Ana Sá Lopes – jornal i
A
tese de que Costa é sinónimo de Sócrates, a "bancarrota" e a
desorientação dos socialistas europeus são os argumentos a utilizar pelo PSD
As
sondagens são francamente desfavoráveis, o ambiente dentro da coligação nunca
foi um primor, os portugueses estão massacrados pela austeridade. Mas existe um
transmontano obstinado que acredita - contra quase todas as previsões,
incluindo dentro do PSD - de que é possível ter um resultado decente nas
próximas eleições legislativas e inclusive ganhá-las. O chefe dessa aldeia
"gaulesa" dos sociais-democratas confiantes na vitória chama-se Pedro
Passos Coelho e vai tentar retirar do caldeirão colheradas de uma poção mágica
cozinhada a partir de uma série de ingredientes com possível valor destrutivo
do adversário.
Ingrediente
número 1: colar António Costa a José Sócrates, o rosto da
"bancarrota". A "narrativa" do governo em ignorar a crise
internacional e a falta de estratégia europeia em lidar com a crise das dívidas
soberanas e colocar toda a culpa da "bancarrota" nas costas de
Sócrates foi uma estratégia bem sucedida junto da opinião pública. E, ao
contrário de Seguro, que ziguezagueava sobre o assunto - ignorando-o, na maior
parte das vezes - António Costa decidiu assumir por inteiro a chamada
"herança Sócrates", embora se tenha demarcado em casos como a
tentativa de utilizar a PT para interferir na linha editorial da TVI e na opção
por grandes obras públicas sem consenso alargado.
O
tempo de antena do PSD que foi para o ar na semana passada é um óbvio exemplo
deste ingrediente número 1. Diz o narrador extasiado: "Em 2011 depois de
seis anos de governação socialista, Portugal foi atirado por um governo do PS
para uma crise que ameaçava a nossa presença na zona euro, o nosso Estado
social, o nosso modo de vida". As imagens de Sócrates ao lado de António
Costa juntos, lado a lado na bancada do governo passam uma e outra vez. É um
facto que se as sondagens têm sido agradáveis para António Costa, os índices de
popularidade permanecem desastrosos relativamente a Sócrates. A tentativa de
fundir as duas personalidades e as duas estratégias políticas e económicas é
para o PSD uma mais-valia a ser explorada até à exaustão. O regresso de vários
altos dirigentes do governo Sócrates à primeira linha será politicamente
explorado com este objectivo.
Ontem,
a estratégia de combate a António Costa também foi abordada na reunião do grupo
parlamentar do PSD. A frente da Câmara de Lisboa é essencial e o PSD vai
escrutinar a gestão de Costa em
Lisboa. O momento parlamentar das "taxas e
taxinhas" de António Pires de Lima teve já o efeito de dirigir a atenção
pública para o montante das taxas cobradas pela Câmara de Lisboa.
Carlos
Carreiras, presidente da Câmara de Cascais e vice-presidente do PSD, afirma ao i que
"há consciência de que uma vitória é muito difícil" e lembra que na
maioria do tempo este governo esteve "a cumprir o programa do governo
anterior", o Memorando da troika. Acredita que a vitória é possível se o
eleitorado perceber "que o que se fez era absolutamente necessário ser
realizado para que o país pudesse ter futuro". Se não perceber "é
mais difícil". Carreiras admite que o eleitorado que votou no PSD nas
últimas eleições e agora está desiludido não se transfere automaticamente para
o PS. Até porque "António Costa não diz nada e o pouco que diz está em
linha com as políticas do tempo de António Guterres que conduziram ao pântano e
as políticas de Sócrates que deram no que deram". Segundo Carreiras,
"Costa namora a esquerda para a matar, como fez em Lisboa com Ricardo Sá
Fernandes e os Cidadãos por Lisboa, de Helena Roseta", mas "os
governos socialistas europeus da Itália e da França estão já mais à direita do
que Giscard d'Estaing [Presidente da República francesa de centro-direita, da
UMP, o equivalente francês do PSD]". Esta confusão ideológica pode ser um
bom argumento para o PSD.
O
PSD confia em que os indicadores económicos de 2015 sejam mais simpáticos à
população. A devolução dos cortes a pensionistas e a recuperação salarial de
funcionários públicos podem dar um empurrão no crescimento e contenção do
desemprego. E vêm aí os muito úteis fundos estruturais. O facto de não ter sido
preciso um segundo resgate - como a maioria dos opositores das políticas do
governo esperava - é também um trunfo a usar.
Todo
este argumentário conta com a certeza da existência de coligação com o CDS nas
próximas eleições. Mas a ordem é não falar disso até ao momento em que se
iniciarem as negociações entre PSD e CDS, que serão o mais tarde possível - no
próximo Verão.
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