Díli,
23 jan (Lusa) - Recuperar o crédito malparado é um processo complicado em
Timor-Leste devido à ausência de legislação, à dificuldade de acesso a bens
penhoráveis e aos problemas do setor da justiça, disse à Lusa o responsável do
BNU em Timor-Leste.
"Temos
100 processos de crédito em tribunal há mais de um ano e a eficácia é zero. Já
ganhámos a ação declarativa. Quando se passa para a executiva o juiz diz:
indiquem-me bens para a penhora. E eu fico a olhar para ele", comentou
Fernando Torrão Alves, diretor geral do BNU em Timor-Leste, sucursal da Caixa Geral
de Depósitos.
Falta
de garantias, de lei de hipotecas ou outros instrumentos agrava um problema
que, por vezes, é ainda maior pela forma como os negócios são feitos no país.
"Em
alguma gama de clientes temos vindo a fazer operações de grande volume. Não
podemos é cometer loucuras que se fizeram no passado", explica.
Torrão
Alves explica que o BNU chega ao ponto de auxiliar clientes a organizar a sua
contabilidade sendo que muitas empresas "não refletem na sua conta à ordem
o seu movimento comercial".
Em
Timor-Leste, disse, mesmo no comércio externo, há muito "negócio em cash,
fora do sistema financeiro, no sistema informal" o que agrava a
dificuldade em avaliar risco.
"Muitos
empresários timorenses têm a sua conta pessoal ou empresas que constituíram na
Indonésia, por exemplo, para onde fazem transferência da sua conta aqui. Há
grande parte dos negócios que passa por um sistema mais informal",
explicou.
Torrão
Alves admite que o contexto de Timor-Leste condiciona a análise da direção de
risco da CGD que olha "para os ratings do pais, para o risco pais - Timor
está no último terço mundial - para a ausência de garantias e para o histórico,
e torna-se muito conservadora".
"Ainda
assim eu acho que é muito conservadora. Deveríamos aligeirar já as coisas. O
que temos feito é atuar de forma menos conservadora para uma gama muito
restrita de clientes", disse.
Segundo
Torrão Alves, a lista de incumpridores no BNU inclui clientes financiados no
passado e que hoje estão entre algumas individualidades destacadas da sociedade
e da vida política timorense.
"Ainda
hoje andamos atrás de clientes que passam pelo banco todos os dias de carro e
que fazem de conta que o edifício nem existe", disse à Lusa Fernando
Torrão Alves.
"Do
conjunto de clientes incumpridores também há personalidades destacadas da
sociedade. São empréstimos mais antigos, a pessoas em quem o banco
acreditou", explicou.
Torrão
Alves explicou à Lusa que a taxa de incumprimento nos créditos concedidos pelo
banco até 2010 foi de 50% e que nos créditos concedidos desde aí a taxa de
incumprimento "está abaixo dos 3%".
ASP
// PJA
Sem comentários:
Enviar um comentário