Lisboa,
06 nov (Lusa) -- O antigo ministro socialista dos Negócios Estrangeiros Luís
Amado considerou hoje que a entrada da Guiné Equatorial na Comunidade dos
Países de Língua Portuguesa (CPLP) marcou "uma rutura no paradigma"
da organização e trouxe "muitas incertezas" sobre o futuro.
A
adesão, em julho passado, durante a X cimeira de chefes de Estado e de Governo
da CPLP, da Guiné Equatorial, país cuja língua predominante é o espanhol,
representou "um momento de rutura num paradigma em que a comunidade viveu
até hoje e que a partir de agora deixa de viver, com muitas incertezas
relativamente à dinâmica que passará a ter no futuro", afirmou o ex-ministro
dos governos liderados por José Sócrates, que intervinha na apresentação do
livro "Os Desafios do Futuro - 18 anos da CPLP".
Esse
funcionamento futuro, acrescentou, "vai resultar do equilíbrio de poder
dentro da organização e da forma como o equilíbrio dos interesses e dos valores
impõe a agenda da organização e impõe as decisões no fim de cada ciclo".
A
adesão do país liderado desde 1979 por Teodoro Obiang foi, na ótica do antigo
governante socialista, um dos dois "momentos de descontinuidade" que
se observaram na cimeira de Díli, cujo "significado histórico"
enalteceu.
"Lamento
muito que em muitos círculos da sociedade portuguesa a cimeira tenha tido um
alheamento tão intenso relativamente ao momento que representou para a
organização", declarou Luís Amado, que foi vice-presidente da comissão
preparatória da reunião da organização lusófona na capital timorense.
O
antigo ministro destacou que Timor-Leste "assumiu a orientação estratégica
de se inserir no espaço da CPLP", o que garante aos restantes
Estados-Membros, concentrados em torno do Atlântico, terem "uma
representação dos seus interesses" na Ásia, que hoje vive "uma
reorganização estratégica".
O
bloco de nove países, continuou, assume agora um "novo pilar": o da
cooperação económica e empresarial, "uma realidade nova na arquitetura
institucional da CPLP, com grande importância para o futuro, sobretudo numa
dimensão de internacionalização económica que todos os países vivem".
Na
cerimónia de apresentação do livro, que contou com a presença do
primeiro-ministro da Guiné-Bissau, Domingos Simões Pereira, anterior
secretário-executivo da CPLP, Luís Amado desvalorizou quaisquer tensões que
existam no seio da organização, que considerou normais, e deixou algumas
orientações para o futuro.
Uma
delas é a abertura ao exterior, quando cresce o interesse de outros países na
CPLP, como demonstram as adesões como observadores associados do Japão,
Turquia, Geórgia e Namíbia, sendo a convergência na ação multilateral outro
passo que "vai ter de ser prosseguido".
Luís
Amado defendeu ainda que a convergência de direitos de cidadania no espaço da
CPLP "é o grande desafio da comunidade", que deve também ter em
consideração as questões relacionadas com a cooperação empresarial e as
mudanças de paradigma, na última década, da ajuda ao desenvolvimento.
Por
fim, o antigo responsável pela diplomacia portuguesa considerou que a organização
tem de se reforçar de forma a ter uma presença "mais compatível com a
dimensão e ambição" desta comunidade.
JH
// JPS - Lusa
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