terça-feira, 18 de novembro de 2014

Moçambique: CHUVA DESESPERA CITADINOS DOS BAIRROS POBRES EM MAPUTO




Verdade (mz), em Tema de Fundo

As autoridades que tratam dos fenómenos atmosféricos e das suas leis, com vista à previsão do tempo, e as que lidam com a gestação das calamidades naturais, advertem que entre Janeiro e Março de 2015, as províncias de Manica, de Sofala, da Zambézia, de Nampula e de Maputo, mormente as zonas baixas, vão registar “excesso” de água ou inundações. Os problemas de saneamento do meio e de mobilidade, que duram há muito tempo e cujas soluções tardam, agravar-se-ão. O drama vai repetir-se. Ruas alagadas e intransitáveis, deslizamento de terras, casas e outras infra-estruturas sociais submergidas ou destruídas, lixo em abundância, eclosão de doenças e mortes são o espectro previsível para os próximos meses.

Nesta época chuvosa, em geral, os rios vão transbordar sobremaneira e alagar as vias públicas, as machambas, as casas, as escolas, afogar gente e o gado. Muitas comunidades estarão isoladas uma das outras. Os planos de contingência destas e outras situações continuam altamente eficazes no papel ou apenas funcionam para mitigar problemas de curto prazo. Todos os anos temos acompanhado isso. Neste período de caos, a capital moçambicana (em particular), mormente as áreas periféricas, vai ficar coberta de água, que serpenteia transportando todo o tipo de lixo que, para além de causar outros males, obstruí as sarjetas.

Os esgotos vão rebentar e criar mais focos de enfermidades. Neste período chuvoso vários outros problemas que derivam do deficitário sistema de esgoto na cidade de Maputo vão ficar a descoberto. Muita gente vai ficar ao relento. Milhares de famílias vão dormir sobre as mesas, outras vão passar noites em claro e em pé dentro dos charcos de água nos seus domicílios e vamos ouvir gritos aterradores de desespero.

As restrições no fornecimento de energia eléctrica e de água devido à queda de postes de transporte e ao rompimento de tubagem, famílias desalojadas – algumas a viver em centros de acomodação e em situações pouco dignas e outras sem eira nem beira – é o que também se vai assistir nos próximos dias. As inundações que anualmente assolam a capital do país derivam do fraco sistema de drenagem, das precárias condições de saneamento do meio, do facto de o grosso dos bairros estarem situados muito próximo do lençol freático e por estarem situados numa zona onde impera o desordenamento territorial.

Xipamanine, Maxaquene, Chamanculo, Mafalala, Munhuana e Polana Caniço são um exemplo claro desta situação alarmante. Os problemas a que nos referimos constituem o dilema de sempre dos citadinos de Maputo e do resto do país. O medo das enchentes e, por conseguinte, de perder tudo, de repente, já é visível nesta altura devido ao facto de nas épocas chuvosas passadas os estragos resultantes da chuva terem sido avultados. Aliás, algumas pessoas ainda queixam-se dos efeitos da chuva dos anos passados.

@Verdade efectuou uma ronda por alguns bairros da urbe e constatou que em muitas zonas nada foi ou está a ser feito para evitar que a calamidade se repita este ano. Os munícipes vivem apreensivos e assumem que já esperam que o pior aconteça. Todos os anos, a desgraça repete-se nos bairros tais como Aeroporto “A” e “B”; Xipamanine; Minkadjuíne; Unidade 7; Chamanculo “A”, “B”, “C” e “D”; Malanga e Munhuana, onde os sacos cheios de areia têm sido insuficientes para conter a fúria das águas da chuva e impedir as árvores tombem, os solos sejam arrastados para as zonas mais baixas e as danos resultantes de outros problemas sejam maiores.

Os bairros da Polana Caniço “A” e “B”, Maxaquene, Ferroviário, Hulene “A” e “B”, Urbanização, Mafalala, Inhagoia “A” e “B”; Luís Cabral; Magoanine; Malhazine; Nsalane; 25 de Junho “A” e “B”, Zimpeto, Laulane; Mahotas, Albazine e Costa do Sol também viram um caos quando chove. As soluções a que as pessoas destas zonas recorrem para evitar que a terra seja arrastada e as suas habitações deitadas abaixo têm sido meramente paliativas. Elas clamam por medidas mais eficazes.

Quase todas as zonas acima referidas têm as mesmas características: desordenamento territorial de deixar qualquer pessoa com os nervos à flor da pele e pouca capacidade de escoamento das águas da chuva por causa da saturação dos solos. Para piorar a situação, posteriormente surgem doenças relacionadas com a falta de higiene e proliferação de charcos ou águas estagnadas, onde as crianças mergulham na maior inocência, longe ou diante dos olhos de indivíduos adultos que desconhecem o ignoram as normas de salubridade. (continua)


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