Diogo
Vaz Pinto – jornal i
Com
o Syriza a liderar as sondagens a semanas das presidenciais, Berlim diz que
desta vez não vai evitar que os gregos se lancem no abismo
O
ABC da nova democracia proposta pela Alemanha aos restantes membros da zona
euro está a ser explicada novamente aos piores alunos da Europa: os gregos. A
primeira regra é que só há um caminho para o futuro e esse é o da austeridade.
A chanceler Angela Merkel quis assegurar-se de que os alunos na última fila
percebiam que não há margem para desvios, e sublinhou que se a Grécia escolher
um governo que desafie a lei da austeridade, desta vez o país será deixado à
sua sorte.
A
notícia avançada ontem pela revista alemã "Der Spiegel", cita fontes
junto do executivo de Merkel e reage a uma nova sondagem que coloca o Syriza na
frente a três semanas das eleições antecipadas na Grécia. O partido da
extrema-esquerda liderado por Alexis Tsipras insiste em reverter algumas das
reformas que lhe foram impostas pelos credores internacionais e garante que vai
renegociar o acordo de resgate.
O
artigo do "Der Spiegel" foi ecoado pela imprensa europeia como se se
tratasse de uma "radical mudança de opinião" ("El País")
por parte de Merkel quanto ao futuro dos helenos, mas nos últimos dias algumas
figuras ligadas ao governo alemão têm insistido que a Grécia perdeu importância
no bloco do euro, não existindo já o risco de uma crise sistémica. Tanto a
chanceler como o seu ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, estão confiantes
de que o bloco fez progressos suficientes desde que a crise do euro culminou em
2012, e por isso entendem que a saída da Grécia poderá ser conduzida sem novas
complicações. "O perigo de contágio é limitado pois se considera que
Portugal e Irlanda estão já reabilitados", adiantou à publicação alemã uma
fonte não identificada do governo.
Há
cinco anos, quando estalou a crise na Grécia que fez temer um contágio que, em
último caso, poderia representar o fim da zona euro, Merkel assumiu duas
decisões importantes numa altura em que as instituições europeias revelaram uma
total inabilidade de liderança a favor da União. Num tom categórico e que não
admitia discussões, disse que a Grécia iria continuar na zona euro e determinou
que os seus membros iriam adoptar uma drástica poupança e aumento das receitas
fiscais, um desígnio que apesar de toda a contestação continua a vigorar.
Mas
agora, com o Syriza na dianteira da corrida às presidenciais gregas do dia 25
de Janeiro, chegou a altura da cavalaria alemã entrar em cena para uma vez mais
esmagar a ameaça esquerdista e devolver o controlo da situação aos bons alunos.
A vantagem do partido de Tsipras não é muito significativa, e registou aliás
uma ligeira diminuição. Uma sondagem publicada ontem pelo diário grego
"Eleftheros Typos", coloca o Syriza com uma vantagem de 30,4% dos votos
contra os 27,1% dos conservadores no poder do Nova Democracia.
GREXIT Na
passada segunda-feira, Schäuble tinha já avisado a Grécia de que qualquer que
fosse o executivo a emergir das próximas eleições não lhe seria dado espaço
para se desobrigar das promessas feitas pelo actual executivo liderado por
Antonio Samaras. Entretanto, contemplando um cenário em que os gregos desta vez
não recuem no dia de ir às urnas, optando por uma via que ponha fim ao sufoco
em que têm vivido, Berlim mostrou a força das suas convicções avançando já com
o baptizado da eventual saída da Grécia do euro: "Grexit".
O
semanário alemão destacava também que a zona euro está agora apetrechada com o
fundo de resgate europeu, o chamado Mecanismo Europeu de Estabilidade, que é
tido como um "efectivo" meio de resgate que se encontra já disponível
para fazer frente a eventuais crises. Os grandes bancos, por sua vez, caem sob
a alçada da união bancária. Assim, "deixou de predominar em Berlim e
Bruxelas a teoria do efeito dominó que advertia para o perigo do fim da união
monetária, na queda de um dos seus membros". A fé europeia está hoje do
lado da chamada "teoria da cadeia", a ideia de que se o elo mais
fraco da cadeia cai, esta fica mais forte.
Para
o governo alemão, a expulsão grega pode mesmo tornar-se uma medida exemplar,
pois chegou à conclusão de que não pode ceder à pressão da Grécia se quer
manter na linha países como França e Itália. Numa altura em que há formações
como a Frente Nacional, de Marine Le Pen, o Movimento 5 Estrelas, de Beppe
Grillo, ou o Podemos, de Pablo Iglesias, que assumem preponderância na cena
política europeia, Berlim precisa ilustrar para a turma inteira os perigos de
pôr de lado as reformas que sancionou.
O
"Der Spiegel" adianta que Merkel está meio inclinada para ignorar a
ameaça que uma vez mais se ergue na Grécia contra as suas instruções. Na
quarta-feira, numa entrevista ao jornal alemão "Rheinische Post", um
membro do governo alemão, Michael Fuchs, disse que a Europa já não se sente
obrigada a salvar a Grécia e que os políticos helenos perderam a margem para
exercer "chantagem" sobre os seus parceiros no bloco monetário.
Como
quem não quer a coisa, Berlim tem agora duas mensagens, uma velha e uma nova. A
velha é de que se os gregos decidirem tomar as rédeas do seu destino, podem
fazê-lo mas vão achá-lo no abismo. A nova é de que já não há vários pesos e
medidas na zona euro; ou os seus membros seguem a Alemanha ou mais vale ir cada
um à sua vida.
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