Isabel
Moreira – Expresso, opinião
Nada
mais consentâneo com o ano novo do que um discurso fúnebre. Cavaco quer uma
democracia "clara e mais esclarecedora". "Transparente",
como ele.
Cavaco
recusa o populismo, faz pedagogia através da "força do exemplo", como
o dele, que preferiu a reforma ao salário de presidente.
Diz
que há que ser cuidadoso com as promessas feitas. Rejeita facilidades. Recorda
a disciplina orçamental. Não quer regredir a 2011 - imagina-se que está feliz
com 2014 - e, sem demagogia, incita "o combate à corrupção".
Recorda
coisas ótimas como a "diminuição do desemprego", existente na cabeça
dele e, mais importante, quer "consenso". Interpela os agentes
políticos a construírem apenas soluções estáveis.
Eis
um democrata.
O
homem que governou em minoria e com duas maiorias absolutas; o homem que foi
presidente com um governo minoritário relativamente ao qual fomentou a
instabilidade política rasca, com episódios inesquecíveis como a inventona de
belém; e o homem que foi presidente de um governo maioritário pós-eleitoral,
que apadrinhou, mesmo contra a Constituição.
A
grande novidade de mais um discurso neutro foi precisamente apelar a um
compromisso custe o que custar.
Pergunta-se
então: por que raio, estão, não convocou eleições antecipadas? Porque Cavaco
não é autêntico, nunca foi.
Cavaco
está no seu último discurso em plenitude de funções. E com a fraqueza da sua
legitimidade esmaga a vontade popular e atreve-se a indicar coligações
pré-eleitorais ou pós-eleitorais.
O
povo é que decide quem governa, coisa difícil de explicar a um Cavaco que acha
por bem explicar como deve ser o próximo governo.
Cavaco,
felizmente, não se substitui ao povo. Menos ainda quando depois das eleições
terá a sua legitimidade formal e substancial restringida.
E
não venha Cavaco rejeitar a discussão acerca das eleições antecipadas. Foi ele
que introduziu o tema, e estamos recordados disso.
E
o que é o consenso? Havendo um Partido com maioria absoluta que consenso quer
Cavaco?
Havendo
um Governo de minoria, qual é exatamente o drama?
Cavaco,
no seu discurso, espelha a falta da sua própria exemplaridade.
Eu
recordo-me de um prefácio de Cavaco em que os constrangimentos não eram
suficientes para nos travar.
Aqui,
Cavaco apresenta-se derrotado, um homem a dar um conselho: resignem-se.
Eis
o PR com menos popularidade da nossa história.
Não
o seguiremos.
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