António
Veríssimo, Lisboa
Em
todos os assuntos o contraditório é importantíssimo se acaso contemplar a
verdade de factos. No entanto a sua importância esvanece-se e toma foros
prejudicais se tiver por objetivo a contrainformação que vise a manipulação dos
factos reais para efeitos de gerar confusão, dúvidas e/ou ocultação dos mesmos
à opinião pública.
No
Página Global fazemos questão de publicar compilações que contemplam o
contraditório, apesar de corrermos o risco de estar a veicular alguma
contrainformação. Não sendo esse o nosso propósito, beneficiar a
contrainformação, não podemos deixar de apresentar várias perspetivas de um
conflito ou de outra qualquer ocorrência que mereça a atenção da notícia ou da
opinião expressa e identificada. Desse modo consideramos que cada um dos que lê
pode (deve) pensar pela sua própria cabeça e tirar as conclusões que em
consciência tome por informação correta ou o mais aproximada possível da
realidade dos factos, para que possa julgar com imparcialidade e formar a sua
própria opinião.
No
caso da expulsão dos juízes portugueses e cabo verdiano de Timor-Leste.
Incidente protagonizado por Xanana Gusmão e o Parlamento timorense, muita tinta
tem corrido. O ministro da Justiça timorense, Dionísio Babo, vem expressamente
a Portugal por causa deste incidente. Saiu de Timor-Leste ontem, sábado, e não
tarda a aterrar em Portugal.
Não
abordando agora aqui os pormenores de tudo que foi dito que aconteceu
(devidamente documentado em
Página Global – Timor-Leste - e encarando com objetividade um
pormenor importante da questão, perguntamos se na realidade a procuradora
Glória Alves está a ser exata quando lhe perguntam, em entrevista ao
Esquerda.net (publicado no PG):
“Um
dos argumentos de Xanana Gusmão para afastar os funcionários internacionais é a
incompetência ou parcialidade nos processos relativos ao petróleo, sempre a
favor das petrolíferas estrangeiras. Isso aconteceu mesmo?”
Glória
Alves responde:
“Não.
É óbvio que a razão da nossa saída, tanto na primeira resolução, que abarcou
cinquenta e tal pessoas, como na última, que foi a expulsão daqueles que eles efetivamente
queriam correr, não teve a nada a ver com o petróleo. Nenhum dos juízes
portugueses expulsos tiveram os casos de petróleos. Eu nunca tive processos de
petróleo. É evidente que não foi por essa razão que foram expulsos. A razão é
clara: foi por causa dos processos crime contra governantes e altos quadros da
administração pública.”
Tudo
indica que a resposta de Glória Alves não está correta. A própria fotografia
que divulgamos para ilustrar este texto mostra (clique na foto para ampliar) o juiz Paulo Teixeira (um dos
expulsos) em julgamento que dá veracidade às declarações de Xanana Gusmão e
desmente Glória Alves. Ela própria teve participação no julgamento “dos
petróleos”. Assim é reportado na página oficial do Ministério da Justiça (no
último parágrafo) que fonte no PG refere e comenta:
“A
procuradora Glória Alves continua a insistir que não tiveram nada com os
processos das petrolíferas. No entanto uma pesquisa rápida na internet
revela notícia que demonstra o contrário. Como esta na página oficial do
Ministério da Justiça: TDD Halaó Primeiru Julgamentu ba Kazu Kompania ConocoPhilips ho Estadu TL.
Por acaso até está escritaem
tétum. Mas se olharem para o último parágrafo podem ler quem
eram os juízes e quem estava como "apoio".
Surpresa, surpresa. O nome de Glória Alves consta na lista e não precisa de tradução para em português se perceber quem é a pessoa.
O quê? Pensei que estava a ter alucinações. Mas não. Está mesmo ali escrito, como intervenientes do primeiro processo do imposto petrolífero, Glória Alves.
E esta heim!
Outra curiosidade, vejam só a foto do coletivo. Que juiz tem a maior poltrona, que juiz está a dar as instruções e que juízes parecem estar um tanto incertos. Essa foto retrata a leitura da decisão que se sabe foi escrita pelo juiz português Paulo Teixeira, mas obviamente lido por um juiz timorense para dar ares de que são os timorenses a tomar as decisões.
Por acaso até está escrita
Surpresa, surpresa. O nome de Glória Alves consta na lista e não precisa de tradução para em português se perceber quem é a pessoa.
O quê? Pensei que estava a ter alucinações. Mas não. Está mesmo ali escrito, como intervenientes do primeiro processo do imposto petrolífero, Glória Alves.
E esta heim!
Outra curiosidade, vejam só a foto do coletivo. Que juiz tem a maior poltrona, que juiz está a dar as instruções e que juízes parecem estar um tanto incertos. Essa foto retrata a leitura da decisão que se sabe foi escrita pelo juiz português Paulo Teixeira, mas obviamente lido por um juiz timorense para dar ares de que são os timorenses a tomar as decisões.
Em 1999 era o mesmo, as milícias eram timorenses mas os patrões eram os indonésios. A história repete-se.”
Não
é fácil depararmos com esta evidência e não encontrarmos explicação plausível
para as declarações antagónicas de Xanana Gusmão e de Glória Alves quando numa
página oficial de um ministério do governo timorense encontramos documento
fotográfico e notícia que vai de encontro à veracidade das declarações do
primeiro-ministro timorense e retira a credibilidade ao que Glória Alves tem
afirmado - fazendo-nos entender que os juízes expulsos nada tiveram que ver com
o julgamento “dos petróleos” mas sim com processos que envolviam ministros e
funcionários superiores do governo de Xanana Gusmão, incluindo Xanana Gusmão.
Foi o que passou Glória Alves para o entender público. Quem está a
gerar confusão? Quem explicita os factos com verdade?
Com
base na página oficial do Ministério de Justiça de Timor-Leste, Glória Alves
está a passar para a opinião pública inexatidões. Isso significaria que Glória Alves
tem estado a reportar ficção. O que iria ao encontro de palavras de Mari Alkatiri, dirigente da Fretilin (oposição), em declarações recentes, quando disse que "enquanto for vivo não permitirá que passem rasteiras a Xanana Gusmão". Quem está a passar rasteiras a Xanana Gusmão? É que meias-verdades ou meias-palavras não bastam para se entender a trama que está em discussão e pôs dois países irmãos melindrados, tristes, indignados. Quem faz dissipar a "névoa"?
Os
que acompanham Timor-Leste há décadas e trazem timorenses e a sua terra no coração e quase
em constante pensamento sabem muito bem sobre as qualidades e defeitos de
Xanana Gusmão. Acredita-se que ele até aprendeu a arte do desenrasca, do
expontâneo improviso, com os portugueses colonos. Sabe-se que Xanana Gusmão
pode ser um homem perigoso, que não é flor que se cheire, que está viciado nos
poderes que tem vindo a adquiirir e a manter obstinadamente. Xanana é o
protótipo dos que consideram que se não estão com ele é porque estão contra
ele. Por isso também sabe que tem muitos adversários e até perigosos inimigos…
Que ele controla e lhes faz saber que “ou estão quietinhos ou levam no
focinho”. Uma forma airosa de dizer que se necessário pagam com a vida.
Saiam-lhe da frente. Não lhe façam sombra porque senão…
O
PM timorense é tudo isso e muito mais. Também tem muitas boas qualidades. Mal
será não o reconhecer naquele irascível sujeito embrulhado numa lenda quase
perfeita para consumo interno e externo da maioria das pessoas. Mas ele sabe
quem vê quando se faz refletir no espelho. Devemos acreditar que ele gosta imenso de
ser como é. Narcisista quanto baste.
Onde
está a verdade dos factos descritos por uma (procuradora) e pelo outro (primeiro-ministro)? Quem desfaz a
confusão? A opinião pública merece isso. Não queremos acreditar que Glória
Alves minta premeditadamente. Até porque já vigora justamente a condenação de Xanana Gusmão no trato
e decisões que protagonizou neste caso da expulsão dos juízes portugueses e,
mais grave ainda, no modo como o fez e na violação da separação de poderes consignados na
Constituição da RDTL. Somado ao lamentável passado mais recente de Xanana a partir do
golpe de Estado em 2006... Xanana não é flor que se cheire, já sabemos... Aqui no PG isso mesmo tem sido expresso. Quanto à corrupção…
Ora, ora, ora… Um ninho de corrupção. Pois então. Graças à impunidade evidente...
Estaremos
tão baralhados que questionamos o que já é evidente? Estupidez? Mas, neste caso, que
realidade é que é evidente, para além da corrupção que todos sabem existir naquele país de povo tão vilipendiado?
DEPOIS DE ESCRITO - ESCLARECIMENTO
Nas informações em que nos baseámos mais acima referimos que o juiz Teixeira era um dos juízes expulsos, assim interpretámos. Neste momento fazemos a devida correção com base em esclarecimento no que se refere à informação errada que acima consta, que não corresponde à verdade porque o juiz Paulo Teixeira não é um dos juízes expulsos e atualmente se encontra em serviço no Kosovo, como é mencionado por fonte bem informada no esclarecimento que parcialmente reproduzimos:
”Correcão.
O juiz Paulo Teixeira não constava entre os juízes expulsos. Ele saiu antes de
Timor no fim de 2013 pela porta de trás e está agora em Kosovo. Foi ele quem
decidiu, entre muitos dos 16 processos perdidos pelo Estado, o processo MINZA
em que o estado foi condenado a devolver dinheiro que nunca tinha sido pago a
Timor, obviamente para grande admiração de ambas as partes do litigio. Foi o acórdão
dele que mereceu a honra de ser copiado nos restantes casos perdidos por Timor.
Praticamente fotocopias chapadas com excepção de algumas mudanças como número
do processo, nome do juiz, empresa, etc. Isto para processos de natureza fiscal
completamente diferentes e por coletivos diferentes de juízes.”
3 comentários:
Recomendo que esperemos com serenidade os resultados dos encontros entre o ministro de justica Dionisio Babo e as autoridades portuguesas e depois se exija que elas sejam totalmente honestas e informem o publico sobre tudo o que foi apresentado. Existem dados muito mais graves relativamente a actuacao de certos magistrados aqui em Timor tanto portugueses como timorenses que obviamente nunca poderiam ser logo a partida abertos ao publico sem que primeiro as autoridades portuguesas fossem informadas. Depois sera da discrecao do governo portugues decidir revela-las ou nao ao publico.
Correcao. O juiz Paulo Teixeira nao constava entre os juizes expulsos. Ele saiu antes de Timor no fim de 2013 pela porta de tras e esta agora em Kosovo. Foi ele quem decidiu, entre muitos dos 16 processos perdidos pelo Estado, o processo MINZA em que o estado foi condenado a devolver dinheiro que nunca tinha sido pago a Timor, obviamente para grande admiracao de ambas as partes do litigio. Foi o acordao dele que mereceu a honra de ser copiado nos restantes casos perdidos por Timor. Praticamente fotocopias chapadas com excepcao de algumas mudancas como numero do processo, nome do juiz, empreza, etc. Isto para processos de natureza fiscal completamente diferentes e por coletivos diferentes de juizes. E verdade, tecnicamente, que Timor ainda nao tinha perdido dinheiro porque todos os casos perdidos foram interpostos em recurso. Mas tambem e' verdade que alguns portugueses presentes num almoco poderiam confirmar que Gloria Alves tinha dito com antecedencia que os casos estavam todos desde ja perdidos e Timor estava a perder tempo ao defende-los. Por agora isto nao pode ser visto como nada mais que uma alegacao, mas este facto foi registado e relatado a quem de competencia e vira a tona mais cedo ou mais tarde.
A procuradora Gloria Alves tem sido muito militante em criar uma imagem de auto-defesa como que em anticipacao as informacoes que hao de sair. Se ela for bem sucedida o que ira acontecer e' que as pessoas nao vao acreditar nas provas que aparecerem depois. Ate porque as expulsoes foram sem duvida uma medida radical e chocante e com o actual estado de emocoes de humilhacao e repudiacao pelos portugueses sera mais facil concluirem que quem fala a verdade e' a procuradora Gloria Alves mesmo nao sendo a verdade. Enfim. Coisas da vida.
Nem Timor nem Portugal mereciam isto.
Gratos pelas informações que nos dispensam neste caso tão "enleado" e que toca num setor tão melindroso e importante de qualquer sociedade, a Justiça. É que um Tribunal e aquilo que lhe está inerente não é própriamente a Praça da Ribeira, em Lisboa, o Bolhão no Porto ou o Mercado de Metiau em Dili. Tarda em que as pessoas entendam isso mesmo. Afinal, timorenses e portugueses só querem saber a verdade. Até nós aqui no PG, sem querer, entendemos mal as coisas, como no caso do juiz Teixeira que não é um dos expulsos. Reporemos a correção devida. Caso se disponham usem o email do PG (com toda a segurança e respeito pela confidencialidade) para expor os devidos esclarecimentos em toda esta panóplia de opacidade que foi criada. Gratos pelas informações prestadas. Temos por objetivo referir a verdade dos factos e contribuir assim para o melhor esclarecimento possível.
Cumprimentos
Apenas para em abono da verdade dizer que não é o Juiz Paulo Teixeira o juiz que se encontra na imagem publicada.
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