Folha
8 Digital (ao) - 13 fevereiro 2015
Marta
dos Santos é, seria, uma das devedoras a quem o BES Angola (BESA) “perdeu o
rasto”, garante Paulo Morais, da Associação Transparência e Integridade. Tudo
normal, segundo as regras de um Estado de Direito que Angola não é.
A
Associação Transparência e Integridade assegura que não é difícil perceber
quem são os destinatários dos empréstimos concedidos pelo BESA, e a que o
banco alegadamente perdeu o rasto.
No
passado dia 10.02, Rui Guerra, o ex-Presidente do BESA, disse aos deputados
portugueses da Comissão Parlamentar que investiga o caso BES, que o banco não
foi capaz de identificar os beneficiários de muitos dos empréstimos concedidos
pela instituição e que estes já estavam em incumprimento antes de o Estado
angolano conceder uma garantia. Em causa podem estar mais de 5,7 mil milhões de
euros.
Mas
Paulo Morais, vice-presidente da Associação Transparência e Integridade,
contesta os argumentos de Rui Guerra e acrescenta que tem documentos capazes
de contrariar o ex-banqueiro.
“Nessa
lista de empréstimos estava, à cabeça, a Marta dos Santos, irmã do presidente
José Eduardo dos Santos, que teve um crédito de 800 milhões de dólares, para
desenvolver em Talatona um projecto imobiliário, curiosamente em parceria com o
empresário português José Guilherme, o tal que deu os 14 milhões a Ricardo
Salgado.”
“Só
no Comité Central do MPLA houve todo um conjunto de personalidades, como
Roberto de Almeida, Maria Mambo Café e Ferreira Pinto, entre outros, que
receberam 10 milhões de dólares para desenvolver os projectos que bem
entendessem, sem terem de prestar quaisquer garantias ao banco”, acrescenta.
Paulo
Morais disse à Rádio Renascença que muitos dos investimentos angolanos em
Portugal foram feitos com esse dinheiro emprestado pelo BES Angola: “Há um
aspecto ainda mais perverso. Muitos dos investimentos que a elite angolana fez
em Portugal, que foram vendidos como sendo dinheiro angolano que vinha para
Portugal, de facto não era. Era dinheiro dos depositantes do BES,
disponibilizada à elite angolana para adquirir em Portugal propriedades,
imobiliário. Os próprios filhos de José Eduardo dos Santos têm uma propriedade
em Aveiras de Cima, que adquiriram com crédito do BES, mas isto multiplicou-se
por todo o país.”
Paulo
Morais lamenta que nada esteja a ser feito em Portugal em relação a esta
situação.
“O
que é incompreensível é como o Estado português não faz exercer os seus
direitos, desde logo confiscando as propriedades compradas com este tipo de
empréstimos. Relativamente aos empréstimos utilizados em território angolano,
é evidente que a situação é mais difícil, mas dadas as óptimas relações que
existem entre os dois Governos, teria de haver uma manobra diplomática para
recuperar esses milhares de milhões de euros, que neste momento representam
um prejuízo no BES e no Novo Banco, e que teriam de ser recuperados”, diz
Paulo Morais.
O
Vice-Presidente da Associação Transparência e Integridade considera pouco
plausível o argumento do ex-presidente do BESA, que diz não ser possível
identificar os destinatários dos empréstimos concedidos pelo banco. Em causa
podem estar mais de 5,7 mil milhões de euros que o BESA nunca recuperou.
Perante
estas afirmações, o PS pediu a Paulo Morais a lista de destinatários dos
empréstimos concedidos pelo BESA. O PSD pede a mesma coisa.
Ao
que parece, o elefante está a passear no meio da loja de porcelanas. Vai tudo
ficar em cacos.
“Os
deputados do grupo parlamentar do PS vêm requerer a Paulo Morais que
disponibilize os documentos que diz ter em sua posse sobre este tema”, afirma
o PS em documento enviado ao presidente da Comissão de Inquérito à gestão do
BES e do Grupo Espírito Santo (GES), Fernando Negrão.
COLÉGIO
MAIS CARO DE ANGOLA É, POIS CLARO, DE MARTA DOS SANTOS
A
irmã do Presidente da República, Marta dos Santos tenta justificar um dos
caminhos por onde trilharam os mais de 800 milhões de dólares, sacados do
BESA, como emprétimo, mas que por ser irmã de quem é, vai ficar por isso
mesmo, com a construção de um colégio, onde as propinas são altíssimas. Assim
serão, uma vez mais e como sempre, os pobres angolanos a ter de pagar aquela
divída, que, para já, o mano, já ordenou uma cobertura, para que ninguém pague.
E
dentro desta lógica, de governar para a elite rica, Marta dos Santos abriu, no
dia 05 de Janeiro, uma instituição de ensino, denominada, Colégio Angolano de
Talatona, na zona com o mesmo nome, com capacidade para acolher 1075 alunos, do
ensino pré-escolar até à 12.ª classe.
O
empreendimento está orçado em mais de USD 23 milhões de dólares e diz garantir
o emprego de 112 postos de trabalho, sendo 48 para docentes a tempo integral, à
maioria é estrangeira, nomeadamente portuguesa e uns poucos ingleses e
brasileiros, sete docentes a tempo parcial, 10 para estagiários e igual número
de auxiliaries, para além de 37 vagas para não docentes.
Por
aqui se vê e identifica o segmento privilegiado, de um projecto que arranca
numa ampla área, onde está implantada, nesta primeira fase o edifício central,
que comporta 43 salas de aulas, totalmente, equipadas com computadores,
projectores e quadros electrónicos. A estrutura suporta ainda, seis laboratórios:
de Biologia, Geologia, Física, Química e dois de língua inglesa.
Infelizmente,
no caso de empreendedores complexados, não existe nenhum laboratório de língua
angolana, sendo as eleitas duas estrangeiras: português e inglês. A
instituição está ainda apetrehada com duas salas de formação informática, três
de expressão artística, musical e dramaturgica; três espaços para reuniões com
pais e encarregados de educação; um pavilhão gimnodesportivo multiuso,
ginásios e espaços desportivos polivalentes ao ar livre; uma mediateca, com
mais de dois mil livros, em português e inglês, para além de computadores para
acesso controlado à Internet; um anfiteatro; dois refeitórios, uma cafetaria e
uma enfermaria, para os primeiros socorros.
“Infelizmente,
quem vai nesse colégio serão os gatunos e corruptos do governo, que dinheiro
não lhes custa”, disse ao F8, Manuel José, caricatamente, fazendo questão de
dizer: ”só membro do MPLA, mas não pactuo com muitas destas roubalheiras, que
por vezes mancham a imagem do partido, pois nem todos os militantes são
gatunos e corruptos”. Os alunos do pré – escolar, equivalente à crèche, têm
como obrigação, proceder a uma inscrição inicial e matrícula, de USD 900,00
(novecentos dólares) e uma mensalidade de USD 1.300,00 (mil e trezentos
dólares).
Os
do 2.º ciclo, para franquearem as portas da instituição de uma das empresárias,
feita rica, pelo regime do irmão, têm de pagar USD 1000,00 ou equivalente em
kwanzas, para inscrição inicial e matrículas, sendo a propina mensal de USD
1650,00 (mil, seiscentos e cinquenta dólares).
E
para ajudar a mostrar que os ricos podem tudo e que a Fiscalização da Polícia
económica e não só, nem ousa passar por perto, para questioner as razões das
fardas, obrigatoriamente fornecidas pelo colégio custarão USD 750.00 (setecentos
e cinquenta dólares), um preço exorbitante, pois corresponde a dois salários mínimos.
Num
comunicado divulgado aquando da sua inauguração, a promotora, garante que a
grade curricular contará com o concurso da Cambridge International
Examinations. “O inglês e a prática informática constarão dos programas escolares
desde o início dos estudos, pretendendo-se uma evolução progressiva e a sua
completa fluência e utilização ao nível do ensino secundário”, lê-se na nota a
que F8 teve acesso.
Mais
a frente lê-se que “o Colégio Angolano de Talatona assume-se como um projecto
que tem como primeiro objectivo constituir-se numa alternativa a todos aqueles
que procuram qualidade de ensino fora de Angola. Correspondendo assim à
necessidade e desejo de muitas famílias, [a escola] será, a curto prazo, uma
referência no sector educativo”.
E
assim, a irmã feita compulsivamente, empresária, dá vivas a falência do BESA e
a corrupção institucional, que lhe permite ficar com dinheiro de outros a custo
zero.
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