Rui
Sá – Jornal de Notícias, opinião
1. No dia 2 de novembro, o Manel, meu amigo de infância emigrado há muitos anos
na Suíça, enviou-me a seguinte mensagem: "Como sabes, o Governo português
está a oferecer aos reformados suíços a possibilidade, se viverem em Portugal,
de não pagarem impostos. Isto é uma oferta extraordinária... qual é o país que
nos oferece a nós, portugueses, uma reforma sem impostos?".
E,
sofrendo na pele o chauvinismo que se tem vivido na Suíça e que levou à
realização de um referendo que visou impedir a entrada de mais emigrantes no
país (e que ganhou!...), pedia-me para eu lutar contra esta benesse. Nesta
data, estava longe de saber o lodaçal em que estavam envolvidos os designados
vistos "gold", invenção do brilhante Paulo Portas. Mas, analisando
friamente a situação, aquilo que o país criou foi uma zona franca para uns
ricaços estrangeiros se poderem instalar (mesmo que ficticiamente) em Portugal,
através da compra de umas casas com preço superior a 500 mil euros. Numa altura
em que os portugueses são sobrecarregados com impostos para "salvar o
país" e para se redimirem do pecado de "viverem acima das suas
posses", este mesmo Governo que incentiva os jovens a emigrar, cria um
paraíso fiscal que, objetivamente, se traduziu no escoamento de casas que
estavam encalhadas nas imobiliárias (faltando saber se o dinheiro injetado não
foi aplicado noutro paraíso fiscal qualquer...). E que, em termos de economia
real, se traduziu em zero - salvo quando estes ricaços passam por Portugal e
consomem uns produtos caros. Naturalmente que esta benesse, como acontece em
todos os paraísos fiscais, atraiu dinheiro sujo e os criminosos que o geram. O
que, associado à "boa formação" dos altos quadros do Estado gerados
pelos partidos do "arco da governação", só podia dar no que deu... E
vamos, agora, ver o que isto vai dar na justiça, constatando-se, como é
habitual nestes processos de milhões, o envolvimento dos "grandes
escritórios de advogados", que vão esmiuçar os "erros"
processuais para que os seus clientes fiquem impunes... Como dizia o meu amigo
Manel: "Não vou entrar em detalhes, porque isto enoja-me"!
2. Pires
de Lima decidiu dar um show na Assembleia da República, falando sobre as taxas
e taxinhas que, como se confirmou, fazem parte do orçamento da Câmara Municipal
de Lisboa. Não me junto ao coro de críticas que se fez ouvir sobre a forma da
intervenção do ministro, sabendo que a retórica parlamentar tem,
inevitavelmente, momentos destes. Mas também tenho a experiência de saber que,
na maior parte das vezes, a forma é o acessório que visa concitar as atenções,
afastando-as do que verdadeiramente é importante. E, no caso, o importante é
que este ministro é aquele que, fora do Governo, defendia a manutenção do IVA a
13% para a restauração e, desde que está no Governo, aprova a manutenção dessa
taxa nos 23%. E que, defendendo que não se podem aplicar taxas e taxinhas ao
setor turístico, pertence ao Governo que impõe taxonas (ditas verdes) sobre os
combustíveis ou aumentos brutais dos custos da eletricidade que,
inevitavelmente, vão traduzir-se no aumento dos preços a pagar não só pelos
turistas como por todos os portugueses. Por isso, o ministro até pode ter tido
graça, mas não cai em graça junto do povo português, desgraçado pelas políticas
sem graça do Governo... E dá para ver que A. Costa, nesta matéria e apesar do
estado de graça em que ainda vive, não trará mais graça ao país.
3.
Políticos e comentadores decidiram centrar as comemorações dos 25 anos da
derrocada do Muro de Berlim na análise de um artigo publicado no jornal
"Avante" (órgão oficial do PCP) sobre a efeméride que constata o
óbvio: a queda do Muro foi o início do fim do bloco socialista que,
contrariando os teóricos, não representou o fim da história nem tornou o Mundo
melhor - antes pelo contrário. Bem sei que a história, pelo menos numa primeira
fase, é escrita pelos vencedores, normalmente mais interessados num ajuste de
contas com os vencidos do que na objetividade da análise histórica. E o Muro de
Berlim não está imune a esse facto. Mas parece-me evidente que os ataques ao PCP
que esse artigo suscitou têm um objetivo: numa fase de crescimento do prestígio
do PCP (comprovado nos diversos processos eleitorais e, pasme-se, até nas
sondagens), excluir este partido de qualquer cenário de governação
pós-eleitoral, "justificando" a coligação do PS com o(s) partido(s)
da direita. Francisco Assis, num artigo que segue nesta "onda",
reconhece lucidamente que o PCP tem o mérito de não enganar. Neste caso, ele
também tem esse mérito quando, face ao artigo do "Avante", critica
aqueles (designadamente no PS) que "andam muito entusiasmados com a
perspetiva de trazer o PCP para o chamado "arco da governação"".
Pelo que defende, noutros fora, a aliança do PS com o PSD de Rio......
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