Como
aqui se escreveu, cerca de 40% das Pequenas e Médias Empresas (PME) mundiais
não olham para a África como um mercado atractivo, com oportunidade de
crescimento e de negócio.
Orlando
Castro - Folha 8 Diário, opinião
Razões?
O estudo feito pelo pelo The Economist Intelligence Unit (EIU) aponta o baixo
consumo médio em África, os desafios culturais e de infra-estrutura, bem como a
corrupção e o risco político.
Embora
não fale, o principal temor tem a ver com o facto de esta zona do mundo ser
habitada por… negros.
Não
é assim? Na verdade fico virado do avesso quando, e em Portugal isso é mais do
que comum, africano é sinónimo de negro e angolano é sinónimo de empregado da
construção civil ou de mulher da limpeza.
Dir-me-ão
que não é uma questão de racismo mas, talvez, de ignorância. Na melhor das
hipóteses admito que seja uma simbiose das duas.
De
qualquer modo chateia ver, por exemplo, uma Comunicação Social supostamente
nada racista e intelectualmente válida a confundir a estrada da Beira com a
beira da estrada.
Estou
farto de, entre dois eventuais autores – um negro e outro branco – de um
qualquer crime, o suspeito principal ser sempre o negro. Estou farto dos discursos
e das práticas racistas que, depois de tantos anos de democracia, associam a
população negra a toda a criminalidade.
Para
além de os dados estatísticos da população prisional portuguesa não permitirem
tão leviana conclusão, os problemas devem ser analisados não em função da cor
mas sobretudo da realidade social, económica, política e cultural em que se
inserem.
Por
alguma razão Portugal está na cauda Europa e, com a sua manifesta mas não
assumida ignorância, contribui para que Angola (por exemplo) esteja (ainda
esteja) no estado em que se encontra. Para o bem (de uns poucos comparsas) e
para o mal (da grande maioria).
Ao
passar a imagem de que africanos só são negros, de que os culpados são quase
sempre negros, Portugal corre o sério risco de arcar com o rótulo de – para
além de último descolonizador – ser um país racista.
Mas,
em Angola passa-se algo de semelhante. Em Portugal sou angolano, em Angola sou
português. Ou seja, esteja onde estiver nunca sou o que, de facto, de coração e
de alma, sou: Angolano.
Quando
digo, e digo sempre que posso, que sou angolano (branco por circunstâncias que
nada têm de opção pessoal…), não o faço por inferioridade de qualquer tipo nem
por superioridade de qualquer espécie. Digo-o porque o sou e o sinto, sem que
isso constitua uma maior ou menor valia. Será difícil entender isso?
E,
já agora, continuo sem perceber (será também racismo? Será ignorância?) a razão
que leva a Comunicação Social portuguesa a dar mais importância ao que se passa
numa qualquer comunidade que nunca ouviu falar de Portugal e da qual os
portugueses nada sabem, do que aos países africanos, ditos irmãos, que estão
mesmo aqui ao dobrar da esquina.
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