Macau,
China, 04 dez (Lusa) - O ensino do português em Macau recebeu hoje nota
negativa do académico brasileiro Roberval Teixeira e Silva, docente da
Universidade de Macau, que criticou a metodologia vigente por ser
"extremamente tradicional e silenciadora".
"O
sistema de ensino, em termos de conteúdo é muito pobre e é muito tradicional, o
que impede que os alunos desenvolvam uma série de habilidades e competências
como a de analisar e criticar", disse, à margem do IV congresso da
Associação Internacional de Linguística do Português, que este ano se reúne em
Macau.
O
professor, que antes de vir para o território trabalhou no Brasil sobre as
questões do ensino do português como língua estrangeira, destacou um
"problema de metodologia e de postura em relação a novas
possibilidades".
Entre
2006 e 2011, Roberval Teixeira e Silva observou e registou aulas de português
em praticamente todas as escolas da cidade e entrevistou professores, alunos e
funcionários, identificando esta "resistência muito forte à mudança".
"As
pessoas estão muito presas a modelos tradicionais de ensino que se focam na
gramática, no vocabulário e na tradução. Não saindo dessa tríade, claramente
criticada e ineficaz, o trabalho não vai funcionar. Não adianta se o aluno esta
exposto à língua portuguesa por uma hora ou por cinco horas por semana. A
postura é extremamente tradicional e silenciadora", criticou.
Esta
abordagem das escolas encontra eco numa predisposição dos alunos chineses para
o silêncio, um fator que frequentemente causa estranheza entre os professores
estrangeiros habituados a audiências participativas.
O
"enorme silêncio" das turmas que encontrou na universidade acabou por
motivar o docente a iniciar uma investigação sobre o tema em 2007 - além de
tentar perceber junto dos seus próprios alunos o que os inibia, o académico
passou um ano a acompanhar as aulas de português de crianças do 1º ano, com uma
professora cuja língua materna era o cantonês.
Roberval
Teixeira e Silva concluiu que o 'silêncio chinês' é algo cultivado desde a infância,
"projetado pelos professores, pelos pais, pelos colegas", já que
"toda a gente assume que para se ser bom aluno é preciso ser assim".
"Fui
percebendo que se o aluno não for solicitado diretamente para falar [e se o
fizer] é interpretado como sendo uma pessoa que quer aparecer, que não respeita
os colegas e até o professor", explicou.
Esta
é uma diferença substancial em relação ao ensino ocidental, onde se espera e
valoriza uma postura oposta. "Na minha cultura de sala de aula, o silêncio
mostra desconexão e desinteresse porque estamos acostumamos a construir alunos
que precisam de superar o professor, colocar as suas perspetivas",
lembrou.
No
entanto, "o aluno chinês tem a ideia de que precisa de imitar o mestre, é
uma forma de respeito e de atingir um patamar adequado e ideal para os seus
objetivos", esclareceu.
Segundo
o professor, a situação pode ser contornada através de estratégias na sala de
aula, de modo a atribuir "papéis específicos" a cada aluno num
contexto de debate.
O
académico considerou, no entanto, que não é preciso uma preparação especial
para ensinar alunos chineses. "Se um professor estiver preparado para a
diferença, não precisa de se preparar para o silêncio", concluiu.
ISG
// VM
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