final da manhã na escola de Pia Balmes, em Barcelona, Mas
disse que não estava "de todo" preocupado com as denúncias que o UPyD
apresentou contra ele e outros responsáveis da Generalitat por desobediência e
transgressão, depois de o Tribunal Constitucional ter suspendido a consulta que
mesmo assim se celebrou. O líder catalão assegurou que o seu desejo agora passa
por iniciar esta semana a negociação de "um referendo real" com
Rajoy. "Depois de tudo o que fizemos, ganhámos o direitos a um referendo
definitivo; se for possível, com o acordo do governo" central.
Entretanto,
e do lado dos muitos catalães que resistem ao "discurso hegemónico"
dos independentistas, Juan Arza, porta-voz da associação Societat Civil
Catalana, explicou em entrevista ao "Público" como o aparelho
liderado por Mas conseguiu calar uma série de manifestações contra a sua gestão
e "unir muita gente em torno desta ideia do 'direito a decidir' e tiveram
um êxito enorme (...) Viram que tinham uma janela de oportunidade histórica e
estão a fazer tudo para a aproveitar. Transformaram o tema numa questão de
'sim' ou 'não', quando a maioria dos catalães o que deseja são reformas, não
apoiam o status quo das autonomias mas também não querem a
independência."
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