Daniel
Deusdado – Jornal de Notícias, opinião
1.
Quando a 31 de julho o Banco Central Europeu, perante o buraco criado por
Ricardo Salgado, quis salvar de imediato os seus 10 mil milhões no banco,
mandou-nos para o inferno. Nessa altura o Governo assobiou para o lado fazendo
de conta que quem mandava em tudo era o Banco de Portugal. Ainda assim,
reafirme-se este dado essencial: salvaram-se quase todos os depósitos no BES e
a confiança mínima nos outros bancos. Porque uma gigantesca fuga de capitais do
país esteve quase a acontecer.
2. O
Fundo de Resolução, para salvar o lado bom do BES e criar o Novo Banco, foi
assumido pelos bancos. O custo acaba por minimizar o risco dos contribuintes
(só acontece por via da Caixa Geral de Depósitos em menos de 30%). Mas, na
minha opinião, a recapitalização do banco, através do fundo disponibilizado
pela troika, teria evitado a destruição do BES. A marca BES garantiria
obviamente um valor superior ao do Novo Banco no momento de venda. Mais: todos
os bancos que até hoje pediram o apoio de recapitalização acabaram mais
valorizados e a devolver com ganhos o dinheiro ao Estado. Mas agora não vale a
pena olhar para trás.
3. O
presidente da Comissão de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) voltou a
garantir a proteção das poupanças de quem ficou embrulhado nos produtos
financeiros tóxicos do GES (Rioforte e ESI) induzidos aos balcões do BES. É já
sabido que os clientes perderão os juros mas mantêm a expectativa de resgatar o
capital. Na prática, ao fazê-lo, o banco devolveria as poupanças aos clientes,
transformando-as em depósitos a prazo - que ficariam como ativos do banco
(valorizando a venda). Falta confirmar até agora o mais surpreendente: se o
Banco de Portugal falha à palavra dada ao longo de 2014 e os produtos tóxicos
do GES acabam por levar à falência milhares de clientes do retalho.
4. Uma
luz nova: os pequenos acionistas que perderam dinheiro no aumento de capital
podem acabar por ser minimamente compensados. Como? Através da reserva de uma
parte do capital do Novo Banco. Foi isto que o presidente da CMVM sugeriu
anteontem e seria uma forma de mitigar a desgraça que é ter-se sido acionista
ao lado da família Espírito Santo. Seria justo e uma boa saída.
5. Deixar
a CMVM fora da reunião magna do fim do BES de 31 de julho foi quase crime.
Viu-se o que aconteceu nas últimas horas em que o BES esteve na Bolsa sem que o
supervisor da Bolsa tivesse informado do que se passava. Como foi possível?
6. Outra
caso notável é a do caso Tranquilidade. Na verdade, no início de 2014, CMVM e o
Banco de Portugal chegam à conclusão que Ricardo Salgado é um "criminoso
em potência" e que os anda a enganar sistematicamente. O que fazem?
Cercam-no e, por exemplo, exigem que a Tranquilidade seja dada como garantia
dos depositantes envenenados por produtos GES (Grupo Espírito Santo). Pede-se
então uma auditoria a uma das mais reputadas auditoras mundiais, a
PricewaterhouseCoopers, para saber quanto vale a seguradora. Conclusão? A
Tranquilidade é avaliada em 839 milhões de euros. Ora, diz o presidente do
Instituto de Seguros de Portugal (a quem ninguém pediu opinião na altura...)
que qualquer pessoa do setor sabia que a Tranquilidade valia talvez um décimo
da Fidelidade (tinha pouco mais de um décimo dos ativos e de prémios de
seguros). A Fidelidade tinha acabado de ser vendida aos chineses da Fosun por,
grosso modo, mil milhões de euros. Ou seja, havia um dado fidedigno que tornava
claro o valor de mercado da Tranquilidade: nunca superior, na melhor das
hipóteses, a 200 milhões. Mas o Banco de Portugal aceitou 839 milhões sem pestanejar!
Questão essencial: porque fez isto a reputadíssima PwC?
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