Mário
Motta, Lisboa
Há
cerca de quinze horas que um novo ano começou, 2015. A tradição manda que
desejemos à família, amigos e camaradas um bom ano. Aliás, é mesmo nossa
vontade (se de cada um de nós dependesse) que 2015 fosse um ótimo ano para
todos, para os povos de todo o mundo. Não só para aqueles que nos estão próximos
e o povo da nacionalidade a que pertencemos. Contudo as perspetivas globais não
indicam que 2015 venha a ser um ano melhor que 2014, 2013 ou anteriores. Desde
que a selvajaria capitalista se apoderou dos Estados e inventou uma crise que
retornou a concentrar descaradamente a distribuição da riqueza numa vintena de
famílias e de corporações que o mundo ficou mais injusto e seus povos muito
mais escravizados. O pretexto é a crise. Os mercados, como lhe chamam, é quem põe
e dispõe. De toda esta arquitetura o que se sabe é que os ricos estão mais
ricos e os pobres muito mais pobres.
O
rumo para os povos do mundo é a miséria, a sujeição ao capitalismo selvagem com
todas as suas vertentes desumanas, incluindo as guerras que fabrica, dizimando
povos e culturas por valores materiais e geoestratégicos que alimentam o
capitalismo desbragado. O petróleo, a água, a mão-de-obra barata, a exploração,
o esclavagismo andaram e andam à solta para beneficio de uns poucos que são os
senhores do mundo, os ditadores que sob o falso pretexto de levarem a liberdade
e democracia a países que lhes interessam sobremaneira económica e estrategicamente
ocupam-nos, desestabilizam-nos e exploram-nos como já haviam feito os
conquistadores de há séculos atrás. Afinal liberdade e democracia para esses da
atualidade são palavras vãs. Nem eles já sabem (se é que alguma vez souberam) o
que é a democracia ou a liberdade porque desses dois estatutos inferem a justiça
e essa é a que mais é pisoteada a nível global.
Existe
uma nação principal que está a subverter os valores democráticos, de liberdade
e justiça e a aplicar a pilhagem do mundo e dos povos em seu benefício, em
benefício do capitalismo selvagem que professa e pratica: os Estados Unidos da
América. Outros existem que vão ao arrepio destas políticas, a União Europeia,
por exemplo. Este não é o caminho que interesse à humanidade. Tanto não é que
na UE os povos padecem de fome em números que desde há cinco anos aumentaram
inadmissivelmente. Dizem que se deve à crise. Sim, à crise de valores, à
subversão da democracia, da justiça, em benefício das grandes corporações
capitalistas. Perante tal quadro vimos a ONU obedecer quase cegamente aos
ditames impostos pelos EUA e países seus assimilados e aliados nas políticas e
ações de descalabro.
Em
2015 tudo vai ser igual. Até pior se aqueles senhores do mundo considerarem
necessário para atingirem os seus objetivos de submissão e exploração dos países
e povos. Como podemos desejar um bom ano aos que estão ao nosso lado e vimos no
quotidiano sabendo que não passa de um voto irrealizável? Como podemos fazer
que acreditamos em dias melhores se permitirmos que tudo continue na mesma? Se
não lutamos numa perspetiva patriótica e internacionalista contra o que existe
de errado nas políticas e ações vigentes?
Vimos
na União Europeia os nacionalismos dos povos de cada país que a constituem. Cada
um olha para o seu o próprio umbigo. Vimos compatriotas serem empurrados para a
miséria sem reagir nem impondo que assim não aconteça, mudando pelo voto tudo
aquilo que está errado. Em vez de votar sempre nos mesmos, aqueles que têm
vindo a servir o capitalismo selvagem desbragado. Em Portugal são os do Arco da
Governação. Noutros países, da Europa e do mundo, acontece o mesmo. Os
eleitores são manipulados e fazem exatamente aquilo para que foram manipulados,
sem olhar à volta e para a má vida deles próprios. Sempre na perspetiva do
cumprimento das promessas dos políticos dos partidos que estão ao serviço do
capitalismo selvagem. Não é por acaso que as doações dos capitalistas aos
partidos que à vez ocupam os poderes são generosas. Afinal estão a pagar para
que os sirvam. E os eleitores não vêem isso? Não percebem? Não pensam? Não
agem? Não lutam pela mudança do que está errado? Não. Até agora não. Em 2015 o
que vai mudar? As pessoas vão mudar as suas atitudes ou vão continuar a
enfermar de ingenuidade e autismo? Todos sabemos a resposta. A maioria vai
apostar em mais do mesmo. E então como querem um ano melhor? Bom ano? Para quem?
Para os mesmos de sempre, os que nos exploram e concentram a riqueza entre eles
com a obediente colaboração dos governos que os servem e de quem babujam
migalhas que lhes proporcionam boas vidas, alguma riqueza… até que se portem
bem e se mantenham servis aos intentos e ações do capitalismo.
Um
bom ano de 2015 seria mudar radicalmente de políticas. Participar ativamente
numa mudança que recuperasse a democracia, a liberdade e a justiça. Urge uma
revolução que só é possível pôr em prática se nos revolucionarmos a nós próprios
e soubermos sair dos nossos egoísmos e confortos (os que algum têm) para nos
entregarmos à luta por uma melhor sociedade. É o caso de Portugal e dos
portugueses, é o caso dos países da lusofonia, é o caso dos povos da maior
parte do mundo.
Bom
ano? Para quem? Só será um bom ano para os povos quando eles fizerem por isso
em uníssono, em sintonia com uma luta patriótica e internacionalista que mude mentalidades,
comportamentos e ações contrarias aos interesses globais da humanidade. 2015,
mais do mesmo ou ainda pior? Pensemos nisso. Depende de todos nós mudar o que
está errado. Consentir a desumanidade vigente é um erro crasso e
autodestrutivo. Sem ativismo e solidariedade permanentes a humanidade não sobreviverá à guerra que o capitalismo selvagem e global declarou aos países e povos do mundo.
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