Com
o encerramento do Angolense, um jornal tradicionalmente incómodo ao regime de
Angola, o Folha 8 teme que as ameaças e perseguição de que tem sido alvo subam
de tom.
Foi
com preocupação que William Tonet recebeu a notícia do encerramento do jornal
Angolense. Tonet teme que, agora, o regime angolano aperte ainda mais o cerco
ao jornal que dirige, o Folha 8. Segundo ele, existe uma clara ofensiva para
"tentar calar e sufocar" a publicação.
"Há
perseguição para, economicamente, nos criarem todas as dificuldades",
refere. "Há também uma perseguição capaz de nos levar às fedorentas
masmorras do regime, uma vez que tem em sua mão, e de forma manietada, o poder
judicial. E a outra forma, que é o assassinato. Temos tido vários assassinatos
de pessoas que o regime acha que a melhor forma de os calar é tirar-lhes o bem
sagrado que é a vida."
Ameaças
de morte
O
diretor do Folha 8 já foi alvo de 98 processosem tribunal. A 2 de janeiro, o jornal noticiou que
William Tonet voltou a ser ameaçado de morte. As ameaças terão subido de tom após uma entrevista em que Tonet dizia que
"Angola ganharia mais caso se tivesse efetivado um golpe de Estado,
liderado por Nito Alves". Segundo o artigo, outro dos visados em ameaças
foi o chefe de redação do Folha 8, Orlando Castro, que terá sido "acusado
de dar vazão ao clamor dos cidadãos de Cabinda".
"A
imprensa privada que, de facto, pretende dar voz a quem não a tem, está cada
vez mais reduzida na sua expressão e, dessa forma, não consegue mostrar a
verdade ou uma parte da verdade da realidade angolana", diz Castro.
Isolamento
O
jornalista luso-angolano também condena o fecho do jornal Angolense. Segundo
ele, o jornal Folha 8 fica assim mais isolado no panorama da imprensa angolana.
Castro acredita que, por trás do encerramento, estejam fundamentalmente motivos
políticos.
"Há
uma apetência especial do regime no sentido de controlar os órgãos de
comunicação social. Não lhes basta ter os que têm: o Jornal de Angola, a TPA, a
Rádio Nacional de Angola, a ANGOP. O regime sempre quis controlar os órgãos
privados." Orlando Castro refere ainda que teria o maior interesse numa
concorrência sã com outros órgãos privados para melhorar as condições de vida
dos angolanos. Mas, "estando sós, somos o último alvo que está no
horizonte dos 'snipers' do regime", diz.
Quem
são os donos do Angolense?
Segundo
Agostinho Rodrigues, ex-diretor de informação do jornal Angolense, os
jornalistas foram informados pelas chefias de que o jornal está a atravessar um
processo de reestruturação, tendo-se decidido, por isso, dispensar o pessoal.
Não terão sido avançados mais detalhes sobre o que levou à decisão. Rodrigues
refere também que não se sabe quem são os novos donos do Angolense.
A
secretária-geral do Sindicato dos Jornalistas de Angola, Luísa Rogério, garante
que já estão a ser tomadas medidas para se saber exatamente o que está por trás
do encerramento e para se averiguar quem são os donos do jornal.
"O
fecho do jornal e a ida para o desemprego de muitos jornalistas é realmente
algo que nos deixa profundamente entristecidos", comentou Luísa Rogério em
entrevista à DW África. "A morte de um jornal é sempre algo extremamente
desolador. É péssimo para o panorama mediático angolano."
Entretanto,
Orlando Castro, do jornal Folha 8, promete continuar a fazer o que tem feito
até aqui: "Enquanto nos for possível, continuaremos de pé a lutar, já que
nos recusamos a ficar de joelhos perante as injustiças que se notam todos os
dias no nosso país."
Guilherme
Correia da Silva – Deutsche Welle
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