Em
Angola, o Governo autorizou um empréstimo de 300 milhões de dólares à Biocom,
uma empresa privada detida em 40% por altos cargos ligados ao Presidente.
Economista angolano diz que o negócio é um jogo de interesses.
O
Presidente angolano autorizou o Ministério das Finanças a negociar com a
empresa Biocom - Companhia de Bioenergia de Angola um financiamento de 300
milhões de dólares.
José
Eduardo dos Santos terá emitido uma garantia soberana por considerar o projeto
“estratégico”. A emissão da garantia, em termos práticos, significa que se o
projeto falhar o Estado assume os 70% da dívida perante os bancos comerciais
que cedem o dinheiro.
Falta
de transparência
O
economista Manuel José Alves da Rocha considera a transação pouco transparente.
“Tratando-se
de iniciativas e empreendimentos privados, não tem de haver esta garantia de
300 milhões de dólares. Creio que esta empresa já está a injetar dez megawatts
de energia aumentando a capacidade de fornecimento de eletricidade do país… São
negócios que não são claros, nem transparentes”, adianta o economista angolano.
“Isso
é possível porque a Oderbrecht tem uma enorme liberdade para fazer o que quer.
O seu acesso ao poder político é muito facilitado. E isso também pode vir a
estar respaldado na linha de crédito. Não foi por acaso que o Brasil aumentou a
linha de crédito para Angola em cinco mil milhões de dólares”, acrescenta Alves
da Costa.
A
Biocom é uma parceria entre o Estado angolano, através da Agência Nacional de
Investimento Privado, e da Sonangol Holdings, com 20%. O grupo angolano Damer
detém 40%, tal como a empresa brasileira Odebrecht.Altos funcionários da
Presidência angolana tem também participações na Biocom.
“A
Sonangol é um instrumento do poder político e do poder económico instalado. Não
sei se poderemos interpretar esta participação da Sonangol como uma garantia e
uma defesa dos interesses nacionais”, comenta o economista.
“A
Sonangol ao fazer isso tenta defender mais os seus interesses do que os
interesses da população. Para mim não é o facto da Sonangol, enquanto empresa
estatal, participar dessas operação que me dá garantias de que os interesses
nacionais serão salvaguardados. Todos estes projetos da BIOCOM foram feitos sob
pressão da Oderbrecht e das empresas brasileiras em Angola”, frisa.
UNITA
pediu esclarecimentos
No
Parlamento, a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA),
principal partido da oposição, já pediu esclarecimentos ao Governo sobre o
negócio, mas o Executivo escusa-se a comentar.
A
UNITA reclama ainda o facto do ministro das Finanças, Armando Manuel, ter
omitido os nomes dos acionistas quando fez saber que concedeu a garantia
soberana à referida empresa.
Adriano
Sapinala, membro da UNITA, não tem dúvidas de que se trata de mais uma caso de
falta de transparência, tráfico de influências e abuso de poder.
“A
entrada do Estado nesta mesma empresa traz claramente nepotismo, porque estão a
fazer-se negócios entre os agentes do Estado e o próprio Estado. É aqui onde
reside o perigo quanto à segurança do fundo, na medida em que depois ninguém
cobra nem fiscaliza ninguém”, alerta.
“À
medida que as empresas vão falindo, o Estado está sempre presente para dar
garantias. É isso que tem estado a prejudicar a economia do país”, lamenta o
membro da UNITA.
A
Biocom tem uma licença de exploração de energia de 20 anos. Com o aval do
Presidente, o Estado angolano aparece mais uma vez como protecionista ao
subsidiar, também, a diferença entre o preço do quilowatt do contrato entre a
Biocom e a Empresa Nacional de Eletricidade, e o preço do quilowatt a ser
praticado ao público.
“Infelizmente
é o Estado que vai subsidiar é essa diferença”, conclui Adriano Sapinala.
Nádia
Issufo – Deutsche Welle
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