Macau,
China, 20 dez (Lusa) - Uma centena de pessoas marchou hoje pelas ruas de Macau
para pedir sufrágio universal na eleição do chefe do Executivo, no dia em que
se assinalam 15 anos da transferência de administração de Macau de Portugal
para a China.
Na
marcha viam-se muitos rostos jovens mas não só - homens e mulheres de cabelo
grisalho empunhavam cartazes onde se lia "Queremos sufrágio
universal" e acompanhavam as palavras de ordem "O colégio eleitoral
não nos representa" e "Queremos sufrágio universal em 2019".
Foi
a primeira vez que Hester Castilho, uma professora de 29 anos, participou no
protesto de 20 de dezembro, habitual nos últimos anos. "Estou aqui porque
acredito que, como cidadãos, devemos expressar as nossas opiniões. Há muitos
problemas sociais em Macau, em termos de habitação e transportes",
apontou.
A
professora acredita que os problemas da cidade só serão ultrapassados se a
população puder eleger diretamente o chefe do Governo, atualmente escolhido por
um colégio de 400 membros. "Acho que um Governo que não nos representa não
nos pode ajudar a resolver os problemas. O sufrágio universal não vai resolver
todos os problemas mas é um passo necessário para seguir em frente", explicou.
A
manifestação foi convocada pela Novo Macau, a maior associação pró-democracia
do território, e pela Juventude Dinâmica, atraindo vários estudantes
universitários e também professores, no final de um ano que ficou marcado por
preocupações com a liberdade académica do território, depois de dois
professores de Ciência Política perderem os empregos na Universidade de Macau e
na Universidade de São José.
Wilson
Hung, docente da Universidade Cidade de Macau, justificou a sua presença no
protesto com a "preocupação com a política" do território. "Acho
que é tempo de vermos grandes mudanças. Enfrentamos muitos problemas, como nos
transportes e habitação. Esta é uma boa oportunidade para expressarmos a nossa
opinião de modo a que o Governo nos oiça", disse.
Comentando
as palavras que o Presidente chinês, Xi Jinping, endereçou a Macau, Wilson Hung
elogiou os apelos à diversificação económica mas lamentou não ter ouvido
referências a uma possível reforma política.
O
académico também não gostou de ouvir o chefe de Estado incentivar a educação
patriótica.
Com
as palavras "Precisamos de escolha" pintadas na cara, a jovem de 17
anos Cheong Weng Ien juntou-se à marcha para defender "o futuro de Macau.
"Quero dizer ao Governo que temos de poder escolher o chefe do Executivo.
Estou preocupada porque há muitos problemas, como a habitação, e o Governo não
resolve", comentou.
A
influência do movimento democrático de Hong Kong esteve bem presente, com
alguns manifestantes a transportarem guarda-chuvas amarelos e outros a exibirem
o laço amarelo que ficou associado ao Occupy Central.
Che
Hoisan quis lançar uma questão a Xi Jinping, que à hora do protesto estaria a
abandonar o território: "Se houvesse um verdadeiro processo de seleção do
Presidente, acha que seria escolhido pelos cidadãos da China?". Para a
jovem de 18 anos a resposta é "não". "Ele apenas impulsiona a
economia mas não faz nada em relação ao desemprego nas zonas rurais, esses
cidadãos ainda estão a sofrer", apontou.
No
final do percurso, quando a manifestação passava simbolicamente em frente ao
Palácio do Governo, surgiu o ativista Lei Kin Iun seguido de mais de uma
centena de idosos empunhando cartazes com slogans contra a corrupção, a pedir
mais habitações públicas e também sufrágio universal.
A
marcha liderada pela Associação Novo Macau terminou na Praça da Amizade, onde
foi erguido um palco para acolher discursos e canções de intervenção.
ISG//GC
– Foto: Carmo Correia / Lusa
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