Ameaças
anónimas são habituais. Fazem, aliás, parte da galeria de troféus de qualquer
jornalista que teime, como é o caso aqui no Folha 8, em dar voz a quem a não
tem. Desta vez foram mais uma série delas, tomando como exemplo o que aconteceu
ao jornalista brasileiro Marcos de Barros Leopoldo Guerra.
Recordemos
o caso. O jornalista Marcos de Barros Leopoldo Guerra, que usava um blogue na
Internet para denunciar casos de corrupção em Ubatuba, pequena cidade do estado
de São Paulo, no Brasil, foi assassinado.
De
acordo com estatísticas divulgadas recentemente em Genebra, pela organização
Press Emblem Campain – que apela aos governos para proteger os jornalistas e
punir quem os ataca -, o Brasil teve quatro profissionais assassinados este
ano, e é o décimo país do mundo mais perigoso para quem trabalha nos media.
Por
mail e por sms, os servos de alguém que tem uma noção de democracia e de Estado
de Direito similar à da Coreia do Norte, aproveitou a época natalícia para nos
avisar que “vai-vos acontecer o mesmo”.
O
regime já elaborou o seu plano e já estão contratados os assassinos, para
eliminar sem deixar rastos, pelo menos dois jornalistas do F8.
“Como
eles não querem vender o órgão, vamos acabar com a cabeça, para imobilizar o
corpo todo, pois continuam a fazer estragos na imagem do camarada Presidente e
do governo”, lê-se num informe dos Serviços de Inteligência.
Os
visados na chacina planeada ao pormenor para 2015, planificada pelo regime de
Eduardo dos Santos e sem que esta possa escudar-se num eventual desconhecimento,
são habituais, nomeadamente, o nosso director, William Tonet “pela rudeza dos
escritos, no seu jornal, onde não falta a regularidade de publicação de
segredos do Estado, calúnia e difamação, contra o camarada Presidente José
Eduardo dos Santos, sua família e dirigentes do partido, o MPLA e membros do
governo”, justificam, no documento considerado SECRETO, os algozes da
Segurança, para legitimar o plano macabro, depois da UGP (Unidade da Guarda
Presidencial), exército reconhecidamente privado e ilegal à luz de um Estado de
Direito, de José Eduardo dos Santos, ter falhado a sua morte, com o
“abalroamento” da sua viatura no dia 29 de Setembro de 2013, na zona do Morro
Bento, em Luanda.
O
tom ameaçador subiu, na véspera do Natal, após publicação de uma entrevista
concedida no Semanário Crime, onde William Tonet aborda com frontalidade
questões do 27 de Maio de 1977, revelando pela primeira vez, que Angola
ganharia mais caso se tivesse efectivado um golpe de Estado, liderado por Nito
Alves.
Considerou,
também, danosa a gestão e consolado do actual Titular do Poder Executivo, José
Eduardo dos Santos, à época coordenador da Comissão de Inquérito, que não ouviu
nenhum dos acusados.
O
segundo é o jornalista, Orlando Castro – Chefe de Redacção -, acusado de dar
vazão ao clamor dos cidadãos de Cabinda, logo promotor da tese independentista.
Ledo
engano.
A
nossa missão é informar e abordar, quando questionados os temas com
frontalidade, fruto da manutenção da nossa independência individual. Estamos,
aliás, convictos de só a verdade pode curar, por muito dolorosa que seja. Não
somos, corrobore-se, responsáveis pelo facto de o Presidente José Eduardo dos
Santos preferir ser assassinado pelo elogio do que salvo pela crítica.
Os
assassinos, que nos ameaçam matar e atirar aos jacarés em 2015, fazem-no sempre
em português escorreito, atiram a pedra e escondem a pata. Normal, portanto. Há
muito que a cobardia assim funciona.
Como
o nosso compromisso sagrado é apenas com o que pensamos ser a verdade, a luta é
contínua e a (nossa) vitória será acertada, na democracia real, mesmo que
alguns tombem pelo caminho. Talvez de derrota em derrota até à vitória final.
Recordemos
agora e sempre Frei João Domingos quando afirmou que os políticos e governantes
angolanos só estão preocupados com os seus interesses, das suas famílias e dos
seus mais próximos.
“Não
nos podemos calar mesmo que nos custe a vida”, disse Frei João Domingos,
acrescentando “que muitos governantes que têm grandes carros, numerosas
amantes, muita riqueza roubada ao povo, são aparentemente reluzentes mas estão
podres por dentro”.
Por
tudo isso, Frei João Domingos sempre chamou a atenção dos angolanos, de todos
os angolanos, para não se calarem, para “que continuem a falar e a denunciar as
injustiças, para que este país seja diferente”.
Tendo
em conta a crise de valores em que o país se encontra, Frei João Domingos
sempre recomendou aos angolanos sem excepção para que pratiquem os valores que
Jesus Cristo recomenda: solidariedade, justiça, amor, honestidade, dedicação ao
outro, seriedade, paz, a vida, etc.
“O
Povo sofre e passa fome. Os países valem pelas pessoas e não pelos diamantes,
petróleo e outras riquezas”, dizia também Frei João Domingos.
O
nosso país continua a ser palco de violações dos direitos humanos, nomeadamente
contra todos aqueles que se atrevem a pensar de forma diferente do que está
estabelecido pelo regime.
São
muitos os relatos de violência, intimidação, assédio e detenções por agentes do
Estado de indivíduos alegadamente envolvidos em crimes contra a segurança do
Estado, ou seja, que pensam de forma diferente.
Por
tudo isto, o Folha 8 continua de pé perante os donos do poder em Angola,
aceitando – eventualmente – ficar de joelhos apenas perante Deus. É claro que,
segundo o regime, José Eduardo dos Santos é um “deus”, mas perante esse e os
seus capangas estaremos sempre de pé, por muitas e graves que sejam as ameaças.
Folha
8 Diário (ao)
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