sábado, 14 de fevereiro de 2015

Angola: 800 MILHÕES DE DÓLARES DO BESA FORAM PARA A IRMÃ DO PRESIDENTE



Folha 8 Digital (ao) - 13 fevereiro 2015

Marta dos Santos é, seria, uma das deve­doras a quem o BES Angola (BESA) “per­deu o rasto”, garante Pau­lo Morais, da Associação Transparência e Integrida­de. Tudo normal, segundo as regras de um Estado de Direito que Angola não é.

A Associação Transparên­cia e Integridade assegura que não é difícil perceber quem são os destinatários dos empréstimos concedi­dos pelo BESA, e a que o banco alegadamente per­deu o rasto.

No passado dia 10.02, Rui Guerra, o ex-Presidente do BESA, disse aos deputados portugueses da Comissão Parlamentar que investiga o caso BES, que o banco não foi capaz de identi­ficar os beneficiários de muitos dos empréstimos concedidos pela instituição e que estes já estavam em incumprimento antes de o Estado angolano conceder uma garantia. Em causa podem estar mais de 5,7 mil milhões de euros.

Mas Paulo Morais, vice­-presidente da Associação Transparência e Integrida­de, contesta os argumentos de Rui Guerra e acrescenta que tem documentos ca­pazes de contrariar o ex­-banqueiro.

“Nessa lista de emprés­timos estava, à cabeça, a Marta dos Santos, irmã do presidente José Eduardo dos Santos, que teve um crédito de 800 milhões de dólares, para desenvolver em Talatona um projecto imobiliário, curiosamente em parceria com o empre­sário português José Gui­lherme, o tal que deu os 14 milhões a Ricardo Salga­do.”

“Só no Comité Central do MPLA houve todo um con­junto de personalidades, como Roberto de Almeida, Maria Mambo Café e Fer­reira Pinto, entre outros, que receberam 10 milhões de dólares para desenvol­ver os projectos que bem entendessem, sem terem de prestar quaisquer ga­rantias ao banco”, acres­centa.

Paulo Morais disse à Rádio Renascença que muitos dos investimentos ango­lanos em Portugal foram feitos com esse dinheiro emprestado pelo BES An­gola: “Há um aspecto ainda mais perverso. Muitos dos investimentos que a elite angolana fez em Portugal, que foram vendidos como sendo dinheiro angolano que vinha para Portugal, de facto não era. Era di­nheiro dos depositantes do BES, disponibilizada à elite angolana para adquirir em Portugal propriedades, imobiliário. Os próprios filhos de José Eduardo dos Santos têm uma proprie­dade em Aveiras de Cima, que adquiriram com crédi­to do BES, mas isto multi­plicou-se por todo o país.”

Paulo Morais lamenta que nada esteja a ser feito em Portugal em relação a esta situação.

“O que é incompreensível é como o Estado português não faz exercer os seus direitos, desde logo con­fiscando as propriedades compradas com este tipo de empréstimos. Relativa­mente aos empréstimos utilizados em território angolano, é evidente que a situação é mais difícil, mas dadas as óptimas relações que existem entre os dois Governos, teria de haver uma manobra diplomática para recuperar esses mi­lhares de milhões de eu­ros, que neste momento representam um prejuízo no BES e no Novo Banco, e que teriam de ser recu­perados”, diz Paulo Morais.

O Vice-Presidente da As­sociação Transparência e Integridade considera pou­co plausível o argumento do ex-presidente do BESA, que diz não ser possível identificar os destinatários dos empréstimos concedi­dos pelo banco. Em causa podem estar mais de 5,7 mil milhões de euros que o BESA nunca recuperou.

Perante estas afirmações, o PS pediu a Paulo Morais a lista de destinatários dos empréstimos concedidos pelo BESA. O PSD pede a mesma coisa.

Ao que parece, o elefante está a passear no meio da loja de porcelanas. Vai tudo ficar em cacos.

“Os deputados do grupo parlamentar do PS vêm requerer a Paulo Morais que disponibilize os docu­mentos que diz ter em sua posse sobre este tema”, afirma o PS em documento enviado ao presidente da Comissão de Inquérito à gestão do BES e do Grupo Espírito Santo (GES), Fer­nando Negrão.

COLÉGIO MAIS CARO DE ANGOLA É, POIS CLARO, DE MARTA DOS SANTOS

A irmã do Presidente da República, Marta dos Santos tenta justificar um dos caminhos por onde trilharam os mais de 800 milhões de dólares, saca­dos do BESA, como em­prétimo, mas que por ser irmã de quem é, vai ficar por isso mesmo, com a construção de um colégio, onde as propinas são altís­simas. Assim serão, uma vez mais e como sempre, os pobres angolanos a ter de pagar aquela divída, que, para já, o mano, já ordenou uma cobertura, para que ninguém pague.

E dentro desta lógica, de governar para a elite rica, Marta dos Santos abriu, no dia 05 de Janeiro, uma instituição de ensino, de­nominada, Colégio Ango­lano de Talatona, na zona com o mesmo nome, com capacidade para acolher 1075 alunos, do ensino pré­-escolar até à 12.ª classe.

O empreendimento está orçado em mais de USD 23 milhões de dólares e diz garantir o emprego de 112 postos de trabalho, sendo 48 para docentes a tempo integral, à maioria é es­trangeira, nomeadamente portuguesa e uns poucos ingleses e brasileiros, sete docentes a tempo parcial, 10 para estagiários e igual número de auxiliaries, para além de 37 vagas para não docentes.

Por aqui se vê e identifica o segmento privilegiado, de um projecto que arran­ca numa ampla área, onde está implantada, nesta pri­meira fase o edifício cen­tral, que comporta 43 salas de aulas, totalmente, equi­padas com computado­res, projectores e quadros electrónicos. A estrutura suporta ainda, seis labora­tórios: de Biologia, Geolo­gia, Física, Química e dois de língua inglesa.

Infelizmente, no caso de empreendedores comple­xados, não existe nenhum laboratório de língua ango­lana, sendo as eleitas duas estrangeiras: português e inglês. A instituição está ainda apetrehada com duas salas de formação infor­mática, três de expressão artística, musical e drama­turgica; três espaços para reuniões com pais e encar­regados de educação; um pavilhão gimnodesportivo multiuso, ginásios e espaços desportivos polivalentes ao ar livre; uma mediateca, com mais de dois mil livros, em português e inglês, para além de computadores para acesso controlado à In­ternet; um anfiteatro; dois refeitórios, uma cafetaria e uma enfermaria, para os primeiros socorros.

“Infelizmente, quem vai nesse colégio serão os ga­tunos e corruptos do gover­no, que dinheiro não lhes custa”, disse ao F8, Manuel José, caricatamente, fazen­do questão de dizer: ”só membro do MPLA, mas não pactuo com muitas destas roubalheiras, que por ve­zes mancham a imagem do partido, pois nem todos os militantes são gatunos e corruptos”. Os alunos do pré – escolar, equivalente à crèche, têm como obri­gação, proceder a uma ins­crição inicial e matrícula, de USD 900,00 (novecentos dólares) e uma mensalidade de USD 1.300,00 (mil e tre­zentos dólares).

Os do 2.º ciclo, para fran­quearem as portas da insti­tuição de uma das empresá­rias, feita rica, pelo regime do irmão, têm de pagar USD 1000,00 ou equivalen­te em kwanzas, para ins­crição inicial e matrículas, sendo a propina mensal de USD 1650,00 (mil, seiscen­tos e cinquenta dólares).

E para ajudar a mostrar que os ricos podem tudo e que a Fiscalização da Polícia económica e não só, nem ousa passar por perto, para questioner as razões das fardas, obrigatoriamen­te fornecidas pelo colégio custarão USD 750.00 (sete­centos e cinquenta dólares), um preço exorbitante, pois corresponde a dois salários mínimos.

Num comunicado divulga­do aquando da sua inaugu­ração, a promotora, garan­te que a grade curricular contará com o concurso da Cambridge International Examinations. “O inglês e a prática informática cons­tarão dos programas esco­lares desde o início dos es­tudos, pretendendo-se uma evolução progressiva e a sua completa fluência e uti­lização ao nível do ensino secundário”, lê-se na nota a que F8 teve acesso.

Mais a frente lê-se que “o Colégio Angolano de Tala­tona assume-se como um projecto que tem como pri­meiro objectivo constituir­-se numa alternativa a to­dos aqueles que procuram qualidade de ensino fora de Angola. Correspondendo assim à necessidade e de­sejo de muitas famílias, [a escola] será, a curto prazo, uma referência no sector educativo”.

E assim, a irmã feita com­pulsivamente, empresária, dá vivas a falência do BESA e a corrupção institucional, que lhe permite ficar com dinheiro de outros a custo zero.


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