Díli,
11 fev (Lusa) - O comunicado do Presidente da República timorense com o elenco
do próximo Governo coloca Rui Araújo, primeiro-ministro, à cabeça, e no final
da lista quem muitos dizem poderá continuar a ter a última palavra: Xanana
Gusmão.
Primeiro-ministro
demissionário, Xanana Gusmão deixa o comando do executivo mas a sua influência,
quer no Governo quer no país, vai continuar a fazer-se sentir.
O
cargo é amplo - ministro do Planeamento e Investimento Estratégico - e o seu
mandato - faltando ainda conhecer a lei orgânica da pasta que tutela - é de
importância crucial para Timor-Leste nos próximos anos.
O
Plano de Desenvolvimento é um elemento central quer do programa do V Governo,
que agora termina, como do próximo, que começa segunda-feira e por isso a
influência sobre as linhas mestras da política governativa permanece nas mãos
de Xanana Gusmão.
E
com elas a condução de grande parte do investimento público nos próximos anos
num país que continua a ter 90% do seu PIB dependente do Orçamento de Estado e
grande parte da economia a viver da obra pública e dos salários dos
funcionários públicos.
Rui
Araújo é o homem das finanças públicas - pelo menos do seu conhecimento
técnico, como o próprio Xanana Gusmão explicou na carta em que justificou aos
partidos a escolha do seu sucessor - mas o ainda primeiro-ministro
demissionário é o homem forte da política.
O
próprio elenco governativo é demonstrativo da estratégia com que Xanana Gusmão
conduziu as negociações para o que Rui Araújo definiu hoje como "um governo
de unidade nacional". Sem que formalmente o seja.
Na
prática conseguiu manter no seio do executivo membros de todos os partidos com
representação parlamentar - o Orçamento de Estado já era aprovado há três anos
com consenso - incluindo da que era, até aqui, a oposição da Fretilin (Frente
Revolucionária do Timor-Leste Independente).
A
direção do partido insiste que esta configuração não marca a entrada da
Fretilin, que os convites aos elementos do partido que estão no Governo são
individuais mas, para o exterior, é difícil conseguir que essa mensagem seja
aceite por todos.
Até
porque além do primeiro-ministro estão da Fretilin no Governo outros nomes
sonantes.
Estanislau
da Silva acumula o cargo de ministro de Estado Coordenador dos Assuntos
Económicos com o de ministro da Agricultura e Pescas, Hernâni Coelho assume o
comando no Ministério dos Negócios Estrangeiros (onde substitui José Luis
Guterres, que é líder da Frente Mudança, um dos três partidos que estava na
coligação do Governo anterior) e Inácio Moreira, deputado, vai ocupar o cargo
de vice-ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações.
Timor-Leste
testa mais um modelo, com um Governo que une talentos partidários e vozes
outrora concorrentes e onde pelo menos cinco elementos - um primeiro-ministro e
quatro ministros de Estado - têm, pelo menos no organigrama, mais poder que o
antigo chefe.
ASP
// PJA
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