Em
2009 o Ministério Público de Portugal mandou arquivar a queixa-crime movida por
José Sócrates, secretário-geral do PS e primeiro-ministro, contra o jornalista
e colunista do Diário de Notícias, João Miguel Tavares.
Orlando
Castro – Folha 8 Diário, opinião
A queixa
foi arquivada pelo Ministério Público, que considerou que “as expressões
utilizadas pelo arguido, dirigidas ao primeiro-ministro, ainda que acintosas e
indelicadas, devem ser apreciadas no contexto e conjuntura em que foram
publicadas, e inserem-se no exercício do direito de crítica, insusceptíveis de
causar ofensa penalmente relevante”.
O
cronista do Diário de Notícias, recorde-se, foi alvo de uma queixa do
primeiro-ministro por um artigo em que fazia referências à “licenciatura
manhosa”, aos projectos “duvidosos” da Guarda e ao “apartamento de luxo”
comprado “a metade do preço”. No mesmo artigo, João Miguel Tavares fazia uma
comparação entre Sócrates e Cicciolina.
Desde
que no início desse ano o caso Freeport voltou em força à praça pública que
José Sócrates já lançou uma série de queixas crime. Além de João Miguel
Tavares, foram processados vários jornalistas da TVI, incluindo o então
director geral José Eduardo Moniz e a apresentadora do Jornal Nacional de
sexta-feira Manuela Moura Guedes. O director e dois outros jornalistas do
Público foram também alvo de queixas-crime.
De
facto, José Sócrates, tornara regra de ouro no reino lusitano que a liberdade
dos jornalistas tinha de acabar onde começava a sua, mas entendia que a sua não
tinha limites.
Por
alguma razão, há já bastante, António Barreto disse que José Sócrates “não
tolera ser contrariado, nem admite que se pense de modo diferente daquele que
organizou com as suas poderosas agências de intoxicação a que chama de
comunicação”.
António
Barreto acrescentou ainda, de forma lapidar, que “o primeiro-ministro José
Sócrates é a mais séria ameaça contra a liberdade, contra autonomia das
iniciativas privadas e contra a independência pessoal que Portugal conheceu nas
últimas três décadas”.
Habituado
a que os trabalhadores das redacções dos órgãos de comunicação social
(Jornalistas são outra coisa substancialmente diferente) lhe fossem comer à
mão, José Sócrates não conseguia conviver quer com a liberdade de expressão
quer com o contraditório.
É
por isso que sempre se deu bem com a sua própria sombra, bem como com outras
sombras que com ele estão sempre de acordo. É um direito que lhe assiste. O
problema está que queria transformar o país num amontoado de acéfalos e
invertebrados portadores do cartão de militante do PS.
Numa
entrevista à RTP1, transmitida no dia 21 de Abril de 2009, José Sócrates
referiu-se ao telejornal das 20 horas de sexta-feira da TVI, apresentado por
Manuela Moura Guedes, como sendo “travestido” e feito “de ódio e perseguição”.
“Aquilo
não é um telejornal, é uma caça ao homem”, afirmou José Sócrates.
O
azedume do primeiro-ministro reflectia igualmente a frustração que devia sentir
por não ter conseguido, embora tenha tentado com todas as suas força,
transformar muitos jornalistas nos tais acéfalos e invertebrados ao serviço
(bem pago) da sua causa.
Recorde-se
que o Governo de José Sócrates conseguiu numa só legislatura e sem grande
esforço (em muitos casos apenas por um prato de lentilhas), fazer de grande
parte da “imprensa o tapete do poder”.
O
Governo de José Sócrates conseguiu numa só legislatura e sem grande esforço (em
muitos casos apenas por um prato de lentilhas), transformar jornalistas em
“criados de luxo do poder vigente”.
O
Governo de José Sócrates conseguiu numa só legislatura e sem grande esforço (em
muitos casos apenas por um prato de lentilhas), convencer os mais cépticos de
que mais valia ser um propagandista da banha da cobra do PS, mas de barriga
cheia, do que um ilustre Jornalista com ela vazia.
O
Governo de José Sócrates conseguiu numa só legislatura e sem grande esforço (em
muitos casos apenas por um prato de lentilhas), convencer os jornalistas que
devia pensar apenas com a cabeça… do chefe (socialista, obviamente).
O
Governo de José Sócrates conseguiu numa só legislatura e sem grande esforço (em
muitos casos apenas por um prato de lentilhas), mostrar aos Jornalistas que ter
um cartão do PS é mais do que meio caminho andado para ser chefe, director ou
até administrador.
Provavelmente
hoje, no remanso típico de uma detenção, e embora seja inocente até prova em
contrário, deve reflectir sobre o que falhou na sua luta para “invertebrar” os
jornalistas.
Isto,
mesmo considerando que o Estatuto do Jornalista (português) aprovado pelo PS de
José Sócrates, foi, é e será por muitos anos a página mais negra na história do
Jornalismo português do pós-25 de Abril.
Sem comentários:
Enviar um comentário